SAÚDE PÚBLICA

Pesquisa desenvolvida na UFMS produz larvicida natural para matar mosquito da dengue

Estudos apontam que líquido extraído da castanha de caju, fruto do cerrado, mata o Aedes aegypti em 48 horas

Danielle Matos, Ethieny Karen, Rafaela Flôr e Thiago Rezende26/11/2018 - 18h09
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O Centro de Estudos e Células Tronco, Terapia Celular e Genética Toxicológica (CeTroGen) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul desenvolve um larvicida natural extraído do líquido da Castanha de Caju e precisa de voluntários para que o produto seja patenteado. O projeto recebe o auxílio dos agentes de combate a endemias da Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau) para entrada nas casas. Os pesquisadores enfrentam dificuldades para realizar o monitoramento dos focos do mosquito. As chuvas do período primavera-verão aumentam os focos do mosquito Aedes aegypti e, consequentemente, os casos de dengue, zika vírus e febre chikungunya.  

O coordenador do Centro de Estudos e Células Tronco, Terapia Celular e Genética Toxicológica (CeTroGen), Rodrigo Oliveira afirma que o larvicida desenvolvido tem os mesmos efeitos que os larvicidas comercializados, é atóxico e sem contraindicação. “Esse produto que nós desenvolvemos, em todos os estudos pré-clínicos demonstram que não existe nenhuma possibilidade de causar alterações no DNA que podem levar ao desenvolvimento do câncer ou causar má formação em fetos”.

Oliveira explica que a equipe enfrenta dificuldades em testar o larvicida nas residências. “Nós vamos em alguns bairros onde os donos da casa não estão, e os funcionários não nos permitem entrar. Outro caso é iniciarmos o processo, mas ao retornarmos, como é um período é longo, não temos acesso na segunda ou na terceira vinda”. Oliveira afirma que este ano é o mais apropriado para realizar os testes nas casas em Campo Grande, pois nos próximos anos o mosquito adquire resistência e o larvicida perde a eficácia.

A bióloga e pesquisadora responsável pelo projeto de larvicida natural, Juliana Miron Vani observou durante os estudos que o larvicida combate outros estágios do mosquito Aedes Aegypti. “Não tem nenhum produto que mata a pupa, porque ela não se alimenta. Até o presente momento, não existia nenhum larvicida que matava. Eu trouxe essas pupas pro laboratório e o larvicida matou elas. Agora estamos fazendo o teste com o ovo e com o adulto”.

Juliana Vani afirma que nesta época do ano, fim da primavera e durante todo o verão, os focos de Aedes Aegypti aumentam, pois no período de chuvas e calor, as condições climáticas são favoráveis para a formação e desenvolvimento do mosquito. "Tem muito foco na cidade, pela sazonalidade da doença. Nós vamos passar por uma lipidemia de dengue e chikungunya, infelizmente. Tem muito foco, muito mesmo, tanto que não estou dando conta, sozinha não estou dando conta".

O produto final é inodoro e insípido (Foto: Rafaela Flôr) 

O produto desenvolvido pelo CeTroGen dura em torno de 15 dias no ambiente e o composto principal é o líquido da casca da castanha de caju e o Óleo de Mamona. É necessário que os agentes de combate a endemias visitem as casas a cada 15 dias. O teste do produto é difícultado devido a incerteza da presença dos moradores nas casas. Para que o produto seja patenteado para comercialização é necessário que haja 400 casas em que o larvicida foi testado. Atualmente o Centro possui 60 residências de voluntários cadastrados. 

A agente de combate a endemias, Josiane Abregos afirma que o trabalho dos agentes é convencer os moradores a participar dos testes com o larvicida. "Os agentes são as pessoas responsáveis por trazer informação de saúde para a população, então eles primeiro precisam entender a importância da pesquisa, e ao abordar o morador ou proprietário do imóvel, eles mostram essa ideia, porque a gente precisa de um apoio pra testar e utilizar".

Josiane Abregos relata que os agentes de combate a endemias têm dificuldades para entrar nos imóveis, tanto para vistoria dos possíveis focos como para aplicação do larvicida. "Hoje em dia as pessoas têm uma rotina muito corrida, então a gente tem dificuldade em encontrar o morador nas residência, às vezes quem fica nas casas são crianças e idosos e eles não são pessoas autorizadas a nos receber e não podem assinar nenhum documento oficial".

A agente Josiane Abregos aponta a segurança como outro fator que impede a entrada. "A gente tem dificuldade deles aceitarem a visita, por não nos conhecer ou por não saberem que aquele é o agente que faz a visita todos os meses. Às vezes ele [o proprietário] não quer que a gente entre, não atende o interfone ou vê pela janela".

Os últimos dados epidemiológicos divulgados em abril de 2018 pela Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau) apontam que 207 casos de Dengue, dois de Zikavirus e 16 de Chikungunya foram confirmados em Campo Grande. Janeiro é o mês com maior número de manifestações de casos de dengue, com 165 casos. De janeiro a abril houve 874 notificações de pacientes com dengue, 66 com Zikavirus e 54 com Chikungunya.

O Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa) do Ministério da Saúde identificou que 1.153 municípios brasileiros apresentaram alto índice de manifestação do mosquito, com risco de surto para a dengue. Campo Grande foi uma das cinco capitais que deixaram de enviar relatórios com informações sobre o levantamento solicitado. O Índice de Infestação Predial de novembro de 2018 aponta 27 Unidades Básicas de Saúde, responsáveis pelo monitoramento dos bairros, com presença de larvas nas residências. 

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