Os rios do município de Bonito aprensentam situação instável e estão suscetíveis ao turvamento das águas devido à ação da chuva e agricultura predatória. O cenário se agravou após chuvas intensas registradas em dezembro de 2018. Segundo a Secretaria Municipal de Turismo de Bonito (Sectur) a degradação ambiental reflete nas regiões naturais e na economia local. O boletim divulgado no segundo trimestre deste ano pelo Observatório do Turismo de Mato Grosso do Sul mostrou que Bonito atrai em média 200 mil turistas e é o destino mais procurado em Mato Grosso do Sul.
Passeios turísticos foram cancelados em 2018 devido ao turvamento das águas, que impediram visitação de turistas em áreas naturais como o Rio da Prata e o Rio Formoso, que banha o Balneário Municipal de Bonito. No início deste ano o cenário se repetiu e fez com que profissionais do turismo em Bonito criassem o Instituto de Desenvolvimento de Bonito (IDB), com objetivo de promover ações para a preservação ambiental e promoção do turismo na cidade. Segundo dados do IDB, cerca de 70% dos empregos da cidade estão relacionados ao turismo.
A secretária executiva do IDB, Gina Tolfo Félix enfatiza que o turismo na cidade diminuiu nos últimos seis anos, e que estratégias que atraíssem turistas foram necessárias . “Bonito sempre teve a ideia que nunca precisou de marketing, porque se autopromove”. Gina Tolfo Félix ressalta que a população busca a preservação ambiental. “Nós que moramos aqui temos cuidado ambiental ao ecoturismo. Temos vários projetos sustentáveis para que daqui 30 anos continue do jeito que está”.
O Instituto contribuiu para que a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) fiscalizasse as áreas cultivadas nas proximidades da cidade, que devem cumprir com a Lei 1.871 , apelidada de "Lei das águas cristalinas". “Demos gasolina para o pessoal fazer fiscalização nas fazendas e checar todas a estruturas, para quando chover não acontecer o que aconteceu”. Ela explica que tensionamentos ocorreram com proprietários de terra cujas áreas possuem pontos turísticos, e ressalta que o turismo é o que mais gera empregos e movimenta a economia na região. “Todos os atrativos estão dentro de propriedades privadas com agricultura ou pecuária, já tiveram brigas muito grandes, mas estamos mostrando que podemos trabalhar junto, principalmente depois do incidente [das chuvas de 2018]”.
Gina Tolfo Félix ressalta que prever como as próximas chuvas afetarão o turismo local é díficil. “O rio sempre turvou, mas pouco. A força da natureza não tem como prever, mas estamos trabalhando para que pelo menos não seja como foi como no último período que aconteceu”.
O professor e pesquisador em Ecologia da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp), José Sabino explica que a degradação ambiental afeta o ecoturismo da cidade, rica em biodiversidade e águas cristalinas. “A água transparente, por conta da formação de um solo muito antigo de calcário, fez com que fosse estabelecida ao longo dos últimos 30 anos uma capacidade, pelo menos até agora, que houvesse uma operação turística mesmo com a agricultura e pecuária”.
Sabino ressalta que as áreas desmatadas utilizadas para agricultura cresceram exponencialmente desde 2010, o que prejudicou a natureza. “Com a valorização da soja nos últimos anos, houve uma mudança no uso do solo. Eram cerca de 50 mil hectares de pasto bem consolidado, com boa estrutura de solo, mas que foram rapidamente convertidos para uso de agricultura”. Para ele, fazer os agricultores obedecerem à legislação e às boas práticas de conservação é um problema.
O professor relata que a falta de fiscalização das matas-ciliares, responsáveis por proteger os rios, é prejudicial para a preservação e para a vida dos peixes. “O código florestal exige, dependendo da largura dos rios, uma mata-ciliar de 50 metros de cada lado. A ‘Lei das águas cristalinas’ sugere uma mata-ciliar de 150 metros aplicada na Bacia do Formoso e Bacia do Rio da Prata, mas ela nunca foi obedecida”.
Sabino ressalta que o aumento da temperatura média no planeta afeta diretamente a ação das chuvas em Bonito, que faz parte de uma região de extremos climáticos. “A ciência não duvida que o clima do planeta está mudando. Aquecemos nos últimos 200 anos, 1,1 grau Celsius em média”. Segundo Sabino, o total de chuva em milímetros permanece o mesmo, de forma mais concentrada. "São menos dias de chuva ao longo do ano, mas que fazem um estrago muito maior do que várias chuvas moderadas espalhadas num mesmo período”.