Mães de crianças e adolescentes demonstraram abalo emocional, psicológico e mental devido às consequências causadas pela pandemia da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, de acordo com estudo feito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) com 822 mães. Os sintomas mais comuns são estresse, ansiedade, cansaço, desânimo e tristeza. O isolamento social afasta mães de seus compromissos profissionais, sociais e afetivos, distancia filhos da escola e do convívio entre amigos e intensifica problemas financeiros devido ao desemprego provocado pela pandemia.
Os motivos da exaustão feminina são aumento de tarefas domésticas devido ao maior tempo em que a mulher permanece em casa durante a pandemia, aumento de obrigações com atividades escolares dos filhos, acúmulo de tarefas no trabalho e criatividade para estimular o desenvolvimento de filhos em casa durante o isolamento social. A divisão desigual de serviços de casa entre homens e mulheres afeta a saúde psicológica de mães, principalmente a de mães monoparentais. Esses fatores colaboram para o adoecimento mental de mães e desenvolvimento de doenças, como depressão.
A pesquisa demonstra que 25% das mulheres começaram a apresentar sintomas de depressão, 7% ansiedade e 23% estresse durante a pandemia. De acordo com a autora do estudo e professora do curso de Medicina da UFMS, Bruna Moretti o objetivo da pesquisa é avaliar a saúde mental de mulheres com filhos crianças e adolescentes durante a pandemia da Covid-19. “Esperávamos dar maior visibilidade ao tema para a população geral, acadêmica. Além disso, alertar os gestores municipais, estaduais e federais, para que elaborem estratégias e políticas de apoio às mães, como grupos de apoio utilizando tecnologias, atendimento personalizado nos serviços de saúde, atendimento por telemedicina, e também promovam a capacitação dos profissionais de saúde para que estejam atentos a esse grupo específico de mulheres”.
Bruna Moretti afirma que mulheres fazem parte de grupos vulneráveis a problemas de saúde mental devido a pandemia da Covid-19. “No mundo inteiro, as mulheres são desproporcionalmente mais afetadas pelo impacto social e econômico da crise do novo coronavírus, o que acentua ainda mais as desigualdades de gênero. Elaboramos o questionário pensando na saúde mental, então incluímos a avaliação de sintomas depressivos, de ansiedade e de estresse”.
De acordo com decreto nº 115.393 do Governo Estadual e decreto nº 14.189 da Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG), aulas presenciais em escolas públicas estão suspensas por causa da pandemia da Covid-19. Escolas particulares adotam regime virtual e presencial como modelo de ensino. Filhos estudam em casa por meio de aulas virtuais desde então. Bruna Moretti afirma que “a mulher tem sobrecarga de deveres e responsabilidades associada à cuidados com os filhos e por isso geralmente os ajuda nas tarefas escolares, e não o pai”.
A servidora pública Rosenir Moraes é divorciada e mãe de três filhos. Ela relata que suas atividades duplicaram durante a pandemia. “Ganhei um pouco de peso depois que a Covid começou. As tarefas aumentaram contudo não cobro muitos dos meus filhos e de mim mesma. Não me preocupo muito se ficar faltando fazer alguma coisa. Aprendi a ter paciência e tolerância comigo mesma e com meus filhos”.
A servidora pública afirma que suas filhas precisam de ajuda para fazer tarefas escolares. “São conteúdos vistos pela primeira vez e muitas vezes complexos. Preciso ajudá-las e tiramos um tempo só para fazer as atividades. Antes da pandemia eu só auxiliava com algumas tarefas. Confesso que deixava todo o ensino para a escola, por falta de tempo mesmo”.
A servidora pública é a favor das aulas remotas enquanto os alunos aguardam pela vacina. “O conteúdo se recupera, vidas não. Não consigo imaginar como será a volta às aulas, como serão as adaptações de aprendizagem, pois nem todos os pais têm a possibilidade de acompanhar seus filhos no processo de ensino durante a pandemia. Eu gosto muito de ajudá-las nesse tempo de pandemia, graças a Deus estou conseguindo ver resultados”.
A psicóloga Alaine Amaral afirma que mães monoparentais são afetadas pela pandemia da Covid-19 por causa da responsabilidade financeira e afetiva para com seus filhos. "Durante a pandemia muita gente teve prejuízo financeiro por vários fatores, perda de cliente, perda de trabalho, diminuição do salário, dificuldade para conseguir emprego e as mulheres não estão livres disso. Antes da pandemia, o mercado de trabalho já não era tão receptivo com as mulheres como para os homens. Nesse contexto de pandemia se tornou mais difícil. E no caso das mães solos é ainda mais grave".