O cenário do ensino superior público no Brasil resume-se em uma palavra: balbúrdia. São poucas as universidades que realizam pesquisas. Oriundos de berços de ouro, os universitários brasileiros estão entre os que mais custam para os cofres públicos no mundo. O espaço, que deveria ser destinado para o aprendizado, torna-se palco de práticas imorais, bancadas pelo dinheiro do contribuinte. É esse o tipo de conteúdo que vemos circular livremente em correntes do whatsapp, posts do facebook e conversas casuais. Baseadas em montagens mal feitas e imagens fora do contexto, as informações que nem de longe parecem verdade são utilizadas por muitos como justificativa para as medidas anti-educacionais tomadas recentemente pelo governo.
O bloqueio das verbas destinadas às despesas de custeio e investimentos no ensino superior público foi o estopim que levou milhares de estudantes, professores, funcionários e apoiadores às ruas de 241 cidades do país no último dia 15. O grito que ouvimos ecoar na manifestação exigia o devido respeito à educação: direito básico a ser oferecido com qualidade e gratuitamente. Para apoiadores do governo, entretanto, as manifestações são ilegítimas e visam desestabilizar o presidente, sendo promovidas pela esquerda com motivações políticas mal disfarçadas. Para essa parcela considerável de brasileiros, a insatisfação dos manifestantes é injustificável e a medida de bloqueio de verbas mais que necessária. A desinformação, que já se provou ser uma ferramenta política eficaz durante a eleição, é utilizada nesse contexto para deslegitimar a causa estudantil, fator essencial para que tais medidas continuem tendo apoio.
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a segunda instituição de ensino público mais atingida pelos cortes de verbas promovidos pelo MEC, é também alvo de críticas motivadas pela falta de informação. A ideia errônea de que as universidades são gastos sem retorno se naturaliza na mente dos que ignoram que o sistema educacional é um patrimônio do país e desconhecem que o que é feito dentro desse ambiente é revertido em benefícios diretos para a sociedade. Se a universidade deixa de ser fertilizada, a sociedade não colhe os frutos. Os ganhos são tanto internos, como a oferta dentro do campus de atendimentos médicos, odontológicos e psicoterapêuticos para a comunidade, quanto externamente, com as pesquisas que possibilitam avanços em áreas distintas. Num rápido acesso ao site da instituição, nos deparamos com pesquisas acadêmicas sobre saúde, ecologia e tecnologias. Só não vê quem não quer.
O governo está posicionando a educação no campo inimigo e, em tempos de massificação de informações falsas, há quem concorde com tamanha insensatez. Neste cenário caótico, cabe aos estudantes informar o que acontece de fato. Surge, então, a necessidade de levar para fora dos muros a realidade universitária. Ir para as ruas é imprescindível, o momento exige exposição: iniciativas como aulas públicas, mostras de trabalhos acadêmicos e conversas com quem observa de fora, a fim de quebrar pensamentos equivocados e amenizar os impactos negativos causados pelas fake news. A emoção tem movido a sociedade com maior força que a razão e causado influência significativa sobre a opinião pública. Nesse contexto, cabe à educação a missão urgente de divulgar a verdade e desconstruir mitos.