Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) constataram que variantes denominadas P1 e P2 estão presentes em 91% das amostras de SARS-CoV-2 analisadas em Mato Grosso do Sul. O estudo “Avaliação sistemática integrada da Covid-19 em Mato Grosso do Sul: aspectos moleculares, epidemiológicos, clínicos, imunológicos e de vigilância" realizado por Aline Pedroso Lorens, Ana Rita Coimbra Motta de Castro, Gislene Garcia de Castro Lichs, James Venturini, Gislene Lichs, Mariana Castilho Sousa Umaki Zardin, Rodrigo Pires Dellacqua e Wellington Santos Fava também concluiu que 79% das pessoas analisadas têm entre 29 e 59 anos. O professor de Pesquisa Clínica e Imunológica do curso de Medicina da UFMS, James Venturini defende que é necessário uma maior análise para entender a taxa de transmissibilidade no grupo.
De acordo com o professor Venturini é necessário que mais estudos sejam realizados para comprovar se a nova variante atinge com mais frequência os mais jovens. Segundo ele, a P1 veio no mesmo momento em que a segunda onda, responsável por aumentar o número de casos rapidamente. “O que a gente sabe sobre a variante P1 é que ela é muito mais transmissível do que as outras variantes. Então, se você tem um vírus que é muito transmissível, possivelmente os mais infectados são os que estão mais expostos, considerando que a população mais velha já está mais vacinada, estão se preservando mais, e no outro lado temos os jovens que não se vacinaram e estão saindo mais, indo para bares e em lugares com aglomeração.”
O secretário de Saúde de Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende anunciou no dia três de março deste ano o primeiro caso de infecção da variante P1 em Mato Grosso do Sul. Um homem de 37 anos, morador de Corumbá, a 425 km de Campo Grande, apresentou sintomas no dia dois de janeiro. De acordo com Resende, o homem contraiu a Covid-19 em uma viagem que fez à Manaus (AM), local em que foram registrados os primeiros dados da cepa.
Conforme o professor Venturini, o que tem sido observado é que as pessoas infectadas evoluem de maneira rápida para a forma mais grave da doença. “Para ter uma ideia, o tempo médio das outras variantes é de cinco a 14 dias. Com a P1 se observa dois, três, quatro dias no máximo para o aparecimento dos sinais e sintomas característico de qualquer síndrome gripal. Em relação aos sintomas respiratórios, também têm observado a internação mais precoce, como no sétimo, oitavo dia, o que não era visto antes dessas novas variantes.”
O infectologista do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS), Rodrigo Nascimento Coelho afirma que antes o vírus atingia aqueles que tinham maior vulnerabilidade, como os idosos. Ele ressalta que as principais características da P1 são a transmissibilidade e o agravamento na situação clínica dos mais jovens.“O vírus pega em qualquer um, de crianças a adultos, e conforme vai subindo a idade, conforme vão aparecendo as comorbidades, você vai vendo as formas mais graves. O vírus precisa se perpetuar, e para ele se perpetuar vai adquirindo mecanismos de defesa, e um desses mecanismos de defesa é a mutação. Ele se transforma para poder burlar os mecanismos imunológicos dos seus hospedeiros. A infectividade é igual à anterior, pega em todo mundo, só que a anterior tinha mais casos assintomáticos do que essa. Hoje os jovens estão apresentando casos mais graves. Lá no início era só as pessoas idosas mesmo que ficavam graves, hoje, não.”
O estudo
O estudo teve como objetivo encontrar as novas variantes presentes em Mato Grosso do Sul. Para a professora do Instituto de Biociências da UFMS, Aline Pedroso Lorenz os resultados da pesquisa surpreenderam a equipe porque as variantes P1 e P2 foram encontradas na maioria das amostras analisadas. “Algumas das mutações a gente já conhece o impacto funcional na estrutura do vírus, as outras a gente não conhece ainda. O que a gente observou foi uma mudança temporal na presença das variantes aqui no estado, com a P1 se tornando predominante a partir de fevereiro, como aconteceu em outros lugares.”
Segundo a professora de Imunologia Clínica da Faculdade de Ciências, Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição (FACFAN) da UFMS e pesquisadora de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Mato Grosso do Sul, Ana Rita Coimbra Motta de Castro o mais importante é a contribuição da academia e da pesquisa científica em saber sobre as novas doenças e as variantes da Covid-19. “A gente está conseguindo monitorar o que está entrando no nosso estado quase em tempo real, em uma semana, no máximo 15 dias a gente consegue dar a devolutiva desse sequenciamento. Tudo isso, está acontecendo de uma forma rápida, o que impacta diretamente na saúde pública.”
De acordo com Ana Castro, o que deve ser feito a partir de agora é manter os cuidados, como uso de máscaras, distanciamento e isolamento social. “Os cuidados devem continuar, mesmo as pessoas que já tomaram a vacina ou, até mesmo, já se infectaram, pois existem casos, raros, de reinfecção após vacina, ou após uma infecção natural.”