SAÚDE

Grupo Mulheres de Peito auxiliam vítimas do câncer de mama

Criado há quatro anos por mulheres diagnosticadas com a doença, o grupo recebe pacientes de todo o Estado

AMANDA FRANCO, ANA KARLA FLORES E LETHYCIA ANJOS23/10/2018 - 19h00
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O grupo Mulheres de Peito, criado por Ivone dos Santos Campos, Ana Lúcia Maridel e Adriana Roque, realiza atividades de auxílio psicológico e financeiro para mulheres vítimas do câncer de mama em Mato Grosso do Sul. O projeto possui 67 membros e é uma das iniciativas parceiras do Outubro Rosa, que objetiva conscientizar a população sobre a doença. Diversos eventos são realizadas por instituições públicas e privadas para incentivar homens e mulheres a realizarem exames preventivos. O diagnóstico precoce da doença aumenta as chances de cura e reduz a mortalidade.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), 59.700 novos casos do câncer de mama são estimados para os anos de 2018 e 2019. Para cada 100 mil mulheres, o risco estimado é de 56,33 casos. Esse tipo de câncer é o mais frequente nas mulheres das regiões Sul (73,07/100 mil), Sudeste (69,50/100 mil), Centro-Oeste (51,96/100 mil) e Nordeste (40,36/100 mil). Em Mato Grosso do Sul, a doença matou, em 2016, 180 mulheres, com 87 casos em Campo Grande e apresenta incidência de 830 novos casos para cada 100 mil habitantes no estado.

O câncer de mama é uma doença desencadeada por uma proliferação celular atípica. O oncologista do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, Manoel Henrique Dutra explica que existem diversas causas do desenvolvimento desta proliferação. “As causas atualmente mais conhecidas, que são mais explicadas e mais estudadas, é a proliferação celular em decorrência de fatores genéticos e proliferação celular decorrente de hábitos de vida não saudáveis, como a prática inadequada de atividade física, ingesta rica em gordura e ingesta pobre em frutas, verduras, legumes, vegetais em geral”.

Dutra ressalta que a doença também atinge pessoas do sexo masculino. “É um índice muito baixo, em torno de 1%, mas é uma coisa que tem que ser dita porque o homem também tem que conhecer o seu corpo, bem como a mulher, fazer os exames de prevenção e procurar atendimento médico adequado”.

Os exames são realizados de acordo com cada paciente e variam desde raio-x do tórax, ultrassom de abdome, em alguns casos tomografia torácica, tomografia de abdome e cintilografia óssea. Para o oncologista, os exames são fundamentais para o estadiamento e devem ser feitos em todas as pessoas com prognóstico de câncer de mama.

A doença envolve tratamento cirúrgico, o qual define o resultado histológico, posteriormente avaliado para início do tratamento adjuvante, que consiste em quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia. Dutra afirma que existem inúmeros protocolos de quimioterapia. “Esses protocolos são individualizados para cada paciente, não existe um protocolo único, exclusivamente para todos. A depender do resultado do tratamento cirúrgico, o protocolo vai ser individualmente escolhido para cada paciente de acordo com o estadiamento”. 


   Para Colacino, prevenção é fundamental 
   (Foto: Ana Karla Flores)

De acordo com o chefe de oncologia da Santa Casa de Campo Grande, Fabrício Colacino o diagnóstico precoce do câncer de mama é fundamental para o tratamento, pois reduz os transtornos causados pelas cirurgias, sessões de quimioterapia e radioterapia. “No caso do câncer de mama não é possível detectar um nódulo pequeno através da palpação, ou seja, o auto exame ou o profissional examinando. Normalmente quando se palpa o tumor ele tem  em média 2 centímetros, não é tão pequeno, portanto para fazer o diagnóstico precoce é necessário a mamografia”.

A aposentada Ivone Campos foi diagnosticada com câncer de mama do tipo carcinoma ductal em 2001 e há 17 anos enfrenta a doença. Após realizar a primeira cirurgia em 2002, a aposentada começou o tratamento de quimioterapia e radioterapia e, durante cinco anos, fez o tratamento hormonioterápico. Ela explica que, em 2013, descobriu que o tumor havia se espalhado do ombro para o antebraço e roído seus ossos. “Tenho metástase óssea mas controlada. Então eu eu não sinto dor mas eu não tenho essa parte do osso. Fiz uma cirurgia em que foi colocada uma prótese. Por isso é importante a prevenção, porque no meu caso, quando diagnosticou o câncer, já estava avançado”.


   Ivone Campos ajudou criar o Amigas do Peito
  (Foto: Ana Karla Flores)
 

Ivone Campos relata que, no início, rejeitou o tratamento e depois percebeu que precisava enfrentar o câncer e ajudar as mulheres que passavam pela mesma situação. Ela, Ana Lúcia Maridel e Adriana Roque, que também foram diagnosticadas com a doença, criaram o grupo Mulheres de Peito em prol do acolhimento e apoio por meio de trocas de informações e conhecimento sobre o câncer de mama, com objetivo de auxiliar as mulheres psicologicamente. “Nós percebemos que quando estamos no hospital, a gente vai conhecendo as mulheres, convivendo com elas  e muitas não tem uma estrutura para enfrentar a doença. Até são abandonadas pelo marido, pelo companheiro. Então fica difícil para a mulher enfrentar sozinha”.

O grupo criado há quatro anos possui, atualmente, 67 mulheres que realizam reuniões mensais. “Nem sempre a mulher consegue conversar com a família sobre isso porque eles sofrem muito. Então a gente quer poupar a família desse sofrimento que estamos causando. Porque ainda tem isso, às vezes nos sentimos culpadas de causar um sofrimento”.

O grupo Mulheres de Peito recebe mulheres de todos os hospitais de Mato Grosso do Sul, realizam o “café do amor” a cada 15 dias na Santa Casa de Campo Grande e fazem oficinas de artesanato como forma de terapia. Os produtos são expostos para venda em feiras e complementam a renda das mulheres que foram impossibilitadas de receber aposentaria. 

Ivone Campos ressalva que o grupo é importante por auxiliar no tratamento psicológico da doença. “Quando você esquece a sua dor para cuidar da dor do outro, ela passa. Então para nós, faz muito bem porque estamos ativas. Nós trabalhamos muito nessa parte, de animar essas mulheres, porque se elas se entregarem para doença, elas não resistem ao tratamento”.

Para o oncologista Fabrício Colacino, iniciativas como a do grupo Mulheres de Peito contribuem para o tratamento das mulheres acometidas pelo câncer de mama. “A mulher vítima do câncer tem sua imagem corporal alterada, seu psicológico abalado, o distanciamento da sociedade, da comunidade que ela vive, e quando a gente faz promoção a saúde, atividades visando a reinclusão e um tratamento adequado e humanizado, faz toda a diferença. Isso muda o panorama e devolve para a mulher não só o sorriso no rosto e a dignidade, mas a certeza de um suporte durante o tratamento oncológico”.

Entre as ações realizadas na capital para promover o Outubro Rosa, está o Primeiro Simpósio de Oncologia da Santa Casa de Campo Grande. O evento ocorreu no dia 20 de outubro, com programação de palestras com profissionais, como o médico assistente do Hospital Sírio Libanês, Raul Cutait e a médica Ana Cláudia Quintana, especialista em cuidados paliativos pelo Instituto Pallium e Universidade Oxford. Um projeto de prevenção do câncer também foi realizado nas unidades móveis, em que ocorreram mais de 230 exames entre mamografias e exames de sangue para prevenção.

A Sociedade Auxiliadora Feminina da Igreja Presbiteriana Central de Campo Grande, em parceria com a Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp) e com o Hospital de Câncer de Barretos promoveu, no dia 19 de outubro, na Praça do Rádio Clube, uma ação social em apoio à campanha Outubro Rosa. Foram disponibilizadas 48 exames mamografias e 100 exames preventivos na unidade móvel do hospital. 

Outros serviços oferecidos pelos acadêmicos dos cursos de Medicina e Enfermagem da Uniderp e da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) foram aferição de pressão, orientação sobre o autoexame da mama, tipagem sanguínea e teste de glicemia. Também foram realizados cortes de cabelo gratuitos e arrecadação de lenços para doação à Rede Feminina de Combate ao Câncer. O evento objetivou conscientizar a população sobre a importância da prevenção do câncer de mama, com palestras e rodas de conversas.

A Rede Feminina de Combate ao Câncer atua no Hospital Alfredo Abrão e atende pacientes que estão em tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A entidade recebe doações de cabelos para a confecção de perucas, lenços, roupas e sapatos. Com o dinheiro recebido pela venda de produtos como camisetas, guarda-chuvas, copos e chaveiros, a Rede compra sutiãs especiais com prótese para pacientes que fizeram a mastectomia

Serviço

A prevenção do câncer de mama é realizada gratuitamente pelo Hospital de Câncer Alfredo Abrão durante todo o mês de outubro. O paciente deve levar documento pessoal e cartão do SUS, caso tenha. São realizados 70 exames diários, no período matutino e vespertino.

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