COMUNIDADE QUILOMBOLA

Comunidades quilombolas promovem encontro no Estado

Evento promovido pelo Tribunal Popular da Terra debateu políticas públicas e reforma agrária em Mato Grosso do Sul

Bárbara de Almeida e Natália Moraes19/06/2014 - 12h07
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A comunidade Furnas da Boa Sorte, localizada em Corguinho-MS, sediou o encontro quilombola “Unidade, Dignidade e Resistência dos Povos da Terra”, nos dias 14 e 15 de junho. O evento foi coordenado pelo Tribunal Popular da Terra (TPT/MS).

Participaram do evento a comunidade local, o prefeito de Corguinho Dalton de Souza Lima do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), pessoas acampadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), indígenas da etnia Guarani Kaiowá, agricultores familiares assentados pela reforma agrária, entre outros.

Segundo o secretário geral da Coordenação Estadual das Comunidades Rurais Quilombolas (Conerq), Antônio Borges dos Santos, o objetivo do evento é promover a participação da própria comunidade, “principalmente da juventude, da mulher, dos estudantes e crianças, para que eles comecem a sentir que fazem parte desse processo político da sociedade”.

História

Furnas da Boa Sorte, uma das 22 comunidades quilombolas de Mato Grosso do Sul, existe oficialmente desde 1905, quando os moradores solicitaram a emissão de título de posse do território. A região é residência de 58 famílias, 48 no próprio espaço da Boa Sorte e cinco em cada uma das duas comunidades anexas, Caridade e Carrapato.

De acordo com o presidente da comunidade, Carlitos Marciele, a comunidade local conseguiu a titulação de 1.412 hectares de terras. "Ainda há áreas nas mãos de fazendeiros e que estão previstas para serem restituídas pelo INCRA à comunidade". Nascido e criado na comunidade da Boa Sorte, Marciele, está há sete anos como líder da comunidade, foi eleito presidente em 2007 e reeleito em 2011.

Para Antônio Borges é necessário uma orientação do poder público sobre a titulação das terras quilombolas para a comunidade. "Não queremos fazer nada fora da lei, o que foi de direito nós vamos fazer, agora o que for contra, nos não vamos fazer. É assim nosso jeito de trabalhar”.

Juventude

Entre as reivindicações dos participantes da oficina “Juventude Quilombola, Indígena e Camponesa: Desafios e Compromissos” estavam direitos básicos, como acesso à água potável e energia elétrica, tratamento médico e educação próxima e de qualidade. De acordo com a acadêmica do curso de Biologia, Giuliana Vitório, participante do evento como representante da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), "o mais debatido entre os jovens foi o fato da comunidade ainda não ter acesso a internet".

A necessidade ao acesso à internet é confirmado por Borges, que se preocupa com o isolamento da comunidade para questões governamentais. “Hoje tudo é pela internet, e na comunidade não tem internet. Como é que ela vai se desenvolver? As comunidades não conseguem acessar as políticas públicas porque o mecanismo está totalmente errado”.

Reivindicações

A comunidade Boa Sorte, que fica a 135 quilômetros de Campo Grande, têm necessidades básicas, como a falta de abastecimento da água potável nas residências e acesso à luz elétrica. No quilombo também não há coleta de lixo, nem tratamento médico.

A comunidade listou prioridades nas oficinas e mesas de debate. Entre as necessidades urgentes há a titulação de terras, as que estão sob uso de latifundiário, e as que estão homologadas. Segundo os moradores falta a entrega destas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

O representante do MST, Douglas Cavalheiro, explicou que “o Ministério Público Federal paralisou a demarcação de terras porque os assentados vendem seus lotes. O povo vende porque o governo os abandona depois que faz a reforma agrária. Não basta só dar a terra para quem não tem dinheiro, nem para comprar sementes”.

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