Embrapa comemora 40 anos de pesquisa com lançamento de nova pastagem em Mato Grosso do Sul

24/07/2013 - 11h05
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No Brasil, cerca de 280 milhões de hectares de área são destinados à agropecuária, sendo que mais de 220 milhões desse total são específicos para a pecuária de pastagem ou pecuária extensiva. Nesse contexto, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está presente em diversos estados do Brasil, onde desenvolve pesquisas pertinentes para as produções de agropecuária. Em comemoração aos seus 40 anos, acaba de lançar uma nova pastagem em Mato Grosso do Sul.

O resultado da mais nova pesquisa da Embrapa lançada há dois meses, denominada Paiaguás, é fruto de estudos com melhoramento genético e representa a promessa de maior produtividade em menor espaço. A nova cultivare foi desenvolvida em anos de estudo para preencher a perda de peso do gado no inverno, quando a disponibilidade de folhas no pasto diminui.

A espécie é semelhante às cultivares Brachiaria brizantha, mas com vantagens para outras cultivares em uso, como piatã, marandu, xaraés; enquanto essas sofrem com a falta de água, a paiaguás apresenta maior acúmulo de forragem como alto teor de folhas e bom valor nutritivo durante a seca. É voltado para os sistemas de produção integrados, principalmente em relação ao tipo lavoura-pecuária, sendo de fácil uso com milho safrinha e na entressafra da soja.

[caption id="attachment_4395" align="alignright" width="300"]O pesquisador Haroldo Pires explica as variedades de capins O pesquisador Haroldo Pires explica as variedades de capins[/caption]

Cerca de um terço da variedade de capins existentes no mercado foram produzidas e pesquisadas pela Embrapa, e mais de 70% das espécies que estão à venda no mercado foram produzidas ou patenteadas pela empresa. Não é à toa que a Embrapa está presente em Mato Grosso do Sul com três unidades, sendo uma em Corumbá (Embrapa Pantanal), uma em Dourados (Embrapa Oeste) e outra em Campo Grande (Embrapa Gado de Corte). A sede na capital produz pesquisas importantes para a área da pecuária há 40 anos e contribui para o desenvolvimento da atividade na região.

O principal foco dos estudos em Campo Grande é a recuperação de pastagens e desenvolvimento de capins. A importância das pesquisas na área de introdução de capim no pasto ocorre onde existe tanto criação de gado de corte, quanto o gado leiteiro. Na década de 60, a produtividade do gado de corte era de um boi para cada 10 hectares de área. Com as inovações tecnológicas, a área de criação do gado diminuiu para um hectare por boi, principalmente devido à evolução das pastagens e capins, que estão cada vez mais nutritivos e resistentes.

A Embrapa é responsável por desenvolver pesquisas da área, catalogar os resultados, patentear as criações de forrageiras, alimentação típica do gado de corte criado em pecuária extensiva (principal forma de criação no Brasil). A importância da diversificação de pastagem interfere diretamente na engorda do gado, portando pode levar a maior produtividade em menor espaço. Um dos desafios da pecuária atual é recuperar áreas já degradadas pela criação de gado e reaproveitar o mesmo solo para novo plantio de pastagem, tão rico e nutritivo quanto o primeiro.

Ciclos do capim no Brasil

As espécies de capim foram introduzidas no Brasil após o início da colonização, principalmente com a chegada dos escravos no país. Essa época é conhecida pelos pesquisadores como ciclo acidental, quando os colonizadores traziam os escravos africanos para o Brasil, conta o zootecnista e pesquisador da Embrapa, Haroldo Pires de Queiroz. “Era comum o uso da palha do capim seco para forrar o chão dos navios onde os escravos dormiam. Assim que chegavam em solo brasileiro, esse capim era jogado fora, e então, começava um novo ciclo de existência, a criação de espécies sem intenção”, explica. Antes dessa época não há pesquisas que relatem a vegetação nativa de capins na região.

[caption id="attachment_4396" align="alignleft" width="300"]Rebanhos que se alimentam dos capins que são testados Rebanhos que se alimentam dos capins que são testados[/caption]

Entre a década de 40 e 60, um novo ciclo surgia, a chamada introdução errática. Foi nessa época que as instituições de pesquisas começaram a ser criadas no Brasil, uma das primeiras foi o Jardim Botânico. Neste período, pesquisadores brasileiros coletavam espécies de países com características semelhantes às nossas e faziam testes aleatórios nos solos daqui, sem um planejamento prévio. Dessa maneira, conseguiam obter bons resultados ou não, tentavam a sorte. O destaque dessa época são as brachiarias decumbens e marandu.

O último ciclo é conhecido por planejado, ou seja, depois da criação da Embrapa os profissionais da área - como zootecnistas, veterinários e agrônomos, já estão preparados e organizam toda uma logística para confirmar a viabilidade da pesquisa, que se leva em conta a área a ser plantada, o valor da engorda do animal e o crescimento da espécie.

A melhor forma de fazer a recuperação é adubar o solo e corrigir a acidez, mas isso não basta se a plantação de capim não for resistente ao solo comprometido e às condições climáticas do local. A mais nova criação de capim da Embrapa, a espécie Paiaguás, está em produção para ser lançada no mercado para venda a partir de setembro.

Por meio de pesquisas na área de pastagens e introdução de capins, a pecuária pode expandir a produtividade sem aumentar o espaço de criação do gado. Durante as fases de teste dos resultados do capim, alguns produtores rurais recebem as sementes da Embrapa e participam do processo de observação da nova espécie. A partir desse plantio, é possível quantificar e qualificar a nova espécie.

[caption id="attachment_4397" align="alignright" width="300"]Parte do rebanho de gado de corte da fazenda Parte do rebanho de gado de corte da fazenda[/caption] O produtor rural, Sérgio de Arruda, utiliza das pesquisas da Embrapa para melhorar as produções em sua propriedade. Ele é dono da fazenda Recanto das Águas, localizada na região do Taboco, distrito do município de Corguinho, a 140 quilômetros da capital. A principal produção do local é a pecuária de corte, em menor escala aparece a pecuária leiteira e a presença de equinos. Para atender a todas essas demandas, o pecuarista optou em diversificar suas pastagens. A forrageira tifton cobre pequena parte dos trezentos hectares, para atender os cinco cavalos da fazenda. Em maior proporção está presente a brachiaria decumbens, um capim voltado para bovinos de corte, pois são quase quatrocentas cabeças na propriedade. A veterinária da fazenda e filha de Arruda, Camila Lima, explica que nos últimos meses estão fazendo testes com outras pastagens por conta do pasto pisoteado. “Estamos reformando aos poucos as pastagens da fazenda para um melhor aproveitamento energético, com a utilização de novas cultivares, como a brachiaria xaraés, que oferece boa produção de massa, boa resistência às secas, rápida rebrota e tolerância a solos mal drenados”, finaliza.

Texto: Gabriela Pavão Foto: Mariana Cintra Edição: Izabela Borges

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