CIBERJORNALISMO

Imagens verticais e a imersão no jornalismo

Gerson Luiz Melo Martins26/09/2017 - 15h04
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Durante muito tempo houve uma recomendação, orientação para que todas imagens, principalmente em vídeo, fossem produzidas no formato horizontal, o mesmo formato das telas de cinema. Essa perspectiva se dá em razão, basicamente, da captação natural dos olhos humanos, que fazem uma varredura, preferencialmente horizontal. A pessoa capta informações visuais no plano horizontal e assim consegue obter o maior número de dados sensíveis possível. As telas de cinema se tornaram cada vez mais horizontais, panorâmicas; as telas dos televisores também evoluíram de um formato quase quadrado, 4 x 3, para um formato muito horizontal, 16 x 9, chamado widescreen. Se a pessoa olha o horizonte, terá muito mais informações no sentido esquerdo?—?direito do que no sentido superior?—?inferior.

A utilização dos smartphones infligiu a captação de fotos e vídeos em formato vertical
Nos últimos anos, a utilização dos smartphones infligiu a captação de fotos e vídeos em formato vertical. Hoje as emissoras de televisão, principalmente, têm dificuldades quando necessitam utilizar uma imagem ou um vídeo de cidadãos colaboradores porque a maioria das captações são realizadas em formato vertical. Isso se deve a facilidade, principalmente, para segurar o celular. Para posicionar o celular na horizontal é necessário, para maior firmeza e segurança, as duas mãos. No entanto, no caso do posicionamento vertical, apenas uma mão oferece estabilidade, firmeza e segurança, além da comodidade dessa sensação em diferentes ambientes.

Leão Serva: “o jornalismo atual já é ciberjornalismo, não há algo novo, o jornalismo se transformou e todo ele é ciberjornalismo”
De outro lado, a evolução do jornalismo, que se pode caracterizar e nominar como ciberjornalismo?—?afinal, como mencionou o jornalista e professor Leão Serva em palestra realizada em 2016 no 7º Congresso Internacional de Ciberjornalismo, em Campo Grande (MS)?—?“o jornalismo atual já é ciberjornalismo, não há algo novo, o jornalismo se transformou e todo ele é ciberjornalismo”. O ciberjornalismo, portanto, busca formas e desenvolve recursos para que haja eficiência e eficácia da produção noticiosa. É imperativo que as informações jornalísticas cheguem até o consumidor de notícias de forma mais ampla e contextualizada possível, para que se perca um mínimo com vistas a compreensibilidade da informação. Pesquisadores, jornalistas, professores dos cursos de Jornalismo trabalham para estudar o novo fenômeno do jornalismo em tempos de internet e desenvolver novos recursos para a melhoria técnica, ética e social da produção jornalística.

Uma coisa é ver a foto ou vídeo de uma batalha na Guerra da Síria, outra coisa é poder sentir as batalhas do conflito, ou os dramas sociais e humanas decorrentes
Uma das perspectivas dessa inovação é o chamado jornalismo de imersão, que possibilita ao leitor, ou melhor, ao consumidor de notícias captar o maior número possível de dados de uma notícia, para que posso compor fidedignamente os fatos. No jornalismo de imersão, diversas experiências são testadas, como o vídeo ou foto em 360 graus, anunciada recentemente pelo programa Fantástico da TV Globo, ou ainda a utilização de óculos de realidade virtual (VR) para uma ampla e profunda captação sensorial das informações. Como se costuma afirmar, uma coisa é ver a foto ou vídeo de uma batalha na Guerra da Síria, outra coisa é poder sentir as batalhas do conflito, ou os dramas sociais e humanas decorrentes. Uma reportagem em realidade virtual permite essa experiência.

O modo horizontal promove o distanciamento do objeto ou dos objetos, ao contrário, o modo vertical promove a aproximação e a imersão.
No que diz respeito ao formato de imagem, como mencionado no início desta reflexão, o modo horizontal promove o distanciamento do objeto ou dos objetos, ao contrário, o modo vertical promove a aproximação e a imersão. Na captação panorâmica, o observador se distancia das informações sensoriais, na captação vertical é como se o observador estivesse lado a lado com essas mesmas informações.

Jornalista e pesquisador do PPGCOM e Ciberjor UFMS
gerson.martins@ufms.br
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