PREVENÇÃO

Campo Grande implementa projeto que permite autoteste de HIV

Cidade é a segunda capital do país com maior incidência do vírus e Centro de Testagem e Aconselhamento atende cerca de 90 pessoas por dia

Gabriela Dalago e Gabrielle Tavares Rodrigues20/10/2019 - 23h08
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A capital sul-mato-grossense é a segunda cidade do país a integrar o Projeto A Hora é Agora - Testar nos Deixa Mais Fortes, que foca na prevenção e detecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) em um período de tempo favorável para o diagnóstico por meio da realização de autoteste fornecido gratuitamente. O projeto é uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), com apoio da Prefeitura de Campo Grande e tem como público-alvo homens gays e homens que fazem sexo com homens (HSH) acima de 15 anos.

O projeto, iniciado em Curitiba em 2014, se destaca por fornecer o exame de forma simples e rápida por meio de um cadastro online na página do programa A Hora é Agora. Em Campo Grande uma senha é liberada após o cadastro para a retirada do pacote no Pátio Central Shopping, que é uma caixa com dois autotestes. A coordenadora da Rede de Atenção Especializada da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), Andreia Silva enfatiza que o teste extra pode ser guardado para outra possível situação de risco. “Caso ele queira se retestar, ele já tem acesso a esse outro autoteste, ou ele pode entregar para o parceiro dele também realizar o teste".

O kit contém os instrumentos necessários para a realização do exame e um cartão para a marcação do tempo de duração do teste, que é de 20 minutos. Andréia Silva explica que o resultado é obtido por meio da coleta de fluido oral, com uma haste flexível (cotonete) estéril. “Ele vai passar o cotonete na parte superior e na parte inferior da boca, e vai colocar num dispenser para que o teste possa correr. Mesmo que o teste dê negativo, ele tem uma janela imunológica de 28 dias. Então é um teste de rastreamento e não um teste diagnóstico, precisa fazer um teste confirmatório. A gente faz mediante uma gota de sangue da polpa digital e leva de 15 a 30 minutos, e aí é confirmado o resultado”.

A coordenadora orienta que em caso de dúvidas, independente do resultado positivo ou negativo, o usuário deve buscar auxílio no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), que dispõe de equipe preparada para atender todos os casos. “Lá a gente oferta, além da testagem do HIV, o teste rápido de Hepatite B, Hepatite C e Sífilis. A gente faz o rastreamento completo. Se esse usuário for só para ser orientado, a equipe também está pronta para isso”.

O paciente será acolhido e passará pelo processo de orientação, desde o diagnóstico até o tratamento, caso seja confirmada a doença. A especialista afirma que a terapia de antirretroviral (TARV), que consiste na ingestão de dois comprimidos por dia é oferecida no CTA. “Existem as excepcionalidades, e esse tipo de paciente não é manejado no CTA, ele vai ser transferido para nossa outra unidade, que é o Centro Especializado em tratamento de Doenças Infecto-Parasitárias (CEDIP), para que ele possa ter um atendimento com um especialista infectologista e ver o melhor tratamento”.

O estudante do curso de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Otávio * é homossexual e afirma que faz testes de HIV regularmente. Segundo ele,  a doença é um tabu, por esse motivo as pessoas demoram para procurar ajuda e ocorre o diagnóstico tardio. “Hoje em dia, principalmente na comunidade LGBT, as pessoas não estão cientes do que isso [HIV] acarreta na vida das pessoas. Porque uma vez que você é soropositivo, você vai ser soropositivo para o resto da vida”. 

Ele relata que é necessário que a população cuide da saúde para evitar a disseminação do vírus. “É complicado, algumas pessoas julgam muito errado e vêm como promiscuidade, mas esquecem que existem casos de estupro, de drogas injetáveis. Então é necessário fazer o teste, porque não tem como você descobrir se não for atrás”. O estudante acredita que é melhor prevenir do que tratar a doença. “Nós estamos suscetíveis. E mesmo que aconteça, caso adquira, ainda assim sua vida não vai acabar. Não é um bicho de sete cabeças, você consegue levar uma vida normal, mesmo sendo soropositivo”.

Andreia Silva destaca que é preciso incentivar a prevenção combinada, que consiste em conciliar mais de um método de prevenção, e é muito utilizada quando se trata do HIV. “Oferecemos esse serviço pelo Sistema Único de Saúde (SUS), onde são disponibilizados para o usuário gel lubrificante e o preservativo, tanto o feminino quanto o masculino, e para adolescentes”.

Ela explica que as primeiras 72 horas após o contato com o vírus são importantes. As chances de cura são de 90% quando associadas ao uso da profilaxia pós-exposição (PEP), e o tratamento feito por 30 dias. "Hoje a gente oferta a PEP nas de entrada das redes de atendimento de urgência, porque é uma urgência. O paciente que sofreu uma exposição de risco, seja consentida, por acidente material ou violência sexual, pode acessar o serviço de urgência para ter acesso a PEP em até 72h, que é o período onde a gente tem a eficácia da medicação no combate a contaminação pelo vírus do HIV. Casos após esse período tem uma outra conduta, são investigados de outra forma”.

Para outros casos, o CTA oferta a profilaxia pré-exposição (PrEP), que tem como público alvo pessoas sorodiscordantes, em que apenas um indivíduo da relação tem o vírus, ou profissionais expostos a situações de risco com maior facilidade, como "profissionais do sexo". “A profilaxia pré-exposição seria, antes de ter o risco de contaminação, já fazer o uso da medicação para evitar a contaminação do vírus. E é uma medicação contínua, um tratamento mesmo”.

HIV é a sigla em inglês para a imunodeficiência humana, o vírus ataca o sistema imunológico que é o responsável por defender o organismo humano de doenças. O médico Walnei Wellington Pereira relata que o tratamento, disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ajuda a combater a multiplicação do vírus e permite maior longevidade aos pacientes. “Ainda não existe cura para a infecção pelo HIV, embora os tratamentos sejam muito mais eficientes do que no passado”. 

De acordo com o último Boletim Epidemiológico de HIV/Aids, lançado em novembro de 2018 pelo Ministério da Saúde, Mato Grosso do Sul teve aumento no coeficiente de mortalidade da doença no período de 2014 a 2017, que cresceu de 5,6 para 6,2 mortes a cada 100 mil habitantes. O boletim aponta que o estado apresenta aumento na taxa de detecção de casos de HIV. Em 2014, eram cerca de 22,5 casos a cada 100 mil habitantes, e em 2017 o número aumentou para 24,3 a cada 100 mil habitantes, o que representa reforço no combate à doença.

Serviço 

O cadastro é realizado na página do projeto A Hora é Agora, sem nenhum custo, e o autoteste deve ser retirado no Pátio Central Shopping, localizado na rua Marechal Candido Mariano Rondon, 1380, Centro.

*Nome fictício

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