CRÔNICA

Ditadura é conversa para burro dormir

Ayanne Gladstone e Débora Oliveira 1/07/2019 - 21h23
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A verdade é que nunca houve uma ditadura.

Golpe de 64? Besteira. Isso é apenas conversa para burro dormir, de comunistas espertalhões, que erguem a bandeira vermelha e enrolam o nome de Lula na ponta da língua. A regra é clara: golpe militar é falácia de quem votou no PT. Os legítimos cidadãos de bem, aqueles que carregam o Brasil acima de todos e Deus acima de tudo com um grito de liberdade cerceada, conhecem a história de trás para frente e de frente para trás. Quais as fontes, você pergunta? Ora essa. As mais brilhantes e reconhecidas pelo homem, também conhecidas como redes sociais.

Como a passagem para um novo mundo desabitado e pouco estudado, o Facebook ou WhatsApp têm lá seu quinhão de animais reis. É parte da tal lei darwinista, onde sobrevive o mais forte. No meio virtual, porém, a posse não vem da força ou da resistência, e sim da maior gama de conhecimento. História ou Filosofia? Que nada, procure pelos monges da sabedoria, também populares como “conservadores verde e amarelo” e seu cérebro se encherá com conhecimento imutável. Você será capaz de mover mares e montanhas... Ou assassinar comunistas fazendo arminha com a mão. Sua escolha.

Agora vamos recapitular a história brasileira passeando pelos comentários de amadores da pátria com dedos velozes e intelecto voltado para o futuro.

Ditadura no Brasil? Não, intervenção militar.

Assassinatos e corpos desaparecidos? Papo furado. Apenas os delinquentes vagabundos pagavam com a vida. Eles eram a escória do Brasil, nem gente eram. Quanto aos corpos desaparecidos, eram apenas pessoas com identidades falsas. Isso explica o desaparecimento de muitos! Todo mundo já tá careca de saber que quem procura osso é cachorro.

Os repórteres não foram censurados, afinal eles dominavam os meios de comunicação como mestres soberanos. Assassinato de Vladimir Herzog? Aquilo foi um claro suicídio protagonizado por corda, embora seu salto raso tenha feito seus pés tocarem no chão e suas pernas se flexionarem. Salve Ustra!

Segundo os dados das confiáveis fontes dos comentários de Facebook, cheias de verdade incontestável, a “família tradicional” quer nada mais nada menos que os valores sejam mantidos: 61% da população acredita que a sociedade não deveria aceitar homossexualidade, tornando o Brasil o país mais homofóbico do mundo, fora o Oriente Médio. Será??

Por conseguinte, nunca houve uma ditadura. Não houve o aumento da desigualdade social, repressão política e inflação. Não houve censura; artistas não viveram no exílio. A polícia não se especializou em caçar, torturar e matar cidadãos. Falsa democracia e cultura desaparecida como os supostos cadáveres comunistas? Não existem provas. Os esquerdistas roubaram o poder dos militares e pisaram neles com a ponta de seus sapatos lustrosos, basta estudar para saber.

Outra vez você pergunta: quais as fontes? A verdade é que as redes sociais são apenas o volante. Quem as dirige são os influenciadores digitais da direita, que rugem como leões e carregam o Brasil conservador em suas bocas como um tipo de freio. Mas é possível que burros rujam como leões?

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