O trânsito informal de animais em região de fronteira seca com países vizinhos e a falta de fiscalização impedem a suspensão da vacina contra a febre aftosa em Mato Grosso do Sul. A doença ocasiona prejuízos econômicos ao produtor, às indústrias e ao comércio local. A Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal criou comitê gestor com objetivo de melhorar as condições sanitárias e de fiscalização para evitar reintrodução da doença em Mato Grosso do Sul. De acordo com cronograma da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), a vacinação será suspensa no estado até 2021.

Para Juliana Galhardo, as fronteiras dificultam
retirada da vacina (Foto: Lethycia Anjos)
A professora do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Juliana Galhardo explica que a febre aftosa é uma doença causada por um vírus que acomete principalmente bovinos e bubalinos e causa o aparecimento de aftas na cavidade oral, nos tetos e nas coroas dos cascos dos animais. “Justamente por esses sintomas, os animais vão ter dificuldades para andar e para comer. Nas fêmeas, a capacidade de produção leiteira fica comprometida”.
A Iagro deve ser notificada quando há suspeita da doença para que a propriedade rural seja fechada e os animais isolados. A médica veterinária afirma que o Mapa também deve ser notificado, na impossibilidade de contato com a Iagro. “O Brasil assinou um acordo internacional com a Organização Mundial de Saúde Animal, então não é nem permitido o tratamento. Uma vez confirmado que é febre aftosa, esses animais todos devem ser abatidos”.
Juliana Galhardo ressalta que a doença provoca perdas financeiras ao produtor rural, as indústrias, o comércio local e de exportação. A exportação in natura dos produtos de origem animal, sejam congelados ou resfriados, fica prejudicada. “Um dos micro-organismos que podem permanecer em carne in natura é o vírus da febre aftosa, então países que já são livres desse vírus não compram justamente por causa do risco de introdução”.
O diretor-presidente da Iagro, Luciano Chiochetta explica que o último surto de febre aftosa no Brasil ocorreu em Mato Grosso do Sul, em 2006, com 34 focos da doença registrados no sul do estado, região de fronteira com o Paraguai. “Na época o primeiro impacto econômico foi o fechamento das fronteiras. Tivemos o bloqueio do estado todo para poder comercializar animais e produtos de origem animal para qualquer parte do país ou para os mercados externos. O prejuízo econômico foi direto para o produtor e indireto para quem transporta, para as indústrias e para o comércio local”.
Chiochetta afirma que os pecuaristas do estado temem a ocorrência da febre aftosa devido às fronteiras secas com os países vizinhos. Os principais motivos para a reintrodução da doença são a dificuldade e controle da fiscalização, e a facilidade para o trânsito informal de animais nas regiões de fronteiras. A suinocultura e a agricultura também são afetadas, além dos impactos na pecuária de corte e leiteira.
A retirada da vacinação contra a febre aftosa está prevista para 2021, conforme cronograma elaborado pelo Mapa, e o reconhecimento da OIE para 2023. O processo para a retirada da vacina nos estados foi organizado em cinco etapas e inicia em 2019. Mato Grosso do Sul está no último grupo, com Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.