Índios e fazendeiros criticam inércia de Governo Federal na mediação de conflito agrário
15/07/2013 - 17h12
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Uma estrada com cerca de sete quilômetros de extensão, que fica na divisa dos municípios de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti (MS), é cenário do conflito agrário entre indígenas e latifundiários.O clima acirrado existe há anos, nos últimos meses ganhou evidência. O Advogado Newley Amarilla diz que o Governo Federal ficou inerte, pois nas tentativas de trégua que propôs não teve sucesso. Avalia que diante das medidas de conciliação frustradas, os envolvidos na história prometem aderir a uma outra política, a da justiça própria.No mês de abril os índios Terenas da Terra Indígena Buriti, composta por nove aldeias, invadiram a fazenda de 350 hectares do ex-deputado federal Ricardo Bacha. O proprietário entrou com pedido de reintegração de posse na Justiça Federal,no dia 30 de maio, e que resultou na morte do terena Osiel Gabriel, 35. Cinco dias depois, o primo do Terena morto, Josiel Gabriel, 34, é atingido por um tiro de calibre 12 na fazenda São Sebastião, posteriormente invadida pelos índios.O crime aconteceu no dia quatro de maio, próximo a data do cumprimento de uma nova reintegração de posse. Diante da situação tensa instaurada na área rural de Sidrolândia, ?o juiz Jânio Roberto dos Santos suspendeu a execução da ação, que estava marcada para acontecer ao meio-dia de cinco de maio, na Fazenda Buriti. O acordo foi mediado pela Advocacia Geral da União, que orientou os indígenas a não invadirem outras fazendas. A região continua em situação tensa, pois os índios terenas continuam acampados em pelo menos três propriedades e os fazendeiros prometem reagir "por conta própria", resume Amarilla.
?Na estrada que dá acesso às fazendas invadidas, os índios ergueram três barricadas para monitorar o fluxo de pessoas que circulam na região. Além disso, em vez de permanecer nas tendas que inicialmente foram erguidas na área descampada, os terenas abandonaram o acampamento e migraram para a área de mata fechada. Alguns índios usam motocicletas com a função de “batedores" para vistoriar a área e evitar a permanência de pessoas que não sejam da etnia Terena.Na Aldeia Buriti, o líder Alberto Terena confirmou o clima de tensão e a dificuldade de acalmar os colegas. “A partir do instante que saímos da área da aldeia o medo toma conta de nós. Os índios estão com raiva pela morte do guerreiro Osiel, e agora mais ainda pelo Josiel, que foi baleado. Nós não vamos sair, pois essa terra é nossa. Fico preocupado quando estou fora da região para negociar com o Estado, já que a qualquer momento pode começar uma verdadeira guerra aqui”, alegou.?Os índios estão instalados nas fazendas Buriti, Cambará e São Sebastião, onde o terena Josiel Gabriel foi baleado na coluna cervical. O índio Terena Fidélis disse que na Terra Indígena Buriti vivem pelo menos 4,5 mil terenas, distribuídos em nove aldeias. “Na hora do conflito, todos se vão se unir para defender o que é nosso de direito, independente de quem seja a nossa liderança".?O advogado Newley Amarilla, que representa o proprietário da Fazenda Buriti, confirmou que os próprios fazendeiros planejam fazer “justiça com as próprias mãos”. Segundo ele, “a banana está comendo o macaco. A Justiça Federal está amedrontada e os fazendeiros não tem mais paciência. A situação perdeu o controle. Os proprietários estão planejando reagir, pois está parecendo que a justiça do homem vai se impor”, alertou.O proprietário da fazenda Estância Alegria, César Lopes, 63, propriedade que tem a mesma área da Fazenda Buriti está invadida pelos índios desde 2000. "Há 13 anos não volto pra lá. Teve um dia que eles chegaram na minha propriedade logo cedo e me mandaram embora. Já acionei a Justiça várias vezes, mas naquela área não há lei", resume.Os fazendeiros das terras tomadas admitiram que o conflito não deve ser resolvido de maneira pacífica mesmo o estado receber a visita do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e de membros do Conselho Nacional da Justiça . Em reunião que aconteceu naAssembleia Legislativa, o líder indígena Alberto Terena enfatiza que só saem das fazendas invadidas "mortos", e explica que " isso não é invasão, mas uma retomada. Queremos o que é nosso de direito e que as demarcações sejam céleres. A terra da Aldeia Buriti está perdendo sua produtividade, por isso precisamos de novos locais para plantar"De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), pelo menos 66 fazendas estão invadidas por índios no estado. Produtores e indígenas concordam em um ponto, condenam a inércia da União frente à necessidade de uma intermediação do conflito. ?Repórter: Carlos Henrique Wilhelms Fotógrafa: Débora BahEditora: Isabela Nogueira