Mato Grosso do Sul registra, por dia, um novo caso da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). De acordo com o último levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES/MS), o estado apresentou 350 casos até julho deste ano. Especialistas acreditam que o principal motivo para o número de infectados pelo vírus é a perda do medo do contágio e a facilidade do acesso ao tratamento, que garante maior expectativa de vida.
Segundo dados do Boletim Epidemiológico de Aids 2016, do Ministério da Saúde, Mato Grosso do Sul é o sétimo estado com maior casos de Aids no Brasil. No ranking das capitais, Campo Grande aparece em sétimo lugar, além de ser a com maior índice de casos, entre as capitais com menos de um milhão de habitantes.

De acordo com a coordenadora do Programa Municipal de IST/Aids e Hepatite Virais da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) de Campo Grande, Denise Lima a população jovem é a que mais ignora o uso dos preservativos. “Os adolescentes não vivenciaram a década de 1980, época em que as pessoas, os famosos morriam de Aids. Hoje, eles têm acesso às redes sociais e pesquisam, sabem da existência do vírus, que não tem cura, mas também sabem que tem tratamento, todo de graça pelo SUS e de fácil acesso. Então, acredito que perderam um pouco o medo e esquecem da responsabilidade de usar preservativo”.
Denise Lima ainda afirma que, para os adolescentes, a maior preocupação é uso de métodos contraceptivos. “Observo que os jovens têm realmente a preocupação com a gravidez. A partir do momento em que a garota toma o anticoncepcional, o relacionamento fica mais sério, existe a confiança no parceiro e eles passam a não usar mais o preservativo. Hoje, se usar a camisinha corretamente, além de não contrair uma doença, não haverá chances de ter uma gravidez indesejada".

A enfermeira-chefe do Hospital-Dia "Professora Esterina Corsini", Adriana Negri explica que, no primeiro atendimento, os pacientes passam por uma consulta de acolhimento, para depois dar prosseguimento ao tratamento com exames e liberação para o uso de medicamentos. “Como são muitas informações, temos que ir por etapas. Vamos conversar, ver o que o paciente sabe sobre o assunto e saber, inclusive, como ele recebe essa notícia. Tem pessoas que se desesperam, que a ficha não cai. Oferecemos esse suporte social e psicológico e não passamos todas as informações num primeiro momento. Entramos em contato, abrimos o canal, fazemos a empatia, para que ela saiba que pode tirar dúvidas conosco”.
Para o infectologista Maurício Pompilio houve uma redução significativa na letalidade pelo HIV com o advento de medicamentos mais modernos. O antirretroviral, atualmente, é o medicamento mais importante para o tratamento. Ele também é conhecido como "3 em 1", pois em um comprimido há três drogas e se toma uma vez ao dia. “A taxa de letalidade reduziu mais de 50%. Hoje, uma pessoa jovem, que se diagnostica com HIV antes de adoecer, tem um excelente prognóstico. Ela vai fazer o seu tratamento e seguir adiante a sua vida. Tudo dependerá de como ela se cuida, se usa os medicamentos de forma correta, se esses não apresentam efeitos adversos. Tudo isso determinará se novos problemas de saúde irão surgir ou não. Se a pessoa realmente fizer o tratamento adequado, a expectativa de vida é muito boa”.
O infectologista ressalta que ter o HIV é diferente de ter Aids. Uma pessoa infectada pelo vírus pode permanecer sem manifestar sintomas num período de cinco até 10 anos. “A maioria das pessoas vive com o HIV sem estar doente. Então, não é ideal buscar um serviço, porque um sintoma pode ser de Aids. A pessoa deve procurar o sistema de saúde quando estiver bem, antes de apresentar sintomas, para que seja diagnosticada no melhor momento possível e, assim, em tempo hábil, o tratamento terá o melhor resultado. Se adoeceu e procurou um médico que confirmou o HIV, ainda há tempo de se tratar”.