NEGLIGÊNCIA

Uso de jaleco fora do Hospital Universitário causa risco à saúde dos pacientes

Profissionais da saúde justificam a prática pela falta de estrutura dos hospitais

Guilherme Souza, Joaquim Padilha e Juliane Garcez 8/08/2016 - 23h29
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Profissionais da saúde começaram a usar jalecos fora dos hospitais devido à falta de estrutura das unidades da capital, que não oferecem armários para armazenamento de objetos pessoais aos funcionários. Esta prática afeta a segurança dos pacientes, que ficam expostos à contaminação, e desobedece o que determina a Lei nº 3.7669, assinada em 4 de novembro de 2009, pelo então governador André Puccinelli, que prevê a obrigatoriedade do uso do jaleco como forma de proteção.

O acadêmico de enfermagem, Gabriel Vascelli, explica que a correta utilização do item é discutida em disciplinas dos cursos das áreas da saúde. “Nós temos a disciplina obrigatória de biossegurança, onde aprendemos sobre o uso do jaleco e a lei que o regula. Nas minhas práticas em hospital, minhas professoras sempre frisaram o uso correto do jaleco e até perdemos nota nisso”. 

A estudante de medicina Roberta Paola relata que a negligência muitas vezes ocorre porque o jaleco é mais do que um item de proteção. “Vira um item de identificação do grupo. Alguns professores obrigam que os alunos assistam aula de jaleco, ou que o orador de um grupo, utilize o jaleco ao apresentar uma aula. Muitos professores utilizam jaleco para dar aula”. 

Em alguns casos, segundo o estudante de medicina, Guilherme Gama, o "status" do uso do jaleco faz com que muitos estudantes ignorem a legislação. “Assim como o doutor antes do nome no caso dos médicos. Quem olha já pensa ‘nossa, é médico’. Essa é uma ilusão do estudante”. 



De acordo com Gama, no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HU/UFMS), a falta de estrutura impede o correto armazenamento dos jalecos. “Não existe nenhum tipo de armário, nenhum tipo de aparato para os acadêmicos”. Como o hospital não possui espaços reservados para a disposição dos objetos pessoais dos universitários, muitos estudantes saem para o intervalo e levam a roupa de proteção consigo.

Estrutura

Guilherme Gama diz que as más condições de trabalho no Hospital Universitário não prejudicam apenas a correta utilização do jaleco e afirma que a falta de espaços reservados aos alunos faz com que as turmas tenham de se reunir em lugares improvisados do hospital para poderem discutir os conteúdos ensinados. “A gente tem que ficar se alinhando em salas de descanso, em copas, em cozinhas para gente ter informação que o professor tem que nos passar”. Para Gama, a estrutura do hospital não foi pensada para receber os alunos, mesmo que seja um espaço destinado ao aprendizado.

Alunos, professores e profissionais da saúde dividem os trabalhos diariamente no HU. A estudante Roberta Paola explica que deixou de atender pacientes porque o hospital não forneceu os materiais médicos necessários.

Paola afirma que a escassez de equipamentos pode ser mais prejudicial ao paciente do que o uso incorreto do jaleco. “Várias vezes não tem máscaras e luvas pra entrar no centro cirúrgico. Vários amigos meus deixam de entrar em cirurgias por falta de roupa especializada pra entrar na sala.” Segundo ela, é comum que os acadêmicos utilizem ao longo do dia uma mesma peça de roupa especializada por falta de mais exemplares, o que prejudica todo o processo de esterilização e isolamento do ambiente externo, necessário nas salas de cirurgia.

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