A organização não governamental Ecologia e Ação (ECOA) desenvolveu o Sistema de Monitoramento, Comunicação e Alerta por meio do Projeto “Prevenção, mitigação e adaptação para as comunidades Pantaneiras frente aos eventos climáticos extremos”, com o apoio do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) , do Ministério da Justiça e da Secretaria Nacional do Consumidor (SENACON). A ferramenta alerta a comunidade ribeirinha do Pantanal sobre as épocas de cheia e seca na região. O projeto objetiva diminuir os impactos ocasionados por eventos climáticos extremos na planície pantaneira. Os alertas são emitidos por mensagens via celular e pela rádio Difusora Pantanal de Corumbá. O dispositivo também emite boletins diários para consulta da previsão hidrológica nos principais rios da Bacia do Alto Rio Paraguai.
(Foto: Heloísa Carvalho)
O Sistema de Monitoramento, Comunicação e Alerta gera notificações com base em bancos de dados automatizados que informam a comunidade ribeirinha do Pantanal sobre a cota dos rios, previsões de cheias e inundações. A socióloga Nathalia Ziolkowski, colaboradora do projeto, explica que o sistema é uma necessidade emergencial para essa comunidade. “O trabalho desenvolvido pela Ecoa junto a comunidades pantaneiras permitiu diagnosticar a importância do acesso às informações sobre o nível dos rios e sobre os eventos climáticos, como medida preventiva às grandes cheias e secas que formam o ciclo natural das águas, para que desta forma as pessoas tenham tempo de salvar suas plantações e criação de animais”.
O monitoramento é feito por meio da coleta de dados disponibilizados pela Agência Nacional das Águas (ANA), pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Pantanal. Nathalia Ziolkowski comenta que antes do Sistema as comunidades ribeirinhas desenvolviam os próprios mecanismos de monitoramento dos eventos climáticos por marcação manual, e que devido à degradação do meio ambiente, os órgãos oficiais passaram a ser responsáveis por essas marcações. “As próprias comunidades marcavam o nível da água nos muros e alicerces das casas de palafita para comparar o nível do rio em diferentes anos, compreendendo melhor os ciclos das águas. Hoje, há certa dificuldade, pois, as mudanças climáticas e o alto índice de interferência das ações humanas têm contribuído para alguns efeitos negativos, como grandes enchentes que chegam de repente”.
O projeto atende 50 comunidades da Bacia do Alto Paraguai que envolve o Pantanal do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A jornalista da Ecoa e consultora do projeto, Iasmin Amiden informa que mais de 100 alertas foram emitidos só neste ano.
Em Mato Grosso do Sul a cheia atingiu vinte e um municípios e muitas regiões do Pantanal estão ilhadas. Animais são remanejados em balsas ou até mesmo na travessia dos rios em busca de pasto seco. Em muitas regiões, os ribeirinhos tiveram que abandonar suas casas invadidas pelas enchentes. O pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani afirma que vários pontos ao longo dos rios Paraguai, Miranda, Cuiabá, Taquari e São Lourenço estão com o nível acima da média. Padovani esclarece que o rio Paraguai começou o período de cheia, esperado para março e abril, com todos os níveis acima da média. “A realidade desse ano é que além do rio Paraguai começar a época de cheia com o nível da água acima da média, nós também estamos com muita chuva em toda a bacia, o que faz com que os rios tributários tragam ainda mais água”.
A doutora em Biologia, Alexandra Penedo de Pinho ressalta que as chuvas são importantes para o meio ambiente,e que as fortes chuvas são prejudiciais, principalmente em ambientes rurais degradados. “Se o ambiente o rural não tem mata ciliar, a chuva forte vai infiltrar menos e a pouca água infiltrada forma escoamento superficial e leva para o rio, o que acarreta nas enchentes. Se o rio sobe muito rápido, transborda. E esse transbordamento não é legal, pois carrega um monte de poluentes junto ao sedimento e acelera o assoreamento no local”.