SAÚDE

Campo Grande registra aumento no número de cobras em residências nos cinco primeiros meses de 2021

A Polícia Militar Ambiental realizou 48 apreensões de cobras no perímetro urbano da capital entre janeiro e maio deste ano, número superior às apreensões realizadas no mesmo período de 2020

Ayanne Gladstone, Beatriz Saltão, Roberta Martins26/05/2021 - 12h31
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Campo Grande registrou aumento no número de capturas de serpentes entre janeiro e abril deste ano se comparado aos quatro primeiros meses de 2020, de acordo com comparativo divulgado pela Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul (PMA-MS). Na capital foram 48 serpentes apreendidas entre janeiro e maio de 2021, enquanto 18 apreensões fecharam o mesmo período de 2020. No mês de abril foram 16 apreensões, entre elas, oito Jiboias e uma Urutu-Cruzeiro, duas das espécies mais apreendidas segundo o comparativo. 

Pesquisa coordenada por professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade de São Paulo (USP), registrou 38 espécies de serpentes para Campo Grande. Dentre as espécies catalogadas, apenas sete são peçonhentas, pertencentes às famílias Viperidae e Elapidae. O grupo mais comum é o das cobras dormideiras, identificadas como Dipsas turgidatambém conhecidas como 'Jararaquinhas', mas essas são serpentes pequenas e inofensivas que se alimentam de lesmas e caracóis. 

A bióloga e professora do setor de Zoologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Vanda Lúcia Ferreira, que também é uma das autoras da pesquisa, explica que o processo de urbanização influencia na presença de cobras e serpentes em perímetro urbano. Os animais se realocam nas áreas de vegetação que ainda estão preservadas e saem em épocas de reprodução. “A presença desses animais surge de três situações: quando ele tem alimento, abrigo e água. Então às vezes a pessoa não junta lixo e recolhe, os deixa em amontoados. É onde tem abrigo para os animais”. 

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Vanda Ferreira ressalta que as mudanças climáticas contribuem para os aparecimentos. Ela explica que esses animais dependem da temperatura externa para realizar suas funções metabólicas. “Quando está úmido, o animal se sente confortável para sair pertinho do córrego, pertinho do Lago do Amor, por exemplo. Então se está chovendo, se está muito alagado, os animais começam a migrar. E é aí que eles entram nas casas. Então a temperatura, a umidade, tudo isso interfere”. 

Vanda Ferreira explica que em alguns ambientes as espécies de cobras são distribuídas de forma desigual, e que o tipo de ambiente torna o aparecimento de uma espécie mais propício do que outra. “São 38 espécies de serpentes em Campo Grande, peçonhentas e não peçonhentas. Dentre essas 38 espécies, apenas sete são peçonhentas, então a possibilidade de você encontrar uma não-peçonhenta é muito maior do que uma peçonhenta.”

A Crotalus durissus, conhecida como Cascavel, teve quatro apreensões em 2021A Crotalus durissus, conhecida como Cascavel, teve quatro apreensões em 2021 - (Foto: Rodney Murillo Couto)

Orientações e tratamento

O tenente-coronel da Polícia Militar Ambiental (PMA), Ednilson Paulino Queiroz orienta que, em caso de aparecimento, as crianças e animais domésticos se afastem do animal e que a família acione a PMA, além de denunciar ao órgão competente terrenos com entulhos, locais onde cobras e serpentes se escondem. “O ideal é nunca chegar próximo do animal. Localizou? Chame o órgão para fazer essa captura”. 

A moradora do Bairro Santo Antônio, Vila Base Aérea de Campo Grande, Tatiane Vasconcelos relata que os aparecimentos mais comuns são os de sapos e escorpiões. No dia 20 de abril, ela encontrou uma Urutu-Cruzeiro no portão de sua casa. A moradora conta que a cobra se sentiu ameaçada com a aproximação de sua cadela e conseguiu cortar seu focinho antes de ser morta pelo marido. A cadela foi levada ao veterinário e passou por tratamento. 

Cobra Urutu Cruzeiro em casa de moradora na Vila Base Aérea, em Campo Grande - (Foto: Tatiane Vasconcelos)

Tatiane Vasconcelos, que está grávida de um segundo filho, alega que desenvolveu hábitos de limpeza ainda mais frequentes após a aparição da cobra. Ela e o marido retiraram os utensílios da garagem e agora mantêm a grama aparada para manter o controle do terreno. “Nós sentimos medo mesmo, mas nós também estamos em um local muito próximo deles. Tem um lago, uma pequena represa que passa aqui atrás, então nós estamos no habitat deles. Tem que aprender a conviver e precaver”. 

Para a bióloga Vanda Ferreira, as serpentes só atacam quando se sentem ameaçadas e reforça que não se deve matá-las. Ela explica que, em caso de acidente com cobra peçonhenta, deve-se imediatamente procurar um médico. Existem mitos sobre tratamentos ineficazes, como chupar o local do ferimento ou ingerir bebida com componente alcoólico, o que atrapalha no tratamento médico. “O ideal é lavar com água e sabão e ir ao médico. Coloca o membro na altura do coração. Se o ferimento for na perna, por exemplo, senta e coloca a perna para cima, e vai para o médico”. 

Serviço

Cobras na área urbana ou residências acione a PMA por meio do telefone (67) 3357-1501 ou o Centro Integrado de Vigilância Toxicológica (Civitox), número (67) 3384-8655, que disponibilizou um manual de primeiros socorros para emergências toxicológicas. Opcionalmente, para mais informações sobre a identificação e resgate das espécies, contate o Laboratório de Pesquisa em Herpetologia (UFMS) através do telefone fixo (67) 3345-7341. O Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) é a unidade referência para atendimento de acidentes com animais venenosos, localizado na Avenida Engenheiro Lutero Lopes, 36 - Conjunto Aero Rancho, telefone (67) 3378-2500. 

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