DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

Mato Grosso do Sul tem o quarto menor índice de autorização familiar para doação de órgãos do Brasil

O baixo índice de transplantes é decorrente do processo de acolhimento pelos hospitais e da capacitação dos profissionais que realizam as entrevistas com os familiares

Thauana Luares, Daphyne Schiffer e Maria Eduarda Metran26/04/2023 - 06h24
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Mato Grosso do Sul é o quarto estado com a menor taxa de transplantes de órgãos por óbito cerebral do Brasil. A autorização da doação após morte encefálica é realizada pela família e pode inviabilizar o desejo final do doador. O percentual de concentimento para transplante de orgãos e tecidos de pacientes mortos no estado, foi de 26% em 2022, valor abaixo da média nacional de 44%.

A Central Estadual de Transplantes de Mato Grosso do Sul (CET-MS) contabilizou 29 entrevista com familiares de pacientes que vieram a óbito, que resultaram na doação de 10 órgãos. A fila de espera por transplantes em Mato Grosso do Sul possui 554 solicitações. O processo de acolhimento da família, realizado desde a entrada do paciente até o diagnóstico final, é um fator determinante para a autorização do transplante em caso de óbito.

A coordenadora da CET/MSClaire Miozzo explica que a comunicação prévia entre os familiares é eficiente para respeitar a vontade do doador. “É muito importante que a pessoa avise sua família que deseja ser um doador, esse assunto ainda é um grande tabu, por isso precisamos realizar campanhas institucionais no estado que incentivem as famílias a terem essa conversa em casa". Ela afirma que o estado dispõe de estrutura hospitalar e profissionais qualificados para a realização dos procedimentos, e o baixo índice de autorizações impede que o sistema público de transplantes seja utilizado em sua capacidade máxima.

A Lei nº 9.434 permite a doação de órgãos vitais de pacientes com morte encefálica após a autorização do cônjuge ou parente responsável. O diagnótico de comprovação é feito por exames clínicos, teste de apineia e exames complementares. A Cassems, Unimed e a Santa Casa de Campo Grande são os únicos hospitais habilitados para realizar o procedimento de captação e transplante dentro do tempo de isquemia determinado para cada órgão, em Mato Grosso do Sul.

tabela de isquemia para cada órgão

Segundo o presidente da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do Hospital Universitário (Humap-UFMS), Guilherme Henrique de Paiva os cursos e treinamentos de capacitação realizados pelos profissionais da área de saúde precisam ser revisados. “A parte médica de orientação e principalmente do manejo pós morte tem que melhorar, a gente faz o treinamento em si, mas deve melhorar um pouco mais”. Paiva afirma que o setor deve incluir psicólogos e assistentes sociais para otimizar o processo de acolhimento e aumentar os índices de autorização no estado. 

Primeira Notícia · Presidente da Cihdott, Guilherme Paiva, afirma que capacitação dos profissionais precisa de revisões

O programa de doação e transplantes é financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e sem custos às famílias do doador e do receptor. Os pacientes que precisam de transplantes são inscritos no Cadastro Técnico Único do Sistema  Nacional de transplantes (SNT) e devem aguardar em fila de espera. Os critérios para a seleção, como compatibilidade sanguínea entre doador e receptor e a viabilidade do transplante, independem da instituição.

A estudante de do curso de Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Anne Raissa Roberto Ferro recebeu o transplante renal em março deste ano, após aguardar na fila de espera do SUS por 11 meses, e afirma que o transplante permitie uma vida melhor. “O sentimento é de muita gratidão e respeito,  pois no momento mais difícil eles conseguiram pensar em salvar vidas, e nessa atitude de entrega e carinho pude receber esse rim, que vem me permitindo sonhar com uma vida melhor, mais ampla e de liberdade. Não os conheço, mas, saber que hoje carrego um rim de alguém que a família autorizou, esse gesto me faz sentir parte dessa família também”. Ela explica que o debate e divulgação de campanhas sobre o transplante de órgãos em Mato Grosso do Sul precisa "ganhar mais espaço para que as pessoas entendam a importância deste gesto".

O Projeto de Lei 137/2020, de autoria do Deputado Federal de Mato Grosso do Sul, Dagoberto Nogueira altera o trecho da legislação que determina que a responsabilidade pela decisão de doar os órgãos seja da família. “ O cônjuge ou responsável deve ser consultado apenas se não houver manifestação expressa do falecido, assim, estabelecer uma forma documental de certificar a doação de órgãos é a melhor forma de garantir que a vontade do indivíduo seja respeitada”. A proposta está em tramitação, sujeita à apreciação do Plenário, e será analisada pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) e pela Constituição e Justiça e de Cidadania.

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