A teoria da seleção natural de Charles Darwin é sobre como todas as espécies estão em uma eterna evolução, e no mundo animal – esse mesmo mundo, que ainda habitamos – apenas o mais apto sobrevive. A “maior” e “melhor” universidade do Mato Grosso do Sul está pondo isso a prova quando submete jovens, que já sobreviveram a diversos sistemas de seleção como a corrida ao útero, ensino fundamental e médio sofríveis; estudar ou trabalhar para ajudar em casa, vestibular... tudo para conseguir fazer parte dos 5% de jovens que entram em uma universidade federal. E agora mais um inesperado sistema de seleção: o ensino a distância (EAD).
O que é necessário para ter um EAD? Um bom computador – 1.500,00 a 2.000,00 reais o mais simples – uma boa banda larga – 70,00 a 150,00 reais mensais, que vai te possibilitar assistir vídeos sem travar, se não tiver muita gente usando - e, é claro, uma boa saúde mental para estudar. Temos então a resposta da pergunta acima, que se encontra em qualquer plataforma de busca. Alguém fez as contas?
Um computador + seis mensalidades de internet = 1.920,00 a 2.900,00 reais. E esse é o valor em reais para manter um acadêmico durante um semestre em sistema de EAD. Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 70% dos estudantes de universidades federais são de baixa renda. Significa que o último item, a saúde mental, estará correndo sérios riscos, já que tratamentos psicológicos estarão muito longe de sua realidade nesses tempos difíceis. Em nossa conta, agora serão somadas as péssimas condições de estudo. Cuidados com a casa, família, animais domésticos e saúde física, estresse causados por vizinhos, acúmulo de entregas de atividades e caos na rotina, farão essa conta parecer muito maior no bolso e na cabeça do acadêmico.
Cerca de 60% das universidades federais compreendem esses números, conhecem seu corpo docente e estudantil, portanto, rejeitaram as atividades à distância e optaram pela suspensão do calendário acadêmico. Já a grande UFMS não faz parte desse grupo. Ela ignora toda problemática, age diariamente de forma indiferente com o seu público. Faz campanhas em prol da saúde, mas gera ansiedade constantemente em todas e todos, com suas portarias confusas, seu anseio em voltar com atividades presenciais, em meio a uma pandemia sem precedentes, e nenhum sinal de cancelamento de semestre e sim de ampliação para mais um mês do mesmo.
Que uma universidade não é acessível para todos é um fato. Agora, quando a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul vai entender que não há necessidade de insistir por produtividade no meio acadêmico nos tempos que estamos vivendo? Apenas com uma breve busca em redes sociais, é possível encontrar centenas de pedidos de socorro à reitoria, críticas contra o EAD e sinais que os acadêmicos não estão aptos a sobreviver a essa seleção forçada. “Universidade que não escuta as reclamações dos alunos, que não pensa em inclusão social, que NUNCA perguntou o que achávamos em ter aulas online. Eu como estudante da UFMS me sinto frustrada por não ser ouvida” (_chris_marie, em comentário em uma publicação da UFMS, Instagram, 29/04/2020), “Mano, todo dia que eu acordo tem 200 mensagens no grupo, 50 figurinhas de desespero, algumas atividades novas e pessoas surtando...Esse é o "bom dia" dos estudantes de Direito da UFMS. Obrigado EAD” (@giovanebarbosaa, twitter, 19/05/2020). Mas a reitoria continua fortemente mantendo sua postura de negligência e descaso com a comunidade acadêmica.