TRÁFICO DE ANIMAIS

Tráfico de aves silvestres aumenta em período de reprodução

Prática prejudica espécies que se encontram mais vulneráveis nesse período e provoca desequilíbrio no meio ambiente

Gabriel Ibrahim e Raquel de Souza20/10/2014 - 09h19
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Dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontam que nos meses de setembro a novembro aumenta o tráfico de animais silvestres como papagaios, periquitos e araras, os chamados psitacídeos, animais capazes de reproduzir a fala humana. De acordo com a responsável pelo Núcleo de Fauna do Ibama, Paula Mochel são estas as espécies mais procuradas pelos traficantes e, neste período de reprodução, os filhotes são capturados em propriedades rurais e enviados para outros estados como São Paulo, Paraná e Goiás, e também para o exterior.

Espécies de pássaros como canário-da-terra, bicudo, trinca-ferro, cardeal e curió, admirados pelo canto ou beleza também são muito procurados pelos traficantes de animais silvestres. Só este ano mais de 600 canários foram apreendidos pela Polícia Militar Ambiental (PMA) e mais 300 pela Polícia Federal (PF). Nos meses de reprodução o Ibama faz barreiras de fiscalização nas estradas, principalmente na região Sul, em cidades como Ivinhema, Novo Horizonte do Sul, Nova Andradina, Anaurilândia, Batayporã, Naviraí e Itaquiraí. A maioria dos pássaros apreendidos em operações da polícia é encaminhada para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), antes de retornarem à natureza.

Segundo o coordenador do Cras, Elson Borges, a orientação que é repassada à PMA é a de que o processo de reabilitação comece na hora da apreensão. "Nossa primeira indicação é a hidratação dos animais, pois a situação de desidratação que eles se encontram devido ao transporte nas estradas é o principal motivo de óbito". Borges explica quais são as chances de recuperação das aves encaminhadas ao Cras, e o que acontece quando elas não têm a possibilidade de voltar ao seu habitat natural. Ele acrescenta que quem tem condições, pode se tornar um cuidador dos animais vítimas do tráfico.

Borges alerta também para os prejuízos ambientais que são causados devido ao tráfico. Ele explica a importância da função que cada espécie tem na cadeia alimentar e como isso influencia no equilíbrio do meio ambiente.

Paula Mochel explica que, para chegar aos compradores, estes animais passam por situações de maus-tratos, e que de cada dez exemplares capturados pelo tráfico, um sobrevive e chega ao seu destino final. “Se você conseguiu comprar um animal, pode ter certeza que para ele chegar até você ele sofreu muitos maus tratos, e ele foi um entre dez que foram capturados".

Os pássaros são capturados por funcionários de fazendas, os chamados caçadores, que os repassam aos intermediários por valores irrisórios, que não passam de dez reais. Os intermediários repassam aos traficantes que controlam o mercado pelo dobro ou triplo deste valor, e estes, que têm contatos com pessoas com alto poder aquisitivo do Brasil e de outros países, revendem por valores que chegam a R$ 60 mil, no caso da arara-azul-de-lear, uma das espécies mais raras e ameaçadas de extinção.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (Onu), o tráfico de animais silvestres é a terceira atividade ilícita mais lucrativa, e perde apenas para o tráfico de drogas e para o tráfico de armas. A Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) estima que o tráfico de animais silvestres movimenta mundialmente cerca de dez bilhões de dólares por ano. Segundo Mochel, até chegar aos compradores, os filhotes são privados de alimento, escondidos em lugares apertados como malas e debaixo da carga de caminhões, e chegam a ser dopados e até cegados pelos traficantes.

Conforme Paula Mochel, o Ibama não regulariza espécies de animais silvestres sem comprovante de origem legal. A única maneira de adquirir um pássaro ou qualquer outro animal silvestre sem financiar o tráfico é comprar de criadores registrados pelo Ibama. A venda tem que ter nota fiscal e os animais chip de registro de origem ou anilha de identificação na pata. “A gente tem que entender que o lugar do bicho é na natureza, por mais que a gente goste, por mais que a gente cuide, nunca vamos conseguir dar a condição ideal pro bicho”.

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