Jhonathan da Silva é autista e estava em surto quando foi baleado pelo guarda civil metropolitano no condomínio Rui Pimentel, em Campo Grande, no mês de abril. Os vizinhos contam que alertaram o guarda da condição do menino, mas o tiro o acertou no peito.
Esse, infelizmente, não é um caso isolado. Após dias na UTI, Jhonathan está bem, mas a sorte que ele teve não foi a mesma que tantos outros. Segundo o Monitor da Violência, em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano de 2021 foram 6,1 mil pessoas mortas por policiais no Brasil. As desculpas são várias, tem aqueles que atiram em legítima defesa, alguns confundem guarda-chuva com arma, outros dizem que o rosto era parecido com o de fulano, foragido por tráfico. A coisa fica ainda pior quando não são necessárias justificativas para tamanha agressividade e a polícia é aplaudida, pelo próprio presidente, ao executar uma das operações mais sangrentas da história do Rio de Janeiro; Jacarezinho, que neste mês de maio completa um ano, deixando 28 mortos.
Na disputa de quem atira primeiro, a guerra contra o crime é mais literal do que a gente imagina e, como de praxe nesses contextos, vitimiza muito mais inocentes do que pune os responsáveis. Com o hábito infeliz de atirar e perguntar depois, a polícia continua sendo uma das grandes responsáveis pela manutenção do ciclo de violência em que o país se encontra há um bom tempo.
E nessa discussão a cor importa demais, às vezes até mais que a idade. Na gana para combater o “problema”, balas perdidas continuam encontrando peles pretas e a lista de jovens e crianças negras atingidas continua crescendo. Segundo um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só entre os anos de 2017 e 2019, pelo menos 2215 crianças foram mortas pela polícia, sendo que 69% delas eram pardas ou pretas.
No Brasil, a pena de morte é inconstitucional no papel, mas constantemente autorizada por um governo que exalta a violência, afinal bandido bom é bandido morto, e reforça uma ideia doentia de que existem vidas que devem ser respeitadas e outras que podem, e até merecem, ser violadas, inclusive pelo próprio estado.