SAÚDE

Pandemia da Covid-19 impacta a saúde mental de mães em Mato Grosso do Sul

Pesquisa realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul aponta que 25% de mães apresentam sintomas de depressão em decorrência da pandemia

Karine Gonçalves, Naiara Camargo 2/06/2021 - 14h12
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Mães de crianças e adolescentes demonstraram abalo emocional, psicológico e mental devido às consequências causadas pela pandemia da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, de acordo com estudo feito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) com 822 mães. Os sintomas mais comuns são estresse, ansiedade, cansaço, desânimo e tristeza. O isolamento social afasta mães de seus compromissos profissionais, sociais e afetivos, distancia filhos da escola e do convívio entre amigos e intensifica problemas financeiros devido ao desemprego provocado pela pandemia. 

Os motivos da exaustão feminina são aumento de tarefas domésticas devido ao maior tempo em que a mulher permanece em casa durante a pandemia, aumento de obrigações com atividades escolares dos filhos, acúmulo de tarefas no trabalho e criatividade para estimular o desenvolvimento de filhos em casa durante o isolamento social. A divisão desigual de serviços de casa entre homens e mulheres afeta a saúde psicológica de mães, principalmente a de mães monoparentais. Esses fatores colaboram para o adoecimento mental de mães e desenvolvimento de doenças, como depressão. 

A pesquisa demonstra que 25% das mulheres começaram a apresentar sintomas de depressão, 7% ansiedade e 23% estresse durante a pandemia. De acordo com a autora do estudo e professora do curso de Medicina da UFMS, Bruna Moretti o objetivo da pesquisa é avaliar a saúde mental de mulheres com filhos crianças e adolescentes durante a pandemia da Covid-19. “Esperávamos dar maior visibilidade ao tema para a população geral, acadêmica. Além disso, alertar os gestores municipais, estaduais e federais, para que elaborem estratégias e políticas de apoio às mães, como grupos de apoio utilizando tecnologias, atendimento personalizado nos serviços de saúde, atendimento por telemedicina, e também promovam a capacitação dos profissionais de saúde para que estejam atentos a esse grupo específico de mulheres”. 

Bruna Moretti afirma que mulheres fazem parte de grupos vulneráveis a problemas de saúde mental devido a pandemia da Covid-19. “No mundo inteiro, as mulheres são desproporcionalmente mais afetadas pelo impacto social e econômico da crise do novo coronavírus, o que acentua ainda mais as desigualdades de gênero. Elaboramos o questionário pensando na saúde mental, então incluímos a avaliação de sintomas depressivos, de ansiedade e de estresse”. 

Primeira Notícia · Clarita Rocha, relata o que mais afeta sua saúde mental durante a pandemia

De acordo com decreto nº 115.393  do Governo Estadual e decreto nº 14.189 da Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG), aulas presenciais em escolas públicas estão suspensas por causa da pandemia da Covid-19. Escolas particulares adotam regime virtual e presencial como modelo de ensino. Filhos estudam em casa por meio de aulas virtuais desde então. Bruna Moretti afirma que “a mulher tem sobrecarga de deveres e responsabilidades associada à cuidados com os filhos e por isso geralmente os ajuda nas tarefas escolares, e não o pai”. 

A servidora pública Rosenir Moraes é divorciada e mãe de três filhos. Ela relata que suas atividades duplicaram durante a pandemia. “Ganhei um pouco de peso depois que a Covid começou. As tarefas aumentaram contudo não cobro muitos dos meus filhos e de mim mesma. Não me preocupo muito se ficar faltando fazer alguma coisa. Aprendi a ter paciência e tolerância comigo mesma e com meus filhos”. 

A servidora pública afirma que suas filhas precisam de ajuda para fazer tarefas escolares. “São conteúdos vistos pela primeira vez e muitas vezes complexos. Preciso ajudá-las e tiramos um tempo só para fazer as atividades. Antes da pandemia eu só auxiliava com algumas tarefas. Confesso que deixava todo o ensino para a escola, por falta de tempo mesmo”. 

A servidora pública é a favor das aulas remotas enquanto os alunos aguardam pela vacina. “O conteúdo se recupera, vidas não. Não consigo imaginar como será a volta às aulas, como serão as adaptações de aprendizagem, pois nem todos os pais têm a possibilidade de acompanhar seus filhos no processo de ensino durante a pandemia. Eu gosto muito de ajudá-las nesse tempo de pandemia, graças a Deus estou conseguindo ver resultados”. 

A psicóloga Alaine Amaral afirma que mães monoparentais são afetadas pela pandemia da Covid-19 por causa da responsabilidade financeira e afetiva para com seus filhos. "Durante a pandemia muita gente teve prejuízo financeiro por vários fatores, perda de cliente, perda de trabalho, diminuição do salário, dificuldade para conseguir emprego e as mulheres não estão livres disso. Antes da pandemia, o mercado de trabalho já não era tão receptivo com as mulheres como para os homens. Nesse contexto de pandemia se tornou mais difícil. E no caso das mães solos é ainda mais grave".   

A psicóloga Dandara Barbino diz que mães vivem momentos de tensão durante a pandemia do novo coronavírus. “As mães são as mais afetadas pela pandemia, pelo fato de se colocarem em um lugar de responsabilidade, cuidado e proteção para com os filhos. Elas precisam equilibrar as tarefas domésticas, cuidado com os filhos, emprego formal e, vez ou outra, servir de suporte emocional para os familiares. A preocupação aumenta em mães solo, sendo a principal fonte de renda de sua família, já que a pandemia trouxe números relevantes de desemprego”. 

Dandara Barbino afirma que mães podem desenvolver doenças como depressão pós-parto, depressão maior, ansiedade generalizada e alto nível de estresse após traumas causados pela pandemia da Covid-19. Dandara orienta que é importante que a mulher divida tarefas domésticas e cuidado com os filhos para deixar de se sentir sobrecarregada. Ela recomenda a atividade física para aliviar o estresse do dia a dia. “Exercícios físicos possibilitam bem-estar, liberação de hormônios do prazer como a serotonina, a dopamina e a endorfina, gerando alívio e tranquilidade. Eles ajudam a ter um maior controle sobre as emoções e resultado na qualidade de vida e saúde física e mental”.

 

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