SAÚDE MENTAL

Mato Grosso do Sul registra 782 suicídios na população indígena

Mais de 44% das mortes autoprovocadas na população indígena ocorrem na faixa etária de 10 a 19 anos, média oito vezes maior que para brancos e negros

Dândara Sabrina, Pâmela Machado e Stefanny Azevedo16/09/2018 - 23h08
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O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) de Mato Grosso do Sul registrou 782 suícidios indígenas entre os anos 2000 e 2016, segundo pesquisa. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em 2017, a média nacional é de 5,5 suicídios para 100 mil habitantes. Os povos indígenas registram uma taxa de mortalidade de 15,2 mortes para 100 mil habitantes. Os altos índices de morte autoprovocadas por jovens indígenas reforçam os objetivos da campanha "Setembro Amarelo", que promove conscientização sobre a prevenção do suicídio. Setembro Amarelo foi criado no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em 2015.  

De acordo com o boletim pelo Ministério da Saúde, os maiores índices de mortes por lesões autoprovocadas em povos indígenas acontecem jovens de 10 a 19 anos, uma parcela de 44,8%. Para brancos e negros, esta faixa etária possui apenas 5,7% de incidência. Mato Grosso do Sul ocupa o terceiro lugar no maior índice de suicídios no Brasil, com uma média de 8,5 óbitos suicidas a cada 100 mil habitantes, entre 2001 e 2015.

Para o pesquisador doutor em Antropologia, Antônio Hilário Urquiza um dos fatores agravantes nos índices de suicidas jovens é a falta de perspectiva de vida para os povos indígenas. “Esses jovens indígenas, que é a faixa que mais acontece incidência de suicídio, que é dos 15 aos 30 anos, eles vão estudar, vão para escola, fazem o ensino médio, aí vão para faculdade. E depois vão fazer o quê? Eles não tem futuro fora do território indígena”.

Urquiza ressalta que as oportunidades, na maioria das vezes, são subempregos, com salários e condições que deixam de atrair os jovens indígenas. Para ele, o suicídio pode ser considerado, em grande parte, como um problema relacionado ao aspecto social e cultural.

Segundo a psicóloga especialista em saúde indígena, Josiane Emilia do Nascimento Wolfart a alarmante taxa de  mortes autoprovocadas ainda é pouco discutida, por ser um tabu na sociedade. Josiane Wolfart destaca que existem diversos fatores para o aumento destes números, como as perdas territoriais e as mudanças culturais numa comunidade. "Os jovens almejam hoje outro tipo de emprego, pela própria interferência cultural branca, novos valores e aquisições de bens materiais".

A psicóloga afirma que há necessidade de buscar medidas para redução dos índices de morte autoprovocadas e que existem atendimentos realizados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) apoiados por profissionais da saúde. Segundo Josiane Wolfart, as políticas públicas para atender estas comunidades indígenas  são insuficientes e que além da saúde, escola e família devem ser observados na prevenção do suicídio.

A acadêmica do curso de Biomedicina da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Maricelma Francelino é da aldeia Bananal e relata que, embora hajam muitos jovens na comunidade, poucos ingressam no ensino superior e os projetos voltados para esta faixa etária são esportivos. Ela destaca que até os que ingressam nas universidades sofrem por questões sociais, como a falta de convivência com espaços urbanos. “Se até mesmo jovens que já moram nas cidades e têm um pouco de conhecimento sobre a faculdade possuem uma certa dificuldade, imagina um indígena, que teve pouco ou nenhum conhecimento sobre isso”.

Maricelma Francelino ressalva que nenhum caso de morte autoprovocada ou tentativas ocorreram em sua aldeia e lamenta a perda de uma amiga da aldeia Limão Verde, também da região de Aquidauana. A acadêmica afirma que existem campanhas de prevenção ao suicídio que são promovidas pela Escola Estadual da Aldeia Bananal. Ela comenta que muitos jovens de sua comunidade se automutilam. “Na minha aldeia têm muitos casos de jovens, praticamente crianças, entre 12 a 16 anos que cortam os pulsos, ou tem depressão".

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