CAMPO GRANDE

Reciclagem contribui para a castração de animais por meio de projeto social

O programa recolhe tampinhas em mais de 30 pontos de coleta para custear castração de cães e gatos

GABRIELA DALAGO E GABRIELLE TAVARES RODRIGUES23/08/2019 - 15h18
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O projeto MS Tampinhas usa a castração para reduzir a superpopulação de cães e gatos de rua em Campo Grande, tem como meta prioritária castrar animais negligenciados que tenham donos e posteriormente cães e gatos de rua. O projeto arrecadou mais de 100 kg de plástico e ferro e o dinheiro obtido com a venda desses materiais foi utilizado para realizar a primeira cirurgia em uma gata no mês de julho deste ano. O trabalho, que iníciou em 2018, foi inspirado no Ecopet Tampas, que castra cerca de 200 animais por mês em Florianópolis-SC.

A fundadora, a empresária Juliana Salvador, afirma que em Mato Grosso do Sul, um quilo de tampinhas custa R$ 0,30 e o valor estimado para a castração de uma fêmea adulta é de R$ 215,00. A empresária destaca que o projeto MS Tampinhas alia reciclagem a redução de maus tratos, porque a castração ajuda a diminuir o número de animais abandonados. “Eu gosto de brincar, se você não gosta de animal, recolhe tampinha para limpar o meio ambiente. Porque se olhar qualquer bar, conveniência, sempre tem tampinhas no chão. Quando começar a chover elas vão para o esgoto, vão para os córregos, e isso é poluição. Nosso mundo está farto de poluição”.

Juliana Salvador ressalva que é necessário que tenha um local para a recuperação do pós-operatório para realizar o procedimento em animais sem tutores. Ela decidiu investir em uma solução a longo prazo para evitar o abandono. “Não existe espaço para todos os animais que nascem nas ruas, nem nas ONGs. A gente não vai conseguir em um período de 20 anos doar todos os animais a ponto de todas as ONGs não terem mais animais. Porque nascem animais demais".

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizou uma pesquisa sobre economia solidária em 2017 e o resultado mostrou que 13% dos resíduos sólidos do Brasil vão para reciclagem. No início de 2019, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) publicou um estudo que classifica o Brasil como o 4º país mais gerador de lixo plástico do mundo. Segundo o relatório, mais de 100 milhões de toneladas de plástico irão poluir ecossistemas brasileiros até 2030. 

A importância da castração

O professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Dr. Eric Schmidt Rondon destaca que existem pontos positivos na realização da castração. Entre elas está o controle populacional, que se torna cada vez mais necessário. Para o professor, o abandono de animais no Brasil é inaceitável. “Como são indesejados, e às vezes não são adotados, as pessoas terminam abandonando esses animais, que aliás, é até uma atitude criminosa, mas acontece”. 

Rondon diz que esses animais de rua tendem a adquirir doenças transmissíveis aos seres humanos como ancilostomose, doença de Lyme, ou raiva. Além disso, como eles precisam achar comida sozinhos, outras espécies sofrem as consequências da disposição que esses animais abandonados têm à caça.“Tem um impacto ambiental nisso, eles podem predar espécies que são espécies nativas, principalmente os gatos que são predadores muito hábeis”. 

A castração melhora a qualidade de vida dos cães e gatos. No caso das fêmeas, o procedimento ajuda a evitar o desenvolvimento de infecções uterinas e tumores de mama. Para os  machos, reduz a agressividade. De acordo com Rondon, se o testículo for retirado por meio de uma orquiectomia, o nível de testosterona diminui e isso está relacionado à diminuição do comportamento dominante. “A gente tem a opção de fazer uma vasectomia, que aí não interfere em nível hormonal de testosterona, então esses proprietários a gente consegue atender dessa forma”. 

O procedimento

A cirurgia pode ser feita em qualquer idade e o professor destaca que existem riscos, como em qualquer intervenção médica. “A gente recomenda que faça a partir de seis ou sete meses, porque a anestesia em um animal muito jovem é um pouco mais complicada, o risco anestésico é um pouco maior”. Para evitar qualquer dificuldade, é importante que o animal passe pelos exames necessários e esteja com a carteira de vacinação atualizada. No pós-operatório o animal precisa de atenção, e o dono deve saber que se trata de uma ferida cirúrgica. “É inconcebível você com uma ferida cirúrgica não limpar a ferida, deixar em contato com a terra, deixar em contato com grama. Então a gente faz uma série de recomendações de tratamento pós-operatório e o proprietário, tutor do animal, precisa seguir essas recomendações”.

A estudante do curso de Jornalismo da UFMS, Jéssica Vitória Fernandes levou sua gata de estimação para realizar a castração em 2018. Segundo ela, a gata precisou ficar em jejum antes da cirurgia e a recuperação foi rápida. “Ela não apresentou efeito colateral, só aqueles efeitos normais de quando o gato está anestesiado, fica meio molinho. Mas é normal, depois ela se recuperou e ficou tudo bem”.

Serviço:

O curso de Medicina Veterinária da Universidade Anhanguera oferece castração de cães e gatos no Hospital Veterinário, com taxa de R$ 60. O endereço é na avenida Alexandre Herculano, 1400, Jardim Veraneio. O atendimento é realizado de segunda à sexta-feira, das 7h30 às 11h e das 13h às 16h, internações de segunda à sexta-feira. Agendamentos pelo telefone (67) 3318-3024 ou 3326-7355.

Centro de Controles de Zoonoses (CCZ) realiza castração de gatos de modo gratuito, o agendamento deve ser feito pelo portal online do CCZ no dia 20 de cada mês. O endereço é avenida Senador Filinto Müller, 1601, Vila Ipiranga. Atendimento em dias úteis das 7h às 21h. Sábado, domingo e feriados das 6h às 22h. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (67) 3313-5000 ou 3313-5001, ou pelo e-mail ccz@sesau.campogrande.ms.gov.br.

Existem diversos pontos de coleta na cidade para contribuir com o projeto MS Tampinhas. Podem ser doadas tampas de plástico, tampas coroa (de cerveja) e lacre de latas de alumínio. O contato para se cadastrar como ponto de coleta é  feito por meio da rede social Instagram, no perfil @mstampinhas.

 

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