O Ministério do Meio Ambiente declarou “Estado de Emergência Ambiental" para Mato Grosso do Sul, de acordo com Decreto N° 26-E de 29 de abril de 2021. O estado de emergência ambiental foi instaurado em decorrência do período crítico para incêndios florestais, em virtude de condições climáticas favoráveis a focos de incêndios sem controle que acarretam a queda drástica na qualidade do ar. A vigência do decreto se estende pelo prazo de 180 dias, até setembro no fim do inverno.
Mato Grosso do Sul integrou o projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio do Fundo Nacional de Mudanças Climáticas e da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção à Saúde (VPAAPS) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). O projeto realizou pesquisas sobre a vulnerabilidade de municípios em relação à mudança climática global. Os resultados foram aplicados em um mapa interativo na ferramenta Sistema de Vulnerabilidade Climática, o mapa indica que os municípios do sul do estado poderão ser os mais afetados em números de dias secos em cada ano. Segundo estudo realizado pelo Grupo de Trabalho de Doenças Respiratórias da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) o tempo seco e a poluição são fatores que irritam as mucosas respiratórias.
A otorrinolaringologista Neisa Alves explica que a mudança de temperatura pode afetar quem possui problemas respiratórios. “Quando estamos no outono, inverno são épocas que os problemas respiratórios tendem a ser muito mais frequentes. Por vários motivos, primeiro é porque o nosso nariz, ele precisa se adaptar às variações de temperatura e as variações de umidade. Nessa época do ano essas variações ocorrem de forma muito mais evidente e mais brusca, então por conta disso você tem muito mais doenças respiratórias, rinite alérgica, resfriado, sinusite, asma, bronquite, bronquiolite, pneumonias, muito mais agora nessa época do ano. Além disso, devido ao frio, as pessoas tendem a aglomerar mais, ficar em ambientes pouco ventilados, então tudo isso também favorece a disseminação dessas doenças que acometem as vias aéreas”.
O professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Vinicius Capistrano afirma que as pessoas confundem os significados de clima e tempo. “Por exemplo é comum a gente ouvir alguém dizer “nossa o clima está muito bom hoje” mas nesse caso deveria se utilizar o tempo es tá muito bom hoje, porque o tempo se diz respeito ao estado da atmosfera em um determinado instante, enquanto que o clima seria média característica por tipicamente 30 anos para uma região. Enquanto tempo é um instante, o clima é uma média”.
Capistrano explica que a capital do Estado, Campo Grande, possui características climáticas médias. “Para Campo Grande, tratando-se de clima, pegando uma média de 30 anos (1981 a 2010) a temperatura em junho e julho a gente tem as temperaturas em torno de 20º, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. As temperaturas mais altas em dezembro com 24,5º, ao passo que o mês mais chuvoso em Campo Grande é janeiro com 225 milímetros aproximadamente e o mês mais seco é julho com 35,7 milímetros. Então, notem que essas características são médias de 30 anos passados, mas não quer dizer que em determinado dia de julho vai ter exatamente esse valor médio. Inclusive existe o que é chamado de variabilidade natural, no clima de um ano para outro a gente tem uma variabilidade climática diferente, um ano é diferente do outro, isso se deve a uma variabilidade natural. E ao longo dos tempos o que tem ocorrido é que cada vez mais tem os efeitos de mudanças climáticas, associadas à alteração no clima”.
O estudante do curso de Psicologia da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), José Barbosa, relata que procura aumentar sua imunidade antes das mudanças de temperatura para evitar ficar doente. “Sinto a minha imunidade muito baixa a todo momento, então é bem fácil para eu ficar doente. E quando a temperatura baixa muito rápido ou quando sobe muito rápido e fica seco também, eu costumo ficar doente nesses momentos e eu sinto que não é pela temperatura em si e sim pela mudança rápida. Sempre que eu sei que o clima vai mudar eu costumo já me preparar um pouco. Eu começo a cuidar um pouco mais da minha saúde, às vezes eu tomo alguma vitamina, algum suplemento, eu tento me alimentar um pouco melhor durante a semana porque eu sei que assim que o clima mudar eu tenho chance de ficar doente. Mas quando é um momento que eu não sei, simplesmente vem a mudança de clima, quando eu não consigo evitar, eu sempre acabo ficando doente do mesmo jeito”.
Barbosa ressalta que seu quadro de asma é intensificado nos períodos de mudança climática. “São nos momentos de mudança de clima que minha asma costuma atacar bastante, quando fica muito quente e seco minha asma sempre ataca muito e quando esfria bastante, então é sempre bem ruim. Eu tenho que me preparar alguns dias antes, porque sempre que o clima muda muito rápido eu sinto isso muito forte”.
A agente comunitária de Saúde, Gabrielly Carvalho possui rinite alérgica desde sua infância e relata que a mudança no tempo afeta sua rotina. “Qualquer mudança de clima me "ataca", quando chove, quando está muito seco ou muito úmido, quando faz frio. Enfim, qualquer mudança, fico como se estivesse gripada, olhos lacrimejando, coriza, espirros sem parar, garganta coçando e rosto inchado”.
Neisa Alves afirma que as crianças em idade pré-escolar possuem um número maior de resfriados ao longo do ano. “As crianças têm muito mais resfriados do que o adulto. A gente espera, normalmente, de sete a dez, 12 resfriados por ano na criança. Enquanto que no adulto é de três a cinco resfriados por ano. Então veja bem a diferença, né. Então, as crianças elas tem muito mais problemas de resfriados, principalmente aquelas em idade pré-escolar até cinco anos de idade elas sofrem muito mais com isso, porque elas ainda estão sendo apresentadas aos bichos, o sistema imunológico dela ainda está se desenvolvendo e ela ainda tem um sistema imunológico que não está completamente amadurecido, então elas tendem a ter muito mais problemas respiratórios, mas isso pode pegar desde bebezinho até idoso, problema respiratório todos tem, mas as crianças geralmente são as mais afetadas, principalmente em crianças menores de cinco anos de idade”.