As luzes dos restaurantes me cegam, são muito coloridas e brilhantes, nunca sei qual opção escolher, o de 700 é muito grande, e o de 300 é muito pequeno. Mas é sempre assim. Passamos a vida inteira preenchendo formulários, empacotando caixas, delimitando tamanhos e especificações, nos colocando em rótulos, classes, tipos e generalizações. Já nascemos com uma etiqueta que permanece conosco durante toda nossa vida: nome, sobrenome, cor. A partir daí o mundo nos joga num labirinto de celas que nos classificam a cada bifurcação.
Começa o leilão. Biologia nos coloca como espécie, Homo sapiens, os únicos animais “racionais”. A economia dá seu lance, pobre! Rico! Classe média! A psicologia oferece: ansiosos, depressivos, extrovertidos, hiperativos, esquizofrênicos, “normais” (acho que esses nem existem). A política impõe esquerda, centro, direita. A moda separa estilosos e bregas. A estética marca bonitos, feios, gordos, magros. O nosso grau de escolaridade, nosso nível de aptidões, reflexos, tudo quer nos determinar de alguma forma.
Ainda mais, dentro desses questionários infindáveis, nunca podemos escolher o meio. Cuidado! Não fique muito tempo no centro, é zona de perigo. Se disser que não é esquerdista ou direitista, em cima do muro. Se for bissexual, confuso. Se conhecer várias coisas, porém não as dominar completamente, raso. Se tirar uma nota em cima da média, mediano. Nos empurram para vivermos extremos, para irmos para as beiradas, a um passo do precipício do egoísmo. Gritos de ambos os lados tentando nos convencer a seguir parâmetros ou dogmas. Por que buscar tantas periferias se podemos nos construir a base de misturas de diferentes níveis?
O copo está meio cheio ou meio vazio? Está no m-e-i-o. É preciso reconhecer o mediano, mas não subjugando-o. Se eu não quiser um copo cheio, mas sim diferentes copos vazios, teria uma maior gama de áreas. A questão é, somos individuais, não a junção de várias generalizações que compõe um ser. Misturar médios, altos, baixos em uma solução heterogênea de significados, o eu. Que não precisa seguir padrões determinados por denominações.
- EU NÃO QUERO PAGAR UM REAL A MAIS PELO MILKSHAKE GRANDE, EU NÃO QUERO. QUERO O TAMANHO MÉDIO.