PREVENÇÃO

Prefeitura de Campo Grande lança programa de prevenção ao suicídio em escolas

Programa objetiva conscientizar sobre o tema e identificar alunos que necessitem de assistência psicológica

GABRIELA SANTOS, LUA SOUZA e RENATA BARROS 2/09/2018 - 19h20
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A Prefeitura de Campo Grande (PMCG), por meio da Secretaria Municipal de Governo e Relações Institucionais (Segov) e da Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos (SDHU), lançou, no dia 20 de agosto, o programa "Direitos Humanos pela Valorização da Vida - Por uma Campo Grande Livre do Suicídio". O programa abordará o tema saúde mental em escolas públicas e privadas de Campo Grande, com o objetivo de promover o diálogo e a conscientização em sala de aula.

De acordo com Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde em 2017, Mato Grosso do Sul é o terceiro estado com maior índice de óbito por suicídio do país. Durante o período de 2011 a 2015 foram registrados 8,8 óbitos por 100 mil habitantes no estado.

O programa tem como foco o incentivo ao debate sobre saúde mental por meio de palestras com o intuito de prevenir o suicídio e identificar os alunos que precisam de assistência psicológica. A iniciativa é formada por uma equipe multidisciplinar composta por advogado especialista em direitos violados, assistente social, psicóloga, psicopedagoga e pelo coordenador do programa, o palestrante e teólogo, Marco Antônio de Morais. O teólogo ressalta que com o projeto há uma conscientização dos próprios jovens. “Quando você fala sobre prevenção ao suicídio, fala das dores, fala das emoções e eles entendem isso, eles viram agentes multiplicadores dentro da escola”. A meta do programa é abordar o tema em todas as escolas da capital.

Morais é responsável pelas atividades realizadas nas escolas e explica que o método de abordagem do projeto consiste em um contato coletivo com os alunos para identificar os estudantes que precisam de assistência. “O meu trabalho em si é ganhar a confiança desses adolescentes, eles precisam acreditar em mim e confiar pra poder falar dos seu problemas pra mim. Eu trabalho com identificação”.

O coordenador destaca a falta de diálogo familiar como parte do debate abordado pela equipe do programa. "O problema da prevenção ao suicídio de menores se dá pelo desajuste familiar. Eu encontro muitos alunos que estão tristes ou entrando em uma depressão, pois não estão conseguindo dialogar com seus pais por não ter um relacionamento com eles. São esses casos que os pais não conseguem identificar, e os filhos não tem essa autoridade para chamá-los para uma conversa”.

Morais ressalta a necessidade de os responsáveis entenderem que a criança ou o adolescente está com algum desequilíbrio emocional. “Tem muitos pais que acham que é apenas uma frescura, uma questão de querer chamar atenção, ou seja, tem pai que dependendo do seu status, da sua condição social, não quer de maneira nenhuma que o seu filho vá a um psicólogo ou a um psiquiatra”. O coordenador enfatiza que é preciso acabar com o receio de buscar o serviço de profissionais da área da saúde mental. “Ainda existe esse tabu, essa coisa de que ir a um psiquiatra ou psicólogo é problema para quem está extremamente fora de si, e não é”.

A Secretaria Municipal de Educação (Semed) realizou em maio deste ano uma capacitação  aos profissionais da Rede Municipal de Ensino (Reme) com o propósito de orientar professores, diretores e coordenadores pedagógicos sobre questões relacionadas à saúde mental, como formas de identificar sintomas depressivos em crianças e adolescentes e de que maneira auxiliar o estudante nesta situação. A superintendente de Gestão e Normas da Semed, Alelis Gomes destaca o papel da secretaria no diálogo com gestores e alunos. “Trabalhar a saúde mental tanto dos nossos professores como orientar nossos alunos compete à educação e é isso o que nós estamos fazendo”.

Alelis Gomes afirma que o excesso de trabalho prejudica o envolvimento dos pais com os filhos. “As crianças acabam sendo prejudicadas por conta da família que trabalha muito, que fica ausente”. O teólogo e coordenador do projeto, Marco Antônio de Morais indica que uma das causas dos transtornos familiares é falta de manifestação de sentimentos. “Um dos grandes problemas nos relacionamentos é que se perdeu a afetividade, nem o pai nem o filho consegue dar ou receber afeto”.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde e apoio do Ministério da Educação realizou em 2015 a terceira edição da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). O estudo objetiva conhecer e dimensionar os fatores de risco e proteção à saúde de adolescentes.  A PeNSE 2015 investigou temas relacionados à ansiedade, insônia, solidão e a existência ou não de amigos próximos.

 

Elaborado por Renata Barros

A psicóloga do Serviço de Atendimento Psicológico (Saps) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Rosilene Caramalac destaca a importância de abrir espaço de diálogo para que os adolescentes falem de seus sofrimentos. “É fundamental que se escute sobre esse sofrimento, se pense sobre isso, se abra a possibilidade de escutar esse sujeito, seja a criança, o adolescente ou em qualquer faixa etária. Muitas vezes não se escuta sobre o que esses jovens sofrem. Não se dá a palavra a eles”. Ela ressalta que são necessárias políticas que façam trabalhos relacionados à saúde pública de modo permanente.

O Colégio Tic Tac & Instituto Penrabel é uma das escolas da capital que irá receber o programa “Direitos Humanos pela Valorização da Vida”. A coordenadora geral da escola, Daniella Penrabel de Souza afirma que o colégio preocupa-se em debater temas emergentes com os alunos. “No começo do ano nós trouxemos alguns palestrantes para falar sobre bebida alcoólica e já tivemos palestras para falar um pouco do narguilé, do fumo. Agora resolvemos trazer essa questão do suicídio também, então a gente está desde o começo do ano tentando abordar temas que cheguem até eles”. 

Em 2017 o Ministério da Saúde, com base nos dados do Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, lançou uma agenda estratégica com o objetivo de reduzir 10% do total de óbitos por suicídio até 2020. As ações propostas pela agenda são divididas em três eixos. O primeiro é a Vigilância e Qualificação da Informação, o segundo trata da Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde e o terceiro trata da Gestão e Cuidado. Entre as atividades propostas estão a inauguração de novos centros de saúde, maior investimento na conscientização da população com foco na identificação de sinais de alerta e a capacitação de 1.500 profissionais em 2018 no curso à distância de Crise e Urgência em Saúde Mental.

Em caso de alguma suspeita ou intenção de consumação do suicídio, ligue para o Centro de Valorização à Vida (CVV) no número 188 ou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) pelo número 192.  

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