A jornalista Karita Francisco foi doadora e tem cadastro no banco de dados nacional. Ela explica que a doação pode ser feita em duas etapas e que o doador tem autonomia para aceitar ou recusar fazer algum dos procedimentos. Uma das técnicas é a máquina de hemodiálise, na qual o sangue é filtrado e são retiradas as plaquetas, e a outra consiste na retirada direta da medula no quadril. Esta última é realizada no centro cirúrgico. A jornalista afirma que a qualquer momento o doador pode se recusar a doar.
Karita Francisco explica que o procedimento apresenta maior dificuldade para o receptor do que para o doador porque as células cancerígenas devem estar quase zeradas no corpo do receptor para receber as células saudáveis. “Eu ia doar para o meu primo, mas nesse processo a imunidade fica extremamente baixa. Nós estávamos com tudo pronto para fazer a doação, mas ele pegou uma bactéria e não sobreviveu”. Ela diz que se sentiu frustrada e atualmente espera apresentar compatibilidade com algum receptor para que seja chamada para realizar a doação. “Isso é salvar uma vida. A sensação deve ser maravilhosa”.
A medula óssea é caracterizada como um dos maiores órgãos do corpo humano, o tecido se localiza no interior dos ossos e é responsável pela produção das células do sangue, como hemácias e leucócitos. De acordo com a médica hematologista Barbára Sales, existem alguns mitos que envolvem a doação de medula óssea. “É muito comum a confusão de que a medula óssea é retirada no interior da coluna vertebral, na verdade, a medula espinhal é formada por tecido nervoso e está localizada dentro da coluna vertebral, já a medula óssea é retirada do interior dos ossos da bacia. Outro mito comum é pessoas acreditarem que o transplante é um procedimento cirúrgico, mas na verdade a doação e o transplante são procedimentos clínicos”.
A hematologista ressalta que existem várias indicações para o transplante, a mais comum é para doenças malignas oncológicas, como a leucemia. A indicação de transplante também é feita para outras doenças. “Existem várias doenças benignas da medula óssea, que afetam a produção das células sanguíneas e que se beneficiam do transplante de medula. Uma delas é a aplasia de medula óssea, as imunodeficiências congênitas, algumas doenças auto imunes e anemias, como a anemia falciforme”.
O professor Carlos Rezende foi inicialmente diagnosticado com leucemia, internado precisou de doação de sangue. Alunos e familiares do professor criaram a campanha “Amigos do Professor Carlão” nas redes sociais com o intuito de encontrar o maior número de doadores. “Eu recebi a maior doação de sangue na história do estado. Depois de tanto carinho que eu recebi, eu imaginei que aquilo que eu estava vivendo tinha uma mensagem, então eu pensei em usar todo esse amor recebido e criar um projeto, no qual eu me dedicaria o resto da minha vida, voltado a doação de sangue, doação de medula óssea e doação de órgãos”.
De acordo com o professor, a criação do “Instituto Sangue Bom" foi proposta enquanto estava hospitalizado. “Por ser biólogo, eu já tinha uma certa noção, fundei o projeto no leito do hospital, e saí de lá com uma ação para realizar. Comecei a fazer várias palestras, campanhas de doação de sangue e medula óssea. A princípio era o projeto sangue bom, sem imaginar o que teria seguinte. Saí de lá tomando muitos comprimidos, que era o que me mantinha vivo, e minha cura só seria possível com o transplante de medula óssea”.
Professor recebeu doação de medula óssea em São Paulo (Foto: arquivo pessoal)
O Instituto expandiu suas ações em abril de 2017. “É um instituto voltado para doação de sangue e medula óssea, mas também é voltado para solidariedade. No ano passado nós realizamos 273 ações, esse ano já passamos de 224 ações e esperamos passar essas ações realizadas no ano de 2018”.
Rezende ressalta que em três anos, 50 mil novos doadores foram mobilizados por meio das palestras e campanhas realizadas. “Nós temos uma parte que é de sensibilização do doador, que é feita com as palestras sobre a minha história, e é dessa forma que estamos colaborando com o aumento do número de doadores. Eu sou veementemente contra qualquer tipo de bonificação para se convocar alguém para que seja doador de medula óssea, eu acredito que se alguém toma uma atitude solidária, tem que ser sem esperar por nada em troca. Se bonificar, você perde a possibilidade de ter um doador fidelizado”.
Rezende participa da equipe Brasil de atletas transplantados, no qual é diretor regional Centro-Oeste. A equipe participou do campeonato mundial na Inglaterra, com 19 atletas receptores e três doadores em agosto de 2019. “Ano passado participei de duas competições, nos Estados Unidos e na Argentina. Tudo com apoio de amigos e parceiros que me ajudam como atleta, gratuitamente. Nessas competições internacionais, eu tenho nove medalhas representando o Brasil”.
Os primeiros Jogos Brasileiros para Transplantados acontecerão em Curitiba (PR) entre os dias 21 e 23 de novembro. Rezende é um dos organizadores do evento e representará Mato Grosso do Sul como atleta. Ele enfatizou que o evento proporcionará o encontro com seu doador de medula óssea no Paraná. “Eu destaco aqui que um pequeno gesto de um jovem me salvou a vida. E eu acredito muito na solidariedade. Porque praticar o bem é você fazer o bem para alguém que você nunca viu”.