COVID-19

Número de casos da Covid-19 em indígenas cai 60% em Mato Grosso do Sul

O estado teve 469 casos confirmados de coronavírus na população indígena em janeiro, 247 casos em fevereiro e 178 casos no mês de maio

Emily Bem, Fernanda Feliciano, Gabriela Longo 1/06/2021 - 19h20
Compartilhe:

Os microdados da Secretaria de Estado de Saúde (Ses) apontam que o número de casos confirmados da Covid-19 entre a população indígena caiu 60,88% em maio de 2021 comparado a janeiro do mesmo ano. vacinômetro estadual indica que 88,47% dos indígenas aldeados foram vacinados com a primeira dose e 77,17% foram imunizados. A vacinação teve início em fevereiro e a segunda dose foi aplicada no mês de abril.

O estado de Mato Grosso do Sul tem 80.459 indígenas, de oito etnias diferentes. O boletim epidemiológico disponibilizado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) indica que as etnias Terena e Kaiowá foram as mais afetadas pelo vírus. O maior número de infectados se concentra entre os Terena, com 72,88% dos casos e o menor percentual entre os Ofaié com 0,02% dos casos.

Nota Técnica disponibilizada pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul indica que a taxa de letalidade da Covid-19 em indígenas é 1,96%, em brancos 1,84% e em amarelos 0,62%. A enfermeira Clodolina Martins relata que as orientações dadas pelo Ministério da Saúde foram seguidas pela população indígena e que devido à gravidade da doença tiveram que adaptar a rotina. “Os indígenas tiveram que renunciar muito da sua cultura, dos seus costumes. Porque o modo de vida deles é totalmente voltado para a aglomeração. Moram juntos, trabalham juntos, comem juntos e são macrofamílias".

Os indígenas aldeados foram definidos como grupo prioritário no Plano Nacional de Imunização, divulgado em dezembro de 2020. Clodolina Martins explica que isso ocorre por questões socioeconômicas, moradia e falta de saneamento básico nas comunidades indígenas, fatores que aumentam a propensão às doenças respiratórias. Ela afirma que o número de casos tem diminuído e que “com certeza essa diminuição no número de infectados é devido à vacinação”. O doutor em Antropologia Almires Machado é indígena e explica que com a chegada da vacina os indígenas sofreram com o preconceito racial. “Os veículos de comunicação por meio das redes sociais e de uma das rádios disseram que ‘esses índios não ajudam com o progresso, esses índios não ajudam em nada, esses índios não contribuem para nada e por que eles têm prioridade para tomar a vacina?’ de modo que quando nós íamos para a cidade nós éramos olhados tortos na rua”.

O doutor em Antropologia, professor e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso Sul Hilário Aguilera Urquiza esclarece que o apoio da sociedade civil organizada foi importante no auxílio das comunidades indígenas. “O ano passado no auge da pandemia, em junho, julho, caminhões saiam de Campo Grande a cada semana com cestas básicas para levar para as aldeias como uma forma de auxílio, enquanto o governo é ausente a sociedade civil se mobiliza para auxiliar. Aquilo que a gente viu também nas favelas do Rio de Janeiro, e em outras capitais do país, a sociedade civil ocupando esse vácuo do Governo Federal, então felizmente nós vimos isso também em relação aos povos indígenas das aldeias do Mato Grosso do Sul e a situação só não tá pior por causa dessa solidariedade de segmentos da sociedade civil”.

 

Compartilhe:

Deixe seu Comentário

Leia Também