SBPJOR 2015

Pesquisa aponta que Lei da Terceirização compromete direitos trabalhistas

A pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro relevou que se aprovada a Lei da Terceirização, a falta de segurança trabalhista aumentará em 70% e a instabilidade financeira em 54%

Iasmim Amiden e Isabela Domingues10/11/2015 - 17h20
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O Projeto de Lei (PL) 4330/04, conhecido como Lei da Terceirização, que regulamenta o contrato de prestação de serviço de terceiros e abrange tanto as atividades-meio como as atividades-fim, foi objeto de pesquisa apresentada no 13° Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Os principais resultados apontados foram as consequências negativas desta lei para as classes trabalhadoras e principalmente para os jornalistas.

O responsável pela pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Aldo Schmitz, destacou que as entrevistas realizadas com mais de 780 jornalistas revelaram que 27% são terceirizados como freelancers e pessoas físicas que trabalham como pessoas jurídicas, conhecidas como “pejotas”. Schmitz ressaltou que se a lei for aprovada, 55% destes jornalistas terão 70% a mais de falta de segurança e 54% de instabilidade financeira.“Com a lei, eles podem ter seus direitos trabalhistas comprometidos e dificilmente recorrerão a processos, pois podem não serem contratados por outras tomadoras de serviços”.

Para Schimtz, a Lei da Terceirização vai legitimar uma prática que é exercida há muito tempo no jornalismo. “A prática da terceirização já existe no jornalismo, eles fazem isso por uma necessidade de mercado, recebem mais como freelancers e pejotas, mas não são amparados pelo sindicato. Se for aprovada a terceirização na atividade-fim, a lei vai aflorar essas práticas que já são exercidas. A mídia vai ser mais uma plataforma de conteúdos do que geradora de conteúdo”.

O jornalista Ítalo Millhomem é membro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (SindJor-MS) e concorda com a pesquisa apresentada no SBPJor. “Por meio da pejotização, que ficou mais fácil com a legislação do Microempreendedor Individual [MEI], o jornalista abre mão de alguns direitos trabalhistas como 13° salário, FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço], entre outros benefícios, por conta de um salário um pouco melhor”. Ele ressalta que apesar desta prática ser recorrente na profissão, suas consequências são pouco discutidas no Sindicato.

A representação sindical é um dos debates que o projeto de lei provoca entre as classes trabalhistas. Sem o apoio dos sindicatos, os trabalhadores não usufruem dos direitos conquistados por sua classe. O PL 4330/04 prevê que se crie um sindicato específico para os terceirizados. De acordo com a advogada Danielle Martins, esta representação traz tantos benefícios quanto o sindicato dos trabalhadores permanentes e isto pode ter consequências na garantia dos direitos trabalhistas.

A lei, se aprovada, irá substituir a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que determina que a terceirização deve ser só para as atividades-meio, como serviços de limpeza e vigilância. De acordo com um estudo da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em parceria com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o total de trabalhadores terceirizados em 2013 no Brasil correspondia a 26,8% do mercado formal. O estudo aponta que esses trabalhadores permanecem 2,6 anos a menos no emprego e a cada dez acidentes de trabalho, oito ocorrem entre os terceirizados.

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