SAÚDE

Casos de sarampo no Estado indicam risco do retorno de outras doenças

A Secretaria de Estado de Saúde confirmou um caso de sarampo em Três Lagoas e outro em Campo Grande até setembro de 2019

Amanda Raíssa, Evelyn Mendonça e Jéssica Lima27/09/2019 - 20h03
Compartilhe:

A Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES) registrou 59 casos notificados de sarampo em 2019, com 30 descartados e dois confirmados. O último caso de sarampo confirmado e registrado anteriormente em Mato Grosso do Sul foi em 2011. Em 2019, o número de casos confirmados no país alerta para o retorno dessa e outras doenças infecciosas. A SES confirmou um caso de sarampo em Três Lagoas e um caso em Campo Grande.

De acordo com a coordenadora de Vigilância Epidemiológica de Mato Grosso do Sul, Gislaine Coelho os casos de sarampo confirmados no estado ocorreram pelo contato com o vírus em São Paulo. Ela ressalta que há risco de retorno efetivo da doença no estado, dada a epidemia no país. “A doença é altamente transmissível, e a única forma de prevenção é por meio da vacinação”.

A coordenadora afirma que diante dos altos índices de sarampo no país, o risco de novos casos de doenças que foram quase ou totalmente erradicadas no estado é preocupante. “A preocupação sempre existe, até pela circulação e pelo grande número do trânsito de pessoas que em poucas horas podem chegar ao nosso estado. O que nos deixa mais preocupados é que em alguns municípios a cobertura vacinal é baixa, então a população não está sensibilizada diante desses problemas. Como retornou o sarampo, outras doenças que são imunopreveníveis podem retornar, que já não tínhamos a circulação no estado.”

Ela explica que medidas específicas precisam ser iniciadas para que haja maior cobertura vacinal nos estados e que essas ações devem estar focadas na faixa etária de maior vulnerabilidade. “Nós reduzimos a faixa etária do recebimento da vacina, antes ela começava aos 12 meses e, dentro de uma estratégia de vacinação, agora ela passa a ser tomada com seis meses. É a vacina que chamamos de dose zero, que não exclui a necessidade de outras duas doses, mas que é feita para tentar reduzir o leque de crianças menores que são contaminadas”.

Gislaine Coelho aponta que há número insuficiente de vacinas para atender o público infantil e outras faixas etárias que ainda terão que ser vacinadas. “Temos o necessário para fazer o bloqueio de todos os casos suspeitos. Todo caso suspeito é tratado como se fosse um caso de sarampo, então logo é feito a operação de busca de contatos, verificação da situação vacinal dos indivíduos que tiveram contato com o possíveis contaminados e demais ações que são feitas dentro de 72 horas”. De acordo com Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, o estado recebeu mais de 150 mil doses de vacina tríplice viral de janeiro a agosto de 2019.

A médica infectologista da Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau) de Campo Grande, Márcia Dal Fabro afirma que há relação entre a queda da cobertura vacinal, grupos antivacina e negligência dos pais com o retorno da doença. "A vacina do sarampo faz parte do calendário vacinal das crianças. Elas são vacinadas com um ano e novamente ao completarem 15 meses, três meses depois. É nessa segunda dose que há também a vacina da varicela, por exemplo, mas muitas crianças não são levadas para tomarem esse reforço, então não são completamente imunizadas".

Márcia Dal Fabro explica que o Ministério da Saúde envia vacinas extras, que são distribuídas para todos os municípios de Mato Grosso do Sul, em quantidade proporcional ao número de habitantes. Bebês de seis meses a 11 meses e 29 dias, jovens adultos de até 29 anos e profissionais da saúde que podem estar expostos à doença, estão entre os grupos prioritários. Márcia Dal Fabro complementa que o sarampo ressurgiu com sintomas mais leves. "Os anticorpos da primeira vacina mudaram a doença. Por isso, às vezes as pessoas ficam esperando o sarampo clássico e não vão se tratar". A infectologista diz que a situação do retorno dessas doenças é preocupante.

A médica acrescenta que doenças como rubéola, poliomielite e difteria estão entre as que podem retornar ao estado caso haja cobertura vacinal insuficiente. "As recomendações são a verificação da situação vacinal e checagem de doses. O diagnóstico precoce é muito importante. Além disso, para quem tem intenção de viajar para fora do estado, é importante tomar a vacina 15 dias antes, ainda que o destino não seja foco da doença".

A professora do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Élen Ferraz Téston explica que o tratamento para o sarampo é feito com base nos sinais dos sintomas. “Assim como na dengue, que não existe um remédio específico para isso, com o sarampo é a mesma coisa. Entã,o por exemplo, um sinal típico do sarampo é a febre, um mal-estar geral, as pintinhas vermelhas, e para tudo isso, não é um medicamento específico, é mais o controle de sinais dos sintomas mesmo”. 

Élen Téston explica que sarampo indica riscos para a saúde coletiva (Foto: Evelyn Mendonça)

Élen Ferraz explica que há irresponsabilidade da polulação em relação à imunização. “Eu atribuo a importância de conscientizar as pessoas da importância de verificar o estado vacinal. Porque essas vacinas são gratuitas, disponíveis para todo mundo. Às vezes a gente acaba negligenciando alguns cuidados com a gente mesmo, em relação a procura dessas vacinas”. A enfermeira explica que a vacina do sarampo é contraindicada para gestantes, e orienta que mulheres tomem a vacina 30 dias antes do início da gestação, caso planejem engravidar. “A vacina é contraindicada durante a gestação porque sua composição é por um vírus vivo, que, embora esteja enfraquecido, é ativo”.

A professora afirma que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a Clínica Escola Integrada da UFMS disponibilizam doses gratuitas para vacinação.“Toda pessoa até 29 anos deve ter duas doses da vacina tríplice viral, que protege contra caxumba, sarampo e rubéola. Acima de 29 anos até 49 anos, uma dose é o suficiente e considerado vacinado. Então o ideal é que todos dêem uma olhada na carteira de vacina, ou procurem a sala de vacina mais próxima para avaliarmos seu estado vacinal. Caso a pessoa tenha perdido ou mudado de estado e não tem acesso a essa comprovação vacinal, a gente está fazendo a vacina normalmente”.

De acordo com Boletim do Ministério da Saúde, o estado de São Paulo é o que possui maior número de notificações de sarampo confirmadas e representa 97,45% entre o total de confirmações. A primeira etapa da Campanha de Vacinação contra a doença, organizada pelo Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais, acontece no dia sete de outubro. A primeira etapa terá como público alvo crianças de seis meses a menores de cinco anos de idade. Em novembro, a segunda etapa da campanha é destinada para jovens da faixa etária de 20 a 29 anos, grupo que representa segunda posição entre o maior número de casos.

Compartilhe:

Deixe seu Comentário

Leia Também