SAÚDE

CeTroGen realiza pesquisa com células-tronco para tratamento de osteoartrite

A primeira terapia celular foi realizada no início de outubro no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da UFMS por meio do Sistema Único de Saúde (SUS)

Fernanda Venditte, Júlia Renó e Mara Machado30/10/2018 - 01h33
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O Centro de Estudos em Células Tronco, Terapia Celular e Genética Toxicológica (CeTroGen) localizado no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS) é responsável pela pesquisa “Efeitos da terapia celular com células tronco mesenquimais do tecido adiposo e do infiltrado de plasma rico em plaquetas no tratamento da osteoartrite não responsiva ao tratamento medicamentoso” que, por meio da terapia celular, objetiva recuperar a cartilagem do joelho e auxiliar no alívio de dor crônica dos pacientes.  A osteoartrite  têm tipos de tratamento que são paliativos, em um grau que a doença está avançada, ela  provoca gastos ao Sistema Único de Saúde (SUS) devido à espera na fila de prótese e pelo preço elevado. Por meio da terapia o intuito também é melhorar o quadro dos pacientes no Estado e diminuir os custos. A primeira terapia celular com células-tronco foi realizada no dia dois de outubro deste ano no Humap-UFMS.

De acordo com o coordenador técnico do CeTroGen, Rodrigo Oliveira o projeto é inovador tanto para o Humap-UFMS, quanto para a Universidade. “Uma possibilidade que nós temos é coletar as células mesenquimais desses pacientes, cultivá-las em laboratório e logo em seguida fazer o implante ou o transplante, buscando a melhoria da qualidade de vida deles. Esse processo é único no momento no nosso setor, é inovador e tem trazido bom resultado”.

Oliveira ressalta que o tratamento celular de osteoartrite será o primeiro disponibilizado gratuitamente no Humap-UFMS e pelo SUS na região Centro-Oeste. “Atualmente, esse tipo de tecnologia só está disponível em grandes centros, com um custo muito alto, portanto as pessoas com uma menor renda não têm acesso a esse tipo de tratamento. Portanto, nós estamos implantando aqui no Humap-UFMS esse tratamento para pacientes do SUS, sem nenhum custo”.

Publicação da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), explica que a osteoartite é uma doença que causa desgaste da cartilagem articular e alterações ósseas, frequente em pessoas após os 60 anos de idade. Aos 75 anos, 85% das pessoas têm indício radiológico ou clínico da enfermidade e de 30% a 50% com alterações verificadas por meio das radiografias, queixam-se de dor crônica.

De acordo com a estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento da Região Centro-Oeste da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (PPGSD/UFMS)  e pesquisadora do CeTroGen, que estudou especificamente as células-tronco mesenquimais no joelho, Laynna Schweich, a terapia realizada com células-tronco consegue modular a inflamação que causa dor. “Além de modular a dor e o padrão inflamatório da inflamação, eu vou conseguir, a literatura constata isso, eu vou conseguir regenerar essa cartilagem e então restaurar a saúde desse paciente que tem artrose”. A pesquisadora ressalta que o tratamento terá um acompanhamento de seis meses e que o transplante inicial realizado no Humap-UFMS objetiva comprovar a eficácia do recurso terapêutico, para a realização de mais análises ou modificações no tratamento.

A coordenadora do CeTroGen, Andreia Antoniolli explica que as coletas de células-tronco nos pacientes são realizadas por meio de lipoaspiração. “As coletas são feitas por meio de uma lipoaspiração de pequena quantidade de gordura, lipoaspirado em torno de 50 e 100 ml. Esta gordura é trazida ao laboratório, é feita a extração da célula tronco, ou seja, daquele tecido todo, é separado só a célula tronco mesenquimal e essa célula é colocada em cultivo. Conforme ela vai se expandindo, a gente vai ampliando essa cultura, colocando em novos frascos, até que a gente tenha uma quantidade de milhões daquelas células para que elas possam ser transplantadas”.

Segundo estudo feito pelos pesquisadores Samira Yarak e Oswaldo Keith Okamoto da  Universidade Federal do Vale do São Francisco e Universidade Federal de São Paulo respectivamente, a célula-tronco mesenquimal destaca-se em pesquisas pré-clínicas e clínicas de terapia celular. Ela também pode ser isolada do cordão umbilical, da medula óssea e do tecido adiposo.

Andreia Antoniolli afirma que as células-tronco transformam-se em novos tecidos e também regeneram tecidos afetados por doenças. Ela destaca que uma das principais características das células-tronco mesenquimais é o efeito imunomodulatório. “Além da capacidade de diferenciação e de regeneração de tecidos, ela tem esse efeito imunomodulatório, que tem um impacto muito grande no tratamento de doenças de difícil manejo, como é a Doença de Crohn, por exemplo”.

A coordenadora do CeTroGen ressalta que a escolha dos pacientes para participarem do estudo é realizada de acordo com características específicas de pessoas que se enquadram ao protocolo da pesquisa. “Esses pacientes são pacientes do Hospital Universitário ou do Hospital Rosa Pedrossian, no caso da doença de Crohn e aí os pacientes que se enquadram dentro do protocolo, do método da pesquisa, eles vão ser selecionados pelo profissional médico para serem submetidos ao transplante”.

De acordo com a pesquisadora Laynna Schweich as restrições são apenas aos pacientes que tiverem doenças autoimune, câncer ou histórico de vírus da imunodeficiência humana  (HIV). “Essas doenças que interferem na imunidade do paciente, ele não pode estar participando, porque pode haver alguma interação com as células no transplante. Então precisa estar completamente saudável para a gente fazer essas células funcionarem corretamente”.

O coordenador técnico do CeTroGEn, Rodrigo Oliveira afirma que o tratamento regenera a cartilagem do joelho e auxilia no alívio de dor crônica, sem a necessidade do uso de medicamentos. “Nós estamos tentando fazer a recuperação da cartilagem, bem como reduzir o processo inflamatório desse joelho para que o paciente tenha uma melhor qualidade de vida. Então, nós temos dois grandes objetivos, primeiro, tratar o processo inflamatório e depois reconstituir a cartilagem desse joelho”.

 

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