SAÚDE

Governo do estado decreta fim da Emergência de Saúde Pública em Mato Grosso do Sul

Profissionais e pesquisadores em Saúde discordam da suspensão do plano de emergência da Covid-19 antes do período de outono e inverno, em decorrência do aumento nos casos de coronavírus e doenças respiratórias

Ayanne Gladstone, Débora Oliveira, Mariely Barros e Patrick Rosel 6/06/2022 - 10h34
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O Decreto nº. 15.930 publicado no Diário Oficial de Mato Grosso do Sul (DOE) determina o fim da Emergência de Saúde Pública por causa da pandemia de Covid-19 no estado. A decisão foi tomada pelo Comitê do Programa de Saúde e Segurança da Economia (Prosseguir), com base no cenário epidemiológico, cobertura vacinal, disponibilidade de doses e a capacidade de assistência à Saúde por parte do Sistema Unificado de Saúde (SUS). O Decreto n°. 15.930 revoga o Decreto n°. 15.396, de 19 de março de 2020, que implantou situação de emergência em razão da pandemia e ampliou as medidas de biossegurança em Mato Grosso do Sul

O Prosseguir mantém o monitoramento do coronavírus nos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, que possui 78,21% de sua população com o esquema vacinal completo. Secretaria de Estado de Saúde (SES) deve apresentar um relatório semanal de monitoramento do vírus e incentivar a vacinação da população e a testagem de Covid-19. A campanha de vacinação contra a Covid-19 continua em todo o estado e o Comitê recomenda manter o distanciamento social e o uso do álcool em gel 70% como medidas de prevenção ao vírus.

Créditos: Ayanne Gladstone

De acordo com a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), Veruska Lahdo Campo Grande apresenta um novo aumento nos casos de Covid-19 e doenças respiratórias. Ela explica que pessoas que estiverem com sintomas de gripe devem utilizar a máscara de proteção por pelo menos sete dias, independente do resultado do exame, como forma de prevenir que outras doenças respiratórias se espalhem entre a população. “É importante que pessoas com sintomas de Covid usem máscaras. Pessoas com comorbidade façam o uso da máscara para a sua prevenção, porque são os que têm maior risco de desenvolver complicações decorrentes da infecção por Covid. Também sobre a intensificação dos protocolos de biossegurança, da vacinação e higienização das mãos constantes. Nós estamos realmente passando por um aumento no número de casos e precisamos da colaboração da população”.

O infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Julio Croda afirma que discorda da suspensão do plano de emergência da Covid-19 antes do período de outono e inverno, quando há um aumento nos casos de doenças respiratórias. Ele explica que é dever do Governo do Estado esclarecer quais serão as medidas tomadas, caso haja um novo aumento no registro de infecções pelo vírus. “Tem que garantir um plano de emergência para caso haja um aumento de casos e principalmente de internações. O que o Estado vai fazer? Vai ofertar mais testes? Ampliar leitos hospitalares e de terapia intensiva?”.   

Primeira Notícia · Infectologista, Júlio Croda, fala sobre o fim do estado de emergência para Covid-19 em MS

A assistente social da Unidade Básica de Saúde (UBS) Carlota - Astrogildo Carmona, Onara Gomes explica que as medidas de prevenção nas unidades de Saúde permanecem as mesmas do início da pandemia. Ela afirma que no início do ano houve uma diminuição no fluxo de pacientes que procuram por tratamento e assistência nas unidades de Saúde e argumenta que o fim do decreto de Emergência poderia ser publicado em outro cenário epidemiológico, porque os casos voltaram a aumentar. "Com o tempo foi diminuindo as solicitações de exames e a procura pela vacina também foi diminuindo". 

O doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias, Everton Lemos afirma que, embora o fim da Emergência de Saúde Pública dissemine uma sensação de segurança à população de Mato Grosso do Sul, o estado registra um aumento repentino de casos de Covid-19, que estão relacionados às mudanças na temperatura que predominam com o fim do outono e início do inverno. Ele explica que os dois anos de pandemia enfrentados pela população abordou uma série de ensinamentos básicos de prevenção contra doenças virais que devem ser mantidas junto ao esquema de vacinação completo. “O distanciamento social é muito necessário, porque as pessoas costumam se aglomerar em ambientes fechados, o que contribui para o aumento de doenças respiratórias que, nesse momento, precisam ser evitadas. Com o aumento da cobertura vacinal em Mato Grosso do Sul, é possível reduzir ainda mais o número de infecções e óbitos pela doença”.  

Primeira Notícia · Doutor em Doenças Infecciosas, Everton Lemos aborda a importância em ter o esquema vacinal completo

O servidor público Nicolas Figueiredo contraiu Covid-19 em abril de 2022 e se manteve isolado da família por duas semanas antes que seu novo teste para Covid-19 desse negativo e ele pudesse retornar a sua rotina normal de trabalho. Ele explica que começou a utilizar máscara de proteção e álcool em gel apenas após ser infectado pelo vírus e afirma ser contra a revogação do decreto de Emergência no estado, porque, segundo ele, os casos apontam um aumento expressivo enquanto as pessoas diminuem as medidas de proteção. “Eu pego o transporte público todos os dias e posso afirmar que até dentro dos ônibus as pessoas já estão tirando a máscara, e a gente sabe que dentro do ônibus não tem como manter um distanciamento certinho. Esse decreto me preocupa porque nos dá aquela falsa sensação de segurança e, quando a gente fica com essa falsa segurança, a gente deixa de praticar as medidas de prevenção que aprendemos lá no início da pandemia”. 

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