Jair Bolsonaro apresenta um governo que olha muito para modelos exteriores e pouco para as próprias necessidades do país. Dessa vez, o alvo é a educação. O ministro da pasta, Abraham Weintraub, polemizou nas redes sociais sobre a descentralização de investimentos para os cursos de Filosofia e Sociologia, investindo em áreas hipoteticamente de retorno imediato e desconsiderando o contexto econômico e a autonomia universitária.
A ideia não é original, mas sim, baseada nas atuais medidas de educação do Japão, que investe nos cursos de Sociologia com capital privado, sendo, porém, um país de realidade distinta à brasileira. O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, refuta, não somente a aplicabilidade do modelo, mas também, o argumento de Bolsonaro em buscar o retorno por cursos como veterinária, medicina e engenharia. “O que gera retorno econômico, a partir da formação, é o crescimento econômico, ou seja, não basta um diploma universitário, é necessário que o mercado de trabalho tenha uma vaga para contratar o indivíduo”.
O fato de que o país teve o pior índice de empregos com carteira assinada em março desde 2017, com 43.196 vagas a menos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, comprova a falácia apresentada pelo Ministro da Educação.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também criticou a postura de Bolsonaro e Weintraub, reforçando a importância da renda e do emprego e não somente o diploma e a que ele se refere. Os deputados federais Túlio Gadelha e Helder Salomão se manifestaram nas redes, reiterando a necessidade da formação de um pensamento crítico e olhar atento para as irregularidades do governo. A proposta também desrespeita o princípio constitucional de que cada universidade deve ter autonomia quanto ao que será ministrado em sala de aula.
Bolsonaro, indubitavelmente, colocou a educação universitária em segundo plano, tendo em vista tanto suas declarações polêmicas quanto o último corte anunciado para o setor. O Ministério da Educação irá retirar 30% dos recursos destinados ao ensino superior, alegando inicialmente o investimento na educação básica, uma medida que novamente tenta adequar o plano de educação a modelos internacionais e que pouco se relacionam às necessidades internas.
Os efeitos desse processo afetam, contudo, todas as etapas da educação, com o bloqueio de mais R$ 2,4 bilhões em propagadas de ensino básico, segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior, o que contraria a proposta inicial. Os cortes generalizados também atrapalham a produção científica, gerando o cancelamento de bolsas de estudo até o final de julho, por enquanto.
Em suma, o presidente se alavanca por meio da polêmica, mas não governa olhando para seu país. Suas ações visam modelos que só dão certo no local onde surgiram e, na tentativa de agradar num panorama global e fazer com que o mundo olhe para nós, ele fecha os olhos ao que o Brasil realmente precisa.