Mujica, Lula, Evo. Memórias de lutas, memórias de causas. Evita, Che, Bolivar. Nomes de uma América Latina, latina América, amada América, de sangue e suor. De Zumbi aos Charrua. Do sangue dos deslembrados. Não precisa ser herói para lutar pela terra porque quando a fome dói, qualquer homem entra em guerra. Se somos todos irmãos, se todos somos amigos, basta um pedaço de chão para a vitória do trigo.
Talvez um dia milhões de vozes se erguerão numa só voz, desde o mar às cordilheiras. Talvez o sangue de um negro, ou de um índio. Aniquilado. Excluído. Execrado. Talvez um jovem, talvez mulher. Talvez João Pedro, Dorcelina ou Marielle. Talvez um dia o gemido das masmorras e o suor dos operários e mineiros vão se unir à voz dos fracos e oprimidos e às cicatrizes de tantos guerrilheiros.
Há planícies que somem dentre o horizonte e o rio e a vida morrem de fome com tanto campo vazio. Eu que sou jovem, posso me considerar um sujeito de sorte porque apesar de muito moço, me sinto são e salvo e forte. E assim, já não deveria sofrer no ano passado porque a memória dos aramados das cancelas, nos limites da fronteira, ainda sangra. Em 1968 eu morri mas em 2020 eu não morro.
Eu sonho mais alto que drones. Combustível do meu tipo? A fome. Basta um pedaço de terra para a semente ser pão. Enquanto a fome faz guerra, a paz espera no chão. Pra que amanhã não seja só um ontem com um novo nome. Pra que os nomes do passado fiquem só no passado e possam descansar. Porque por eles eu tenho chorado pra cachorro. Porque sem eles, ano passado eu não morri, mas esse ano, não sei