Dados do Centro Integrado de Vigilância Toxicológica, Civitox, apontam aumento nos casos de intoxicação por uso de medicamentos em Mato Grosso do Sul. No ano de 2014 foram 378 casos registrados e o primeiro trimestre de 2015 registrou 111 vítimas, ou seja, 30% do número total do ano passado. Muitos desses casos são consequência da automedicação. De acordo com o médico Rônei da Silva, 24, o costume de tomar remédios sem indicação e avaliação médica pode trazer consequências graves à saúde.
A automedicação é a ingestão de remédios sem a prescrição de algum especialista da saúde, seja ele enfermeiro, médico ou farmacêutico. De acordo com Silva, a automedicação acontece geralmente por indicação de conhecidos. “A pessoa diz o que está sentindo para um amigo; esse diz que teve a mesma coisa e passa a medicação que sobrou, porque não tomou tudo. A pessoa vai tomando e os sintomas vão piorando”.
Existem remédios, como antigripais, que são encontrados na farmácia e funcionam para acabar com os sintomas, como uma dor de cabeça. A ausência do sintoma dificulta no diagnóstico de uma doença mais grave. Segundo Silva, “uma dor de cabeça existente há muito tempo, mas que melhora com um remédio, pode esconder uma doença séria, como um tumor cerebral. A dor alivia com o remédio e a pessoa não procura o serviço de saúde. O maior problema da automedicação é a pessoa não procurar ajuda por achar que o problema foi resolvido, e não foi”.
De acordo com a farmacêutica Bárbara Dantas, 24, os remédios que não precisam de indicação são os chamados “sem tarja”, de uso esporádico. Existem ainda os remédios de tarja vermelha, que são vendidos sob prescrição médica, sem retenção da receita, e os de tarja preta, que também são vendidos sob prescrição, que tem a retenção da receita na farmácia. “Esses últimos são medicamentos que podem causar dependência física e psíquica”.
Em 2013, o Conselho Federal de Farmácia, CFF, divulgou a Resolução da Diretoria Colegiada, RDC, n° 586, que regulamenta a prescrição farmacêutica. De acordo com Silva, a falta de profissionais de saúde nas farmácias é outra circunstância que facilita a automedicação. “O problema, principalmente em cidades do interior, é quando você vai à farmácia e só tem o balconista. Eles visam o lucro da farmácia, então chegou, pediu e eles te vendem o remédio”. Além da facilidade para conseguir o remédio na farmácia, os problemas para marcar um atendimento médico também influenciam na automedicação. Segundo Dantas, “a consulta pode levar dias, ou semanas. O tempo também é um fator relevante para a automedicação”.
A ingestão de um medicamento sem prescrição médica leva à intoxicação, seja pelo remédio não ser o indicado para aquele problema, seja pela dosagem errada. Sem o dosagem certa da medicação, a substância pode se acumular no corpo e causar problemas para a saúde. Segundo o médico Silva, toda medicação tem um risco, e “o que difere o veneno do remédio é a dose”.
Campanha
O curso de farmácia da Uniderp promoveu uma campanha de recolhimento de medicamentos neste mês maio em que é comemorado o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. Foi realizada uma panfletagem para a conscientização do público e depois foram organizados dois pontos estratégicos de coleta de medicamentos nos campi da Uniderp. Segundo a coordenadora do Curso e da Campanha, Françoise Carmignag, o resultado foi bem interessante. “A gente teve um bom número de recolhimento de medicamentos”. A campanha acabou no último dia 16. Para quem perdeu o prazo, é possível recorrer às unidades de saúde do município e às farmácias que disponibilizam coletores de fármacos.