MEIO AMBIENTE

Borra de café é utilizada como fertilizante agrícola

A pesquisa sobre o resíduo do café foi realizada em parceria entre a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Uniderp

JOSÉ CÂMARA, MARIANA MOREIRA E RAFAELA MOREIRA19/10/2019 - 22h15
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Projeto de ensino que propõe a utilização da borra de café como fertilizante natural foi desenvolvido em parceria entre a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Anhanguera-Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal  (Anhanguera-Uniderp). A pesquisa mostra que o resíduo orgânico do café é utilizável como fertilizante em hortas familiares. Sementes de alface alba foram cultivadas e adubadas para teste com fertilizante da borra do café demonstraram que houve um crescimento significativo com o uso do resíduo.

Folhas de papel mata-borrão foram usadas em quatro porcentagens diferentes de borra de café, com 2,5%, 7,5%, 15% e 30% e outra sem adição do resíduo orgânico, para que a análise fosse comparativa. O projeto estudou a germinação e o crescimento das sementes. Os resultados apontaram que as semestes germinadas na concentração de 30% cresceram mais rápido do que as demais. 

A pesquisa foi coordenada pelo professor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng) e do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais (PGRN), Alexandre Meira de Vasconcelos. O estudo teve a parceria de pesquisadores da pós-graduação em Produção Gestão Agroindustrial da Anhanguera-Uniderp, coordenado pela professora Denise Pedrinho. Os pesquisadores da UFMS foram responsáveis pelas métricas estatísticas desenvolvidas ao longo da pesquisa e a Anhaguera-Uniderp por ceder os laboratórios para análise.

O professor optou por utilizar a borra de café como fertilizante, resíduo orgânico que é simplesmente descartado. Para Vasconcelos, há alguns mitos que envolvem a borra do café, para desvendar eles iniciou a pesquisa. “Dentro dessa ideia que aparece o resíduo de café, que é um resíduo usado todo dia, bastante abundante nas casas brasileiras. As pessoas falam para não jogar borra de café no lixo, para jogar nas plantas”. 

Borra de café como fertilizante agrícola

O objetivo da pesquisa foi avaliar a borra do café como substrato orgânico na germinação de sementes de alface e na produção de mudas da hortaliça. Os resíduos da borra de café possuem constituintes como os ácidos fenólicos que contribuem para melhorar a qualidade do solo por meio de trocas catiônicas com a superfície, que possibilita maior valor nutricional da terra. A professora Denise Pedrinho ressalta que fertilizantes sustentáveis são importantes e necessários nas produções agrícolas. “A princípio o reaproveitamento será para evitar um resíduo descartado no lixo comum, e consequentemente, melhorar a produção de plantas. Mas para isso precisamos identificar a quantidade correta da borra para esse substrato e para essa finalidade, pois o excesso pode ser prejudicial”. 

A engenheira de produção Cíntia Fudo foi uma das acadêmicas responsáveis pelo estudo no período em que estava na faculdade. O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da engenheira foi baseado nos levantamentos feitos pela pesquisa, na época como estudante, ela participou do projeto de ensino. “A pesquisa estava bastante relacionada a temas abordados dentro da engenharia de produção, como a gestão ambiental, a engenharia de sustentabilidade e a gestão de resíduos sólidos. Assim, surgiu a conexão para que a pesquisa resultasse no meu TCC”. 

Na pesquisa, a borra do café passa pelo processo de extração. Uma segunda extração foi necessária durante a pesquisa, com isso foi visto que o uso do resíduo orgânico retarda o tempo de germinação em algumas porcentagens e diminui o percentual de sementes germinadas. O professor Vasconcelos afirma que a borra possui efeito benéfico sobre o crescimento do alface. “Na concentração maior de café, no caso a de 30%, o café tem potencial positivo no crescimento do alface”. Vasconcelos pontua que o crescimento foi visível com a maior concentração de pó de café. “Fizemos as análise, e nós estamos falando para produção caseira. Não é para uma produção em escala. Ele é super benéfico, pois não vai para o lixo”. 

Os pesquisadores fizeram uma parceria com estabelecimentos que vendiam café e posteriormente descartavam a borra. Os professores coletaram os resíduos de café desses estabelecimentos, que até então iam para o lixo. Os resíduos foram coletados de 15 estabelecimentos comerciais de Campo Grande, entre bares, lanchonetes, restaurantes e panificadoras. Para o professor Vasconcelos, a economia circular proporciona vantagens à população e a pesquisa indica a eficiência da borra de café como fertilizante.  

A presença da economia circular na pesquisa

De acordo com Denise Pedrinho, a pesquisa foi realizada sob o conceito da economia circular, uma alternativa que busca diminuir os impactos ao meio ambiente, de maneira consciente, com foco em benefícios para toda a sociedade. Na prática, a economia circular representa a redução do desperdício. A professora afirma que quando um produto chega ao fim, os seus resíduos podem ser reutilizados, como exemplo da borra de café que costuma ser descartada. 

Pó de café, cascas de vegetais, casca de ovos e outros resíduos orgânicos destinados ao lixo ocasionam a produção de chorume. Vasconcelos explica que esse componente é prejudicial à saúde e contamina o solo. “Resíduo orgânico no lixo, produz o chorume, e contamina o solo. Quanto menos resíduo orgânico for ao lixo, melhor no ponto de vista de contaminação”. 

De acordo com Vasconcelos, os benefícios de optar por alternativas sustentáveis são relacionados a economia circular, pois altera o produto em análise, devido aos componentes serem mais nutritivos. “A economia circular abrange diversos aspectos positivos para o mundo, sejam ambientais ou no campo da saúde, devido a insumos caseiros e tudo isso contribui para a sustentabilidade”. 

 

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