As secretarias de Saúde de Estado e do Município elaboram Protocolo para adicionar heparina fracionada à lista de medicamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), em Campo Grande. Este Protocolo, também organizado pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, detalha normas de distribuição e prescrição do medicamento às pacientes do SUS, e deve ser apresentado no prazo de 30 dias. A heparina fracionada é indicada no tratamento da trombofilia na gestação, doença que causa a formação de coágulos sanguíneos.
A iniciativa começou depois que cerca de 40 gestantes recorreram à Justiça para que o medicamento fosse distribuído gratuitamente nas unidades de saúde de Campo Grande. A recepcionista Éricka Coelho Borges, 28, grávida de quatro meses, recorreu à Defensoria Pública para solicitar a distribuição do medicamento. Ela entrou com o processo em junho deste ano e deve aguardar até setembro, mês em que vence o prazo de resposta das secretarias de Saúde estadual e municipal. “Eu espero que dê certo, né? O médico disse que agora já passou a fase perigo. Agora, vai, se Deus quiser”.
A Coordenadoria de Atenção Farmacêutica (CAF), da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES-MS), participa das comissões para elaborar protocolo para o Ministério da Saúde referente à liberação do medicamento. Segundo o assessor de imprensa da SES-MS, Jefferson Gonçalves, a heparina fracionada não está disponível "porque o Ministério da Saúde justifica que a versão não fracionada do medicamento atende satisfatoriamente a demanda dos pacientes da rede de saúde".
A heparina é um medicamento anticoagulante utilizado em duas versões, na forma não fracionada e na forma fracionada, também conhecida como heparina de baixo peso molecular. A fórmula não fracionada faz parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), lista oficial de medicamentos que orientam as atividades de assistência farmacêutica do SUS. A Defensoria Pública do estado coordena o processo que irá adicionar a heparina de baixo peso molecular à lista do Rename. Esta versão da heparina oferece menos riscos de hemorragia e é administrada, diariamente, em dose única.
De acordo com a médica ginecologista e obstetra Rosane Dorsa, a trombofilia é hereditária e causa alterações nos componentes do sistema de coagulação sanguínea. O tratamento é feito com a administração de medicamentos que equilibram a coagulação. “A gente tem usado a enoxaparina e também tem sido usado a aspirina. Os resultados mostram que os dois medicamentos são utilizados, mas recentemente a gente tem observado que a enoxaparina tem um resultado superior ao da aspirina”.
Rosane Dorsa afirma que escolhe utilizar a enoxaparina segundo a classificação da Food and Drug Administration (FDA), órgão governamental dos Estados Unidos responsável pelo controle de alimentos, suplementos e remédios para seres humanos e animais.
Para a professora da área materno infantil, do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Gislaine Recaldes, o uso desses medicamentos durante a gestação, sob prescrição médica, diminui o risco de abortos recorrentes e perdas fetais. Ela afirma que é importante identificar a trombofilia com antecedência. “A identificação de pacientes portadores de trombofilias é importante para a prevenção de acidentes tromboembólicos”.