O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) consiste em casas criadas para oferecer moradia à pessoas portadoras de transtornos mentais graves e vítimas de abandono. A responsável pela SRT em Campo Grande, Elódia Hermínia Maldonado relata que no máximo 10 moradores são permitidos em cada unidade. “Tem dois critérios para conseguir entrar na residência terapêutica, ter tido uma internação de longa permanência em alguma instituição e que seja em caráter de abandono por parte da família”.
Campo Grande é a primeira cidade do estado a implementar a SRT como local de acompanhamento, e o tratamento dos moradores é realizado com profissionais da saúde em Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e nas unidades de Atenção Primária da região. Elódio Maldonado explica que conseguir abrigo na residência é o primeiro passo de ressocialização de pessoas com transtornos mentais, e que psicóticos do tipo esquizofrênico são os mais encontrados no local. “A loucura virou um estigma desde a Revolução Francesa, a sociedade moderna decidiu que podia pegar essas pessoas ditas malucas, diferentes demais, e colocar elas atrás de um muro. Então isso é uma cultura. Por isso que a residência terapêutica tem essa filosofia, de poder resgatar a dignidade dessas pessoas”.
Leonete Simioli ressalta que a maioria dos residentes são pacientes em situação de rua sem familiares localizados. "Muitas vezes os casos são graves e eles não tem lembranças do nome da mãe, não tem nenhum documento. São pessoas sozinhas no mundo e que precisam desse recurso”. A gerente técnica destaca que a livre circulação dos pacientes é importante no processo de autonomia dos indivíduos. “A casa funciona para que o paciente tenha novamente o protagonismo da sua própria história e da sua própria saúde”.
Transtorno mental é um termo utilizado pela psiquiatria para caracterizar alterações do estado saudável da mente de um indivíduo. A professora do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Priscila Maria Marcheti cita alguns exemplos como ansiedade, depressão, transtorno afetivo bipolar e esquizofrenia, e explica que ações cotidianas e traços de personalidade do paciente podem ser comprometidos. “Essas pessoas podem levar uma vida normal, desde que acompanhadas por profissionais, médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, farmacêuticos. Toda uma equipe que pode dar suporte para essa pessoa, tanto com o uso de psicoterapia, como uso de medicações específicas para os sinais e sintomas que ela apresentar”.
A professora relata que apoio de amigos e familiares e o tratamento oferecido pelo Caps é fundamental para a recuperação dos pacientes. “A família é a base de tudo. Então é necessário acompanhar essa pessoa em sofrimento de perto, precisa cercá-la de atenção, de cuidados. Entender que é um sofrimento que vai melhorar com o uso da medicação, com diálogo e principalmente com afeto”.
A estudante do curso de Enfermagem da UFMS, Laura Fahed explica que possui transtorno de ansiedade e que procurou ajuda psiquiátrica em uma unidade do Caps, e de um psicólogo particular em Campo Grande. “É muito difícil porque uma mínima coisa que para uma pessoa normal é nada, para mim é o fim do mundo. Às vezes só o que eu penso já me deixa mal”. A estudante relata que realizar tarefas do dia a dia é dificil, e que algumas pessoas ao redor dela são incompreensíveis com a doença. “Os sonos são todos desregulados, ou eu durmo demais ou muito pouco. Conseguir achar um equilíbrio entre todas emoções é complicado e bem frustrante no começo, mas quando consegue é um alívio”.
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