SAÚDE

Erros em cirurgias realizadas pela Caravana da Saúde deixam sequelas em pacientes

Pacientes relatam problemas de visão e falta de acompanhamento médico após realizarem cirurgia oftalmológica na Caravana da Saúde

Alex Nantes, Isabela Assoni e Vinícius Reis19/06/2021 - 19h18
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O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e a empresa 20/20 Serviços Médicos S/S são alvos de ações judiciais por erros médicos ocorridos durante a Caravana da Saúde. Os pacientes alegam que perderam a visão parcial ou total de ambos os olhos após a cirurgia de catarata realizada na caravana. Alguns dos pacientes relataram sentir dificuldade na realização de tarefas simples do dia a dia ou retomar o trabalho. 

A Caravana da Saúde começou a ser divulgada em 2015 pelo governador Reinaldo Azambuja como um programa do Governo do Estado que possuía como objetivo zerar as filas de espera pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Caravana teve início em maio de 2016 com várias especialidades em 11 microrregiões do Estado. Segundo informações divulgadas pelo Governo do Estado a cirurgia de catarata é responsável por quase 90% dos atendimentos na Caravana da Saúde. 

José Alves da Silva mora em Miranda e realizou o procedimento na Caravana em 2016, no município de Corumbá. Segundo Bianca Gonçalves da Silva, neta de José da Silva, o atendimento aconteceu de forma rápida e simples. "Nós chegamos na Caravana em um dia, passamos pelo médico, não foi necessário fazer exame e no outro dia aconteceu a operação." De acordo com Bianca da Silva, o avô se recuperou bem da cirurgia e em menos de um ano relatou que estava perdendo a visão.

Segundo Juliane Alves da Silva, filha de José Alves, a perda de visão tem relação com o procedimento realizado pela Caravana. "Eu corri atrás, arrumei lá no Hospital São Julião, e descobri que por causa dessa cirurgia mal feita ele perdeu a visão em um olho. Os médicos do hospital falaram que a equipe da Caravana tinha que ter acompanhado mais de perto a cirurgia dele, porque era uma cirurgia delicada." A família descobriu que José Alves da Silva tinha glaucoma e pressão alta ocular

Aurea Lucia, de 83 anos, optou pela cirurgia de catarata disponibilizada pelo governo, devido ao alto custo do procedimento.  A filha Heliany Maria Demarcos relatou que a mãe ficou com a visão comprometida após o procedimento. "Uma das vistas (esquerda) ficou com dificuldade para perto e a que ela operou ficou com dificuldade para longe (direita). Ela até pode ficar sem óculos, porque uma compensa a outra, mas não sei até que ponto isso pode prejudicá-la futuramente." Para Heliany Demarcos faltou acompanhamento pós-cirúrgico e vai levar a mãe ao oftalmologista. 

O advogado Gustavo Scuarcialupi orienta que o boletim de ocorrência é o primeiro passo a ser realizado pelo paciente em casos de erro médico, dessa forma "o agente responsável por esse erro, seja imprudência, negligência, imperícia ou, até mesmo, dolosamente, ou seja, com intenção, será averiguado e o ato será apurado pela polícia. No mesmo momento o paciente deve procurar um advogado, porque independente da responsabilização criminal a pessoa pode entrar com uma ação cível, na área civil para reparar os danos sofridos". 

Primeira Notícia · O advogado Gustavo Scuarcialupi explica sobre os danos sofridos pelos pacientes pela visão jurídica

O oftalmologista do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap), Beogival Santos disse que atende muitas pessoas que realizaram a cirurgia de cataratas pela Caravana da Saúde. Conforme o especialista, muitos ficaram sem acompanhamento e tiveram diversos problemas como o descolamento de retina, infecções e perda completa da visão. "Operar por operar é complicado. Lá no hospital houve muitos operados indevidamente. Teve um caso de que o paciente passou por nós duas semanas antes de ir até a Caravana para levar a mulher para fazer um procedimento e não tinha nenhuma indicação, mesmo assim foi examinado na ação e passou pela cirurgia."

Santos acredita que os médicos que atuaram nos atendimentos eram capacitados e estavam sobrecarregados devido ao alto índice de pacientes que atendiam. "A gente tem que fazer vários exames no paciente para saber a real necessidade da cirurgia. Teve muitos da Caravana que realmente ficaram cegos por erros que não tem solução." Para o secretário Estadual de Saúde, Geraldo Resende é normal que ocorram pequenos erros durante as ações realizadas na Caravana devido a quantidade de atendimentos. Segundo o secretário, a ouvidoria da Secretaria de Estado de Saúde está aberta para atender todos os pacientes. "A pessoa deve vir aqui e a gente vê o que pode ajudar. A secretaria está disposta a ouvir, encaminhar e tentar dar uma solução a qualquer um dos casos."

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