DENGUE

Campo Grande registra o menor número de casos confirmados de dengue dos últimos cinco anos

A maior incidência de casos aconteceu no ano de 2019, com mais de 34 mil notificações registradas na capital de Mato Grosso do Sul entre janeiro e setembro

Ayanne Gladstone Andrade Pinto, Beatriz Saltão, Débora Oliveira, Roberta Martins 9/11/2021 - 19h41
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Campo Grande teve o menor número de casos de dengue confirmados em 2021 nos últimos nove meses, com 373 registros no boletim epidemiológico de outubro da Gerência Técnica de Endemias da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau). O maior número de casos confirmados foi em 2019, com 34.515 registros entre janeiro e setembro. Entre janeiro e setembro de 2020, foram 14.466 notificações, uma queda de 19.849 no número de casos se comparado ao ano de 2019. 

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) desenvolveu o Plano de Contingência Para Arboviroses Transmitidas pelo Aedes aegypti No Estado de Mato Grosso do Sul, aprovado pelos municípios em 2020 com duração até 2022. A SES também lançou a campanha de enfrentamento à dengue, zika e chikungunya no dia quatro de novembro com seminários virtuais transmitidos pela plataforma Telessaúde MS, visitas técnicas aos municípios de Mato Grosso do Sul, o lançamento da terceira etapa do Sistema e-Visitas, o dia “D” de combate às Arboviroses, que acontecerá no dia 20 de novembro, e a inauguração da nova fase de liberação dos ovos do Método Wolbachia. Esse método iniciou a terceira fase da liberação de wolbitos, mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia, em Campo Grande pela campanha de enfrentamento ao mosquito.  

O método Wolbachia é uma descoberta do World Mosquito Program (WMP), que consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia. A junção do mosquito com a bactéria faz com que o vírus da dengue, chikungunya, febre amarela e zika interrompa seu desenvolvimento dentro do mosquito. A liberação em Campo Grande foi dividida em três fases e contempla mais de 30 bairros da capital, entre eles o Pioneiros, Moreninhas, Coophavila II, Piratininga, Universitário, Noroeste, Aero Rancho e Carandá Bosque.

O professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Antônio Pancrácio de Souza explica que o método consiste em uma nova remessa de Aedes aegypti com o Wolbachia, baseado no cruzamento entre os wolbitos e os mosquitos locais. O cruzamento entre as duas espécies faz os novos descendentes terem as mesmas características dos mosquitos wolbitos. “O Aedes aegypti com Wolbachia, e que tenha a capacidade reduzida de transmitir Dengue, Zika e Chikungunya, ao serem soltos na natureza, se reproduzem com os mosquitos do campo e geram Aedes aegypti com as mesmas características, tornando o método auto-sustentável. Lembrando que essa iniciativa não usa qualquer tipo de modificação genética”. 

O técnico de vigilância em Saúde da Coordenadoria Estadual de Controle de Vetores (CVV), Vagner Ricardo dos Santos explica que a cidade enfrenta uma nova epidemia de dengue de três em três anos por causa da sazonalidade do vírus. Ele esclarece que Campo Grande passou pela introdução do Sorotipo 4 (Dengue Tipo 4), que circula entre a população com o Sorotipo 1 (Dengue Tipo 1) e faz os especialistas temerem uma nova epidemia. “Nós temos o Sorotipo 2, e ele foi um dos principais fatores daquela grande epidemia de 2007, então muitas crianças daquele período pra cá não participaram daquela epidemia. Então provavelmente nós teremos esse agravamento”. 

Primeira Notícia · Vagner Ricardo explica como funciona a aplicação do fumacê

O Brasil registrou aproximadamente 500 mil casos de dengue e 158 mortes em 2007, número superior ao de 2006, com 76 óbitos confirmados. Mato Grosso do Sul registrou 45.843 notificações e foi um dos estados que concentraram 86% de todos os casos de dengue hemorrágica. Santos explica que a pandemia de Covid-19 fez com que o estado interrompesse a maior parte das atividades sem trazer prejuízo ao serviço do agente comunitário de saúde (ACS) para o controle dos vetores, ação que contribuiu para a diminuição dos casos em 2021 registrados no boletim epidemiológico de outubro. “Os agentes de saúde continuaram fazendo as visitas, nós continuamos fazendo as estratégias. Inclusive a utilização do fumacê em períodos de casos solicitados. Então todo o trabalho que foi realizado, tanto no ano de 2020 quanto nesse ano de 2021, contribuiu sim para essa redução, mas agora eu ressalto, a gente já está percebendo a presença do vetor”. 

Crédito: Ayanne Gladstone

Santos aponta que o controle de vetores precisa da participação direta da comunidade, porque 80% dos focos de mosquito estão dentro das residências. O morador do Jardim Aeroporto, Noan Fossati contraiu dengue três vezes e agora mantém os cuidados necessários para evitar a proliferação dos focos de mosquito. Ele afirma que seus vizinhos têm colaborado com a prevenção e que o fumacê circulou em seu bairro nas etapas de prevenção anteriores. “Eu não vejo panfletos, não ouço falar de projetos de conscientização. Por mais que a prefeitura esteja desenvolvendo projetos de combate à dengue, eu já contraí dengue três vezes e não desejo a mesma situação para ninguém da minha família, amigos ou vizinhos. Eu acredito que a prefeitura deveria desenvolver um contato direto um pouco maior com todos os bairros da capital, não apenas com os mais populares ou com maior incidência de focos de dengue. Combater a ignorância, que eu já tive um dia, e fortalecer a conscientização e a preservação da vida”. 

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