SAÚDE

Projeto LeishNão! é adotado por universidades, escolas e prefeituras no Brasil

Ações do projeto de extensão da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul são voltadas para a conscientização da prevenção da leishmaniose

Letícia Schiavon e Vitória Oliveira22/09/2019 - 23h27
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O projeto "LeishNão!", vinculado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, divulga informações sobre a prevenção da leishmaniose para a população. As ações de educação em saúde iniciaram em 2013 a partir do projeto de pesquisa "Geoepidemiologia da leishmaniose visceral em Campo Grande - MS" da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez), que mapeou casos da doença em humanos no Mato Grosso do Sul. As atividades do projeto foram requisitadas em outros municípios e estados. As demandas surgiram de instituições como prefeituras, centros de Controle de Zoonoses e outras universidades, que querem aplicar o projeto em suas cidades. A equipe é composta por acadêmicos da UFMS, da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp).

A coordenadora do projeto, professora e pesquisadora de zoonoses, saúde pública, epidemiologia e doenças a vírus, Juliana Galhardo relata que o grupo observou que havia desconhecimento do assunto pelos moradores com as primeiras visitas a residências para explicar sobre a leishmaniose. “Acabamos comprovando a teoria, realmente as pessoas têm pouca informação. Não sabiam o que era a zoonose, não sabiam como era a transmissão. Moldamos o projeto com atividades que possam servir como fonte de aprendizado para crianças, adultos ou idosos, portadores ou não de cachorro". Ela afirma que o objetivo do projeto é disseminar informações sobre a prevenção. "É que 99% das pessoas só discutiam o tratamento canino. Mas ninguém falava sobre evitar o problema”.

Juliana Galhardo diz que o grupo enviou documentos e cartilhas do projeto para instituições como universidades, prefeituras e escolas nos estados de Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pará, Maranhão, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. “Pediram informações sobre como faz educação em saúde. Como lidar com leishmaniose, abordar as escolas e comunidades, se inserir nas atividades do município".

A coordenadora afirma que o projeto foi apresentado no 33º Congresso Mundial de Medicina Veterinária realizado na Coreia do Sul em 2017. “O foco do Congresso era saúde única. A organização escolheu nosso trabalho como representante das Américas. Apenas nós das Américas recebemos esse mérito para participar de um evento internacional. Conseguimos ao longo do tempo produzir academicamente”.

O último levantamento dos casos da leishmaniose em cães do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), realizado em 2016, constatou que a taxa foi de 20,5% em Campo Grande. O relatório dos índices em animais está em processo de análise dos exames para 2019. Segundo a veterinária da coordenadoria de Controle de Raiva e outras Zoonoses do CCZ, Claudia Macedo Mota, a zoonose antigiu 30 pessoas até agosto de 2019. Ela comenta que os casos em humanos tiveram alta em 2013. “Por ser uma doença sazonal, tem picos, vai e vem, como a dengue, e tem baixas. Em 2014 tivemos 88 casos, 2015, 65. Atribui-se a isso também a falta de notificação, porque esses casos chegam até nós através da notificação das unidades de saúde. Então pode ser que muitas pessoas que tiveram leishmaniose não foram diagnosticadas corretamente ou tiveram seus casos notificados”.

Cláudia Macedo Mota explica que a leishmaniose é causada por um protozoário e transmitida pelo mosquito-palha que, diferente do transmissor da dengue, Aedes Aegypti, se reproduz em lugares onde há materiais em decomposição, como folhas, frutos e carcaças. “Também há preferência por criadouros de aves, porque o mosquito bota no sangue da galinha. Por isso no município de Campo Grande existe uma lei sanitária que proíbe a criação de aves dentro do município por conta de sermos uma cidade que tem essa endemia de leishmaniose”.

A veterinária afirma que o Ministério da Agricultura registrou em 2017 o fármaco miltefosina para o tratamento da doença em cães, com o custo médio de R$ 600 a R$ 1.500. Cláudia Macedo Mota argumenta que o tutor deve estar consciente de que o uso da medicação é contínua caso opte pelo tratamento. “O Ministério da Saúde recomenda o tratamento com esse medicamento só que deixa bem claro na portaria que essa decisão de tratar o animal é uma decisão particular do proprietário, do tutor do animal. Então o tutor vai tratar, mas não é uma medida de controle”. 

Segundo Juliana Galhardo, alguns veterinários oferecem tratamento com medicamentos manipulados que estão sob validação e são recomendados para a estabilização do quadro ou para indivíduos que estão estáveis. O veterinário Darte Ferraciolli explica que o tratamento apresenta riscos para animais em estado de falência de órgãos, e que o medicamento faz com que os parasitas sejam isolados na medúla óssea do animal, o que impede a transmissão da doença ao receber a picada do mosquito-palha, e comenta sobre os custos do tratamento. 

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