Calma, seu Otávio! Eu sei que a onda petralha está forte e você já elaborou seu discurso robótico contra o partido esquerdista, corrupto e comuna para comentar nas próximas linhas, mas este vermelho vem daquilo que também corre nas suas veias (sendo Marx ou Olavo). Acorda, seu Otávio! O Brasil derrama sangue a torto e a direito(a). Ou você esqueceu da Maria? Negra, mulher e lésbica, que foi esfaqueada pelo seu vizinho José, o exemplo de cidadão de bem de que tanto defendeu. Te falta percepção, seu Otávio. Percepção para entender que a gente mata todo mundo! Ou você acha que 80 tiros passam longe do seu colete? Ou acha que você se compara com o Bidu, seu cachorro, e que é um animalzinho e está fora dos Direitos Humanos? Tudo bem que convenhamos, seu Otávio, irracional você já é.
A gente bate no peito e exala preconceito, com muito orgulho e com muito amor. 'Tá' vendo o japonês da rua Sete servindo pastel para sobreviver? E o “pretinho” da favela sem visão de mundo e oportunidade? E a menina que não se preveniu? E a criança que foi para o crime? Bom, daí já dizia aquele cantorzinho, Chico, que a esquerda gosta de usar: “Tem que bater, tem que matar”. Daí, que se faça arminha com a mão, abrace a ignorância e rasgue livros, né, Otário? Proibimos o aborto mas não vamos até a moça da periferia, com menos informação, falar sobre saúde pública e os meios de prevenção. Liberamos as armas, mas não lembramos que a nossa taxa de feminicídio é a quinta maior do mundo. Despejamos agrotóxicos nos alimentos e esquecemos que somos mortais. Não é coisa de esquerda não, seu Otávio, é o seu país e o seu povo morrendo. Eu sei que dentro da bolha nosso conforto é imenso e lidar com as diferenças assusta toda uma geração. Eu também sei que imaginar pessoas tendo menos do que nós e sendo desinformados é fora da sua realidade. Eu sei que é complicado, é foda, mas o chão vermelho não te assusta? Nem se for em Suzano, na escola? Ou da criança baleada na Zona Norte?
O presidente homenageia um agressor. O filosofo diz que a terra é plana pois não há contestações (então, oras, pule da borda!). A ministra vocifera “azul é de menino” (no dia seguinte chute de qual cor era sua camisa?). O pobre fica mais pobre. O rico? Sempre esnobe. E isso tudo enquanto muita gente morre, seu Otávio. Mas, parafraseando ele de novo, “doida sou eu que escuto vozes”.