O Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian está autorizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) a fazer tratamento hormonal em transexuais e travestis desde o mês de agosto. A permissão foi publicada no Diário Oficial do Estado. O processo de implantação do Ambulatório Transexualiador começou em 2016 por meio de demanda de pacientes registrada pela Associação de Transexuais e Travestis de Mato Grosso do Sul (ATMS). O ambulatório tem como objetivo principal a realização de procedimentos pré-cirúrgicos, como acompanhamento psicológico, ginecológico e hormonal.
De acordo com o médico responsável pelo ambulatório transexualizador, Ricardo Gomes o primeiro atendimento do paciente difere de acordo com o caso. Alguns chegam debilitados psicologicamente ou fisicamente e requerem atenção especial."Os pacientes, que são regulados pelo Sistema de Regulação (Sisreg), podem vir de qualquer unidade básica pois eles mandam para a gente por meio da assistente social. Dependendo do casos vai para o psicólogo em um primeiro momento, em outros vem direto para o hospital universitário, mas a maioria vem direto para cá".
Após a autorização de funcionamento do ambulatório transexualizador, o hospital pretende aumentar o número de atendimentos na capital, Campo Grande, e em cidades do interior do estado. Segundo Gomes, desde janeiro de 2017 foram 114 pessoas atendidas no Hospital Universitário. “De modo geral eles vêm a cada 3 meses com a gente. O retorno com o psicólogo varia, mas chega a ser semanal".
Segundo Gomes, há uma previsão de que as cirurgias de redesignação sexual se iniciem em 2019, conforme a Secretaria de Saúde e Ministério da Saúde autorizem os procedimento necessárias. "Por enquanto a a gente só faz o tratamento clínico, ou seja, hormonoterapia, o processo de adequação de sexo só com os hormônios. Aquela paciente que nasceu do sexo masculino e se vê como mulher vai usar estrogênio, e aquele paciente que nasceu do sexo feminino mas se vê como homem vai usar testosterona".

Implantação
Segundo a coordenadora de políticas LGBT da Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos (SDHU) do município, Cris Stefanny o processo de implantação do ambulatório surgiu a partir da necessidade dos serviços dada a crescente demanda. Em 2016, foram feitas as primeiras negociações para a implantação do ambulatório transexualizador com a Prefeitura, na gestão do ex-prefeito Alcides Bernal. “O prefeito Gilmar Olarte assumiu no meio da gestão, no entanto nós já tínhamos um diálogo pré elaborado com o antigo prefeito para a implantação das políticas da pauta LGBT, tanto que não existia a coordenadoria da política LGBT até então. O ex prefeito já existia essa predisposição. E quando entrou Gilmar Olarte, nós tentamos manter esse diálogo que nós já tínhamos com a antiga gestão, mas infelizmente não obtivemos sucesso”.
A ATMS protocolou no Ministério Público de Mato Grosso do Sul ação em que requisitava medidas para a implantação do processo do ambulatório transexualizador. “As demandas que o estado já tinha de busca na instituição, por conta ainda de estar no início de diálogos junto ao município, eram média de umas 60 pessoas aproximadamente”.
Cris Steffany explica que o número de pessoas que tem o interesse em fazer o tratamento acarretaria um custo elevado para o município, caso os procedimentos fossem realizados em outro estado por meio do Tratamento Fora do Domicílio (TFD).“Ficaria muito mais caro fora do estado do que fazer o tratamento aqui em Campo Grande, nesse sentido, estaria criando um gasto desnecessário para o município”.
Dificuldades
O vendedor Thomas Eduardo dos Reis, 22, começou o tratamento hormonal há um ano e meio em Campinas (SP). Natural de Campo Grande, Reis afirma que desde a infância passou por estágios de confusão em relação a sua identidade de gênero. “Desde pequeno eu sabia que estava faltando alguma coisa em mim, mas eu só me assumi como lésbica aos 14 anos. Foi quando eu cortei meu cabelo. Eu me olhava no espelho e pensava 'Tá legal. Estou bonita, mas está faltando alguma coisa em mim".