INCLUSÃO

Projeto Futtrans incentiva esporte para homens transgêneros em Mato Grosso do Sul

Os treinos de futebol auxiliam na socialização, bem-estar e saúde de quem está no período de transição

Camila Andrade, Raquel Eschiletti e Rúbia Pedra21/10/2019 - 11h17
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O Instituto Brasileiro de Transmasculinidades de Mato Grosso do Sul (Ibrat) criou o projeto Futtrans para promover jogos de futebol para o público transmasculino de Campo Grande. O projeto objetiva melhorar a socialização e o bem estar da população transgênero da capital. A prática de exercícios para quem está no processo de hormonioterapia auxilia na adaptação do novo nível hormonal.

O coordenador do Ibrat, Carlos Eduardo Rodrigues explica que o futebol era um interesse em comum dos meninos que integram o Instituto. Os treinos serão mensais e ajudarão com a melhoria da saúde e bem-estar dos membros. O primeiro treino foi dia 9 de outubro e ocorrerá toda segunda semana, às quartas-feiras. “A gente encontrou no futebol uma maneira de ter um tempo com eles, de conversar, de poder praticar o esporte físico que é ótimo para a nossa saúde pela questão da nossa transição, os hormônios danificam muito o nosso organismo".

A prática de exercícios para quem está no processo de hormonioterapia auxilia na adaptação do novo nível hormonal.  O coordenador do Ibrat, Carlos Eduardo Rodrigues explica que o futebol era um interesse em comum dos meninos que integram o Instituto. Os treinos serão mensais e ajudarão com a melhoria da saúde e bem-estar dos membros. “A gente encontrou no futebol uma maneira de ter um tempo com eles, de conversar, de poder praticar o esporte físico que é ótimo para a nossa saúde pela questão da nossa transição, os hormônios danificam muito o nosso organismo".

A primeira edição do projeto foi realizada na quadra Santo Gol, em Campo Grande, e teve a adesão de nove meninos trans do estado. Rodrigues esclarece que o investimento é na divulgação para que mais meninos possam participar. O coordenador criará o primeiro campeonato de futebol transmasculino de Mato Grosso do Sul. “Esse foi o primeiro dia que nós estamos realizando e vieram poucos meninos, mas a gente acredita que esse evento tende a crescer. Estamos iniciando agora e a gente tem que fazer essas tentativas primeiro, eu tenho certeza que eles vão voltar e isso vai estimular para que outros venham também”. 

De acordo com o ginecologista obstetra e responsável técnico do Ambulatório de Saúde de Travestis e Transexuais do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap), Ricardo do Santos Gomes o esporte tem vários benefícios para todos os indivíduos da sociedade, e principalmente para a população trans nessa etapa de modificação corporal, como a diminuição do colesterol, pressão alta e diabetes. “Nos homens trans uma das coisas que pode acometer bastante é justamente o colesterol, ele está bem ligado ao uso dos hormônios, porque há uma inversão, o homem que tem mais propensão de ter aumento de colesterol do que a mulher de modo geral, e quando a gente faz a hormonioterapia isso também acaba acontecendo com os homens trans”.

O médico esclarece que os benefícios diretos e a prática esportiva estimulam indiretamente a integração e a visibilidade da população trans, e auxiliam na sensação de bem-estar com o corpo. Gomes afirma que a atividade física auxilia os homens trans na definição da musculatura física que desejam com a transição. “A partir do momento que eles começam a usar testosterona, é mais fácil de ganhar massa muscular, então isso ajuda a definir a forma do corpo que eles almejam, um corpo mais masculino, porque você vai ter uma hipertrofia da musculatura agora com a ajuda da testosterona”. 

O médico complementa que o exercício auxilia na diminuição da depressão e dos vícios, como o de cigarro, muito usado entre a população trans. Gomes sustenta que o esporte libera endorfinas que somam ao bem-estar e ajudam a combater os vícios. “Por conta da vida difícil que eles têm de modo geral, de rejeição e tudo mais, é muito fácil estar associado a depressão, e o esporte é uma das coisas que melhoram muito, ajuda tanto o combate a alguns vícios, mas também bastante com a depressão”.  

Segundo Rodrigues a transmasculinidade no esporte gera discussões e preconceitos, e que praticar atividades físicas com homens cisgênero é difícil para os homens trans, principalmente por causa da vergonha. “Eu não jogaria bola com um homem cis por exemplo, por questão corporal, por questão física e também por vergonha. Nós sentimos vergonha e nós precisamos trabalhar isso. Porque nós somos homens, independe de ser cis ou não, mas existem essas limitações. Você saber que o outro não vai te julgar, por ser como você, é muito importante nesses momentos”. 

Para os coordenadores do Ibrat, a inclusão social é mais importante do que a física. O coordenador adjunto do Ibrat, Théo Toledo afirma que praticar esportes entre homens trans facilita a inserção do indivíduo em atividades tradicionalmente praticadas por cis, o que torna o ambiente confortável, com empatia e ausência de preconceito. Rodrigues afirma que a inserção social é importante para evitar o isolamento na fase de transição e que atividades em grupo existem para evitar essas situações.

O médico Ricardo Gomes esclarece que o processo transexualizador ocorre a partir da inversão na dose dos hormônios aplicados. Para os homens trans, que nasceram com o sexo feminino e se identificam com o gênero masculino, o uso é de testosterona. Para as mulheres trans, que nasceram com o sexo masculino e se identificam com o gênero feminino, usa-se estrogênio e um bloqueador de testosterona. “Já tem algumas mudanças corporais, desde o que eles almejam, os homens, barba, distribuição da gordura corporal, engrossamento da voz, até outros como maior chance de ter problema com colesterol”. 

Elaboração: Rúbia Pedra

Gomes afirma que o ambulatório do Hospital Universitário é o único ambulatório de Mato Grosso do Sul direcionado ao atendimento da população trans para realizar o processo transsexualizador. Ainda segundo ele, a primeira etapa é direcionada a terapia hormonal. ''É necessário um período de adaptação aos remédios hormonais antes de realizar a cirurgia, o processo transexualizaror". Após o processo transexualizador, são realizados exames físicos e piscológicos com frequência para garantir a qualidade de vida do paciente.

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