Campo Grande. Ah, o Campo que é Grande. De Cidade Morena a Capital dos Ipês, que na verdade foi fundada por mineiros que mais procuravam por pastagens e águas cristalinas do que uma cidade para chamar de sua. Ó Bigfield, o lugar onde o clima é amistoso com quem quer, e quando quer. Meses atrás, ao conversar com um amigo distante, ele me questiona: “Deve ser menos complicado viver em uma cidade onde o trânsito não é sempre caótico”. Realmente. Aqui você não entra na estação para pegar o seu ônibus apertado e terminar chegando atrasado no trabalho, nem sofre com impostos inflados ou lida com a corrupção todos os dias. Mas bem, não estamos tão distantes assim. Campão é metrópole caso você (sobre)viva no interior do estado. Já tivemos até três prefeitos caçados! Temos um aquário! E que belo aquário inacabado, não acha? Custou só a bagatela de R$ 230 milhões.
Me peguei perguntando ao ouvir de uma colega de sala resmungando os seus “profundos” white people problems: “O que eu estou fazendo aqui? Socorro. Não existe nada ou ninguém que me prenda aqui.”. Pensei. Refleti. Senti-me perdido como um cão caído do caminhão de mudanças. Trilha sonora dramática. Seria a manhosa crise existencial? Foi como um labirinto de pensamentos desconexos. A guerra contra a paranoia. Busquei pela saída, totalmente desesperado, assim como eu busco terminar essa crônica antes do prazo estabelecido. Foi deprimente e melancólico. Acompanhado de uma xícara de café gelado, quase um castigo.
Respiro fundo e tomo a coragem de mentalmente concluir que não há como comparar a vida do campo grandensse raiz que toma tereré, o famoso chimarrão gelado, e que passa os finais de semana admirando o “admirável” lago assoreado do Parque Nações Indígenas, ou contemplando o domingo na Orla Morena, com mais um dia corriqueiro do amigo paulista em Interlagos. Só não tive a mesma coragem de pensar para dizer. E que talvez nada possa prender minha colega aqui, mas adivinha? Aqui está ela, sendo transformada lentamente em uma capivara. É como indicam os rumores que correm pela UFMS: quanto mais você se aproxima do diploma, mais você sofre a mutação genética que te torna em uma peludinha de quatro patas, cujo único destino é vagar pelos corredores vazios. Chega a ser bonito e glorioso se não fosse tão sádico.
E assim, a pressa se vai. Como um soco de um boxeador: rápido e certeiro. Derruba qualquer um, em qualquer lugar, quando quer, como quer, mas também desvia e nocauteia a maioria dos nossos problemas diários. Tudo isso acontece, pode até ser em Campo Grande...