O Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) registrou 187 casos da doença em 2018, 111 do subtipo mais comum, os linfomas não-Hodkin (LHN) e 76 de linfomas de Hodkin (LH). As taxas para o tipo LNH são de 5,68% de casos em homens e 4,5% em mulheres, a cada 100 mil habitantes. O câncer apresenta mais de 67 subtipos e o diagnóstico tardio é a principal causa de mortes.
A coordenadora do setor de Oncologia do HRMS, Sandra Maia afirma que a tendência é de que o índice da doença cresça nos próximos anos. "Não há uma estatística exclusiva para linfomas, porém estará dentro da estatística de crescimento para todos os tipos de câncer previstos pela OMS, que é de 63% nos próximos 20 anos". Sandra Maia destaca que mesmo que a forma de prevenção seja incerta, há cuidados que podem ser tomados. "Estudos sugerem que manter o sistema imunológico saudável, com peso adequado e dieta balanceada podem ajudar".
Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima cerca de 12 mil casos de linfoma no Brasil para cada ano do biênio 2018-2019. Um estudo da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) revelou que 53% dos pacientes tratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tiveram dificuldade de identificar o linfoma após os primeiros sintomas aparecerem. Cerca de 30% das pessoas com a doença levaram de um a três meses para serem diagnosticadas, e 16% demoraram até seis meses. O Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas, no dia 15 de setembro, tem o objetivo de conscientizar a população sobre os sintomas da doença e sobre a importância da identificação precoce do câncer para elevar as chances de cura.
A doença é dividida em dois grandes grupos, os LH e os LNH. O tipo LH se espalha de forma ordenada de um grupo de linfonodos para outro e o LNH se desenvolve de forma desordenada. As faixas etárias mais atingidas são de 15 a 35 anos ou acima dos 60 anos.
O sistema linfático exerce funções vitais para o funcionamento do organismo. Entre elas, retirar impurezas da circulação sanguínea e garantir o funcionamento do sistema imunológico, por meio da produção de linfócitos. Os linfócitos B produzem anticorpos, com o auxílio dos linfócitos T. As células natural killers (NK) são exterminadoras naturais e atacam as células infectadas sem a necessidade de anticorpos.
Os linfonodos atuam na defesa no organismo e tendem a ficar inchados, doloridos e avermelhados. A enfermeira Cristiane Schossler destaca que essa é uma reação normal, que geralmente atinge as regiões do pescoço, axilas e virilha. “A gente costuma dizer que eles são uma célula Hulk, porque na hora de defesa ele ficam grandes, mas depois voltam ao normal. Os linfócitos também, quando se tem uma infecção, eles se enchem, ficam inflamados, doloridos, mas a partir do momento em que ele conseguiu acabar com aquela guerra e houve a defesa, ele volta ao seu estado normal”.
A enfermeira ressalva que a dor pode ser vista como um sinal positivo, pois os cânceres são indolores em seu estágio inicial. Neste caso é importante ter atenção, principalmente se o nódulo for observado por um longo período, junto a outros sintomas como febre, falta de apetite e perda de peso. “Quando ele não volta ao seu estado normal, isso sim é um sinal de que algo está errado, então o que a gente indica é procurar um hematologista”.
Segundo Cristiane Schossle, o paciente precisa se consultar com um especialista para realizar exame físico e observar se existem características da doença. Em seguida, o encaminhamento para uma biópsia é feito para identificar o tipo de linfoma. “Depois, ele vai poder sentar novamente com esse médico, e definir um tratamento”.
A enfermeira Michelli Minhos Azambuja cuida do avô José Bortoloti, que foi diagnosticado com linfoma difuso de grandes células B. Ela relata que demorou cerca de três meses para descobrir a doença e Bortoloti achava que era uma infecção na garganta. Michelli Azambuja afirma que foi fácil conseguir o tratamento sem custos, que é oferecido pelo SUS. “Já está na quinta sessão e ele não teve qualquer tipo de reação nauseante. Isso foi um fato bem marcante pra família, por ele ter reagido muito bem ao tratamento, às quimioterapias. Nós esperávamos reações piores, mas pelo contrário, não teve nada. Então a gente fala que ele é uma fortaleza, é uma experiência de vida pra mim como neta, com enfermeira, estar passando isso com ele”.
Cristiane Schossle relata que o tratamento é feito com quimioterápicos e segue protocolos que variam de acordo com cada estágio da doença e quantidade de células acometidas. Alguns são realizados com corticoides, tipo de hormônio que proporciona equilíbrio entre íons e água no corpo humano e regula o metabolismo, por isso é importante um diagnóstico exato para que o tratamento seja feito corretamente. “O mesmo tratamento feito em Campo Grande, pode ser feito em qualquer canto do país. O que pode mudar é o intervalo de dias entre as sessões, que varia de 14 a 28 dias de acordo com o estágio”.
A enfermeira do Hospital Regional, Cristiane Schossle enfatiza que as causas do linfoma são indefinidas e que a predisposição a doença pode estar ligada à fatores genéticos ou outras doenças. “A gente não pode dizer, por exemplo, que uma pessoa que tem imunodeficiência vai ter esse problema, mas são pessoas que têm maior possibilidade em ter. Pessoas que têm doenças autoimunes, como lúpus, Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), H Pylori e outras doenças como essas, devem ficar mais atentas”.