SAÚDE MENTAL

Pandemia de covid-19 impacta a saúde mental e rotina de estudantes de pré-vestibular de Campo Grande

Ansiedade, estresse, incerteza em relação ao futuro e problemas de organização com a rotina estão entre os problemas que alunos em fase de pré-vestibular enfrentam neste período

Giovanna Silva, Mariely Barros e Patrick Rosel24/06/2021 - 14h12
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A pandemia do coronavírus impactou a saúde mental e a rotina de alunos que estão em fase de pré-vestibular em Campo Grande. Estudo sobre os impactos psicossociais da pandemia na saúde mental de estudantes, docentes e técnicos, coordenado pelo professor Cremildo Baptista da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), indica a presença de altas taxas de ansiedade, estresse e depressão nos alunos. O estudo aponta que a prática de exercícios físicos ou de atividades voltadas para o bem-estar reduzem as taxas dos distúrbios mentais causadas pelo isolamento.

A falta de perspectiva de futuro e incerteza em relação aos estudos são alguns dos motivos que afetaram os estudantes de pré-vestibular. Nos dias de provas, as chances de contágio pela Covid-19 e insatisfação com o aprendizado online fez com que alunos se ausentassem. O balanço publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aluísio Teixeira (Inep), apontou que Mato Grosso do Sul foi o terceiro estado com a maior taxa de abstenção nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020, com 75,2% dos inscritos ausentes. Alunos com sintomas de ansiedade, tristeza e estresse, com problemas de concentração e de organização tem sido cada vez mais comuns. 

Segundo a psicóloga Regiane Morais estudantes de pré-vestibular com sintomas de ansiedade, estresse e depressão estão em busca de serviços psicológicos com mais frequência. Para ela, esses sintomas são resultados da pandemia. “O ensino a distância trouxe frustrações aos alunos que viram seus rendimentos caírem devido ao novo formato, alguns sentem dificuldade em se adaptar e outros de acessar as aulas”. De acordo com a psicóloga, a pressão dos pais sobre os filhos na fase de pré-vestibular causa insegurança e frustração nos estudantes.“Os pais atribuem grandes expectativas a esses jovens, levando-os a se cobrarem o tempo todo e é nesse movimento que surge a insegurança e o medo de falhar”.

Regiane Morais explica que o estudante em fase de pré-vestibular precisa entender qual o seu método de aprendizagem, pois existem pessoas que aprendem melhor por meio de videoaulas, leituras, resumos ou ao ensinar para outras pessoas. Ela ressalta que é necessário realizar pausas nos estudos para evitar o cansaço, analisar em qual horário o estudante possui mais disposição e se o local de estudos contribui para um bom rendimento. A psicóloga ressalta que é importante evitar a comparação à outros alunos, “a pessoa do lado tem outra história, outra condição, comparar-se com alguém distinto de você é injusto”. Segundo ela, procurar auxílio profissional ajuda a manter o bem-estar mental e contribui para que o estudante escolha a profissão adequada por meio do autoconhecimento.

A estudante de pré-vestibular, Maria Eduarda Crispim fez um cronograma com horários definidos para todos os seus afazeres e assim manter uma rotina de estudos na pandemia. Ela conseguiu se adaptar e se organizar ao método de ensino remoto, porque antes da pandemia estudava por meio de cursos na internet. A principal dificuldade para a estudante foi conciliar estudos e lazer e incluir em sua rotina atividades que antes costumavam ser realizadas fora de sua casa. 

De acordo com Maria Eduarda Crispim a pandemia afetou o seu rendimento nos estudos, o medo do coronavírus impactou sua ansiedade e desencadeou estresse. “Essa incerteza do que vai acontecer, se vai ter vestibular e em que mês vai ser, se vai ter vacina, me afetou muito. Eu fiquei mais ansiosa e comecei a me cobrar em relação a cumprir 100% daquilo que me propus a fazer. Em certos momentos ano passado e esse ano eu entrei em crise e fiquei desesperada”. A estudante relata que fazia acompanhamento psicológico semanal e em razão da pandemia precisou parar. Ela ressalta que possui apoio e compreensão por parte de seus pais e que busca apoio neles para enfrentar esses momentos de dificuldade.

A estudante de pré-vestibular, Gabriela Santana relata que a pandemia afetou seu rendimento nos estudos e alterou a sua rotina, ela fazia curso pré-vestibular de forma presencial e sentiu dificuldades em se adaptar. A mudança para o ensino remoto, a metodologia e o alto custo das mensalidades fizeram ela sair do curso e começar a estudar sozinha. Em 2021, a estudante iniciou um curso online e conseguiu se organizar, ela mantém uma rotina de estudos diária com o auxílio do computador e dos materiais de estudo de anos anteriores.

Para Gabriela Santana, a principal dificuldade na pandemia foi conciliar o ambiente doméstico e seus afazeres com o local de estudos. “É como se eu trouxesse o cursinho pra dentro de casa, metade do meu quarto é meu lugar de descanso, mas a outra metade é onde eu tenho que me concentrar e me dedicar aos estudos e isso é meio complicado”. A estudante relata que para cuidar da saúde mental tem feito exercícios físicos e controlado seu tempo nas redes sociais, em 2020 ela fazia terapia e após receber alta continuou com a assistência psiquiátrica devido ao uso de medicamentos. “Eu tenho cefaleia tensional, se fico ansiosa, nervosa ou desapontada comigo nos estudos minha cabeça começa a doer. O remédio ajuda a contornar minhas emoções e controlar as dores”.

Segundo a psicanalista Lígia Burton a tensão dos alunos durante esse processo é multifatorial. Essa condição envolve questões como o distanciamento de amigos e parentes, isolamento, medo de contágio e a falta de perspectiva de futuro por meio dos estudos. A psicanalista diz que uma de suas pacientes chegou a relatar sobre a inexistência de histórias que teria para contar aos filhos, devido a falta da experiência do ensino presencial.

Para Lígia Burton, a cobrança pela aprovação no vestibular era algo que causava angústia aos estudantes antes da pandemia e esse sentimento piorou com o ensino online. De acordo com ela, muitos alunos enfrentam dificuldades em interagir com os professores no meio virtual e em acompanhar o conteúdo sem afetar o aprendizado. A profissional ressalta que o aumento da sensação de ansiedade tem sido relatada durante o atendimento dos alunos e as incertezas do período pandêmico preocupa aqueles que planejam um futuro profissional.

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