SAÚDE

Variantes da Covid-19 estão presentes em 91% de casos analisados por estudo em Mato Grosso do Sul

Estudo "Avaliação sistemática integrada da Covid-19 em Mato Grosso do Sul: aspectos moleculares, epidemiológicos, clínicos, imunológicos e de vigilância" analisou 37 amostras de Covid-19

Alex Nantes, Isabela Assoni e Vinicius Reis 1/05/2021 - 13h48
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Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) constataram que variantes denominadas P1 e P2 estão presentes em 91% das amostras de SARS-CoV-2 analisadas em Mato Grosso do Sul. O estudo “Avaliação sistemática integrada da Covid-19 em Mato Grosso do Sul: aspectos moleculares, epidemiológicos, clínicos, imunológicos e de vigilância" realizado por Aline Pedroso Lorens, Ana Rita Coimbra Motta de Castro, Gislene Garcia de Castro Lichs, James Venturini, Gislene Lichs, Mariana Castilho Sousa Umaki Zardin, Rodrigo Pires Dellacqua e Wellington Santos Fava também concluiu que 79% das pessoas analisadas têm entre 29 e 59 anos. O professor de Pesquisa Clínica e Imunológica do curso de Medicina da UFMS, James Venturini defende que é necessário uma maior análise para entender a taxa de transmissibilidade no grupo.

De acordo com o professor Venturini é necessário que mais estudos sejam realizados para comprovar se a nova variante atinge com mais frequência os mais jovens. Segundo ele, a P1 veio no mesmo momento em que a segunda onda, responsável por aumentar o número de casos rapidamente. “O que a gente sabe sobre a variante P1 é que ela é muito mais transmissível do que as outras variantes. Então, se você tem um vírus que é muito transmissível, possivelmente os mais infectados são os que estão mais expostos, considerando que a população mais velha já está mais vacinada, estão se preservando mais, e no outro lado temos os jovens que não se vacinaram e estão saindo mais, indo para bares e em lugares com aglomeração.”

O secretário de Saúde de Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende anunciou no dia três de março deste ano o primeiro caso de infecção da variante P1 em Mato Grosso do Sul. Um homem de 37 anos, morador de Corumbá, a 425 km de Campo Grande, apresentou sintomas no dia dois de janeiro. De acordo com Resende, o homem contraiu a Covid-19 em uma viagem que fez à Manaus (AM), local em que foram registrados os primeiros dados da cepa.

Conforme o professor Venturini, o que tem sido observado é que as pessoas infectadas evoluem de maneira rápida para a forma mais grave da doença. “Para ter uma ideia, o tempo médio das outras variantes é de cinco a 14 dias. Com a P1 se observa dois, três, quatro dias no máximo para o aparecimento dos sinais e sintomas característico de qualquer síndrome gripal. Em relação aos sintomas respiratórios, também têm observado a internação mais precoce, como no sétimo, oitavo dia, o que não era visto antes dessas novas variantes.”

O infectologista do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS), Rodrigo Nascimento Coelho afirma que antes o vírus atingia aqueles que tinham maior vulnerabilidade, como os idosos. Ele ressalta que as principais características da P1 são a transmissibilidade e o agravamento na situação clínica dos mais jovens.“O vírus pega em qualquer um, de crianças a adultos, e conforme vai subindo a idade, conforme vão aparecendo as comorbidades, você vai vendo as formas mais graves. O vírus precisa se perpetuar, e para ele se perpetuar vai adquirindo mecanismos de defesa, e um desses mecanismos de defesa é a mutação. Ele se transforma para poder burlar os mecanismos imunológicos dos seus hospedeiros. A infectividade é igual à anterior, pega em todo mundo, só que a anterior tinha mais casos assintomáticos do que essa. Hoje os jovens estão apresentando casos mais graves. Lá no início era só as pessoas idosas mesmo que ficavam graves, hoje, não.”

Primeira Notícia · O infectologista Rodrigo Nascimento Coelho afirma que vírus pode infectar pessoas em qualquer idade

O estudo

O estudo teve como objetivo encontrar as novas variantes presentes em Mato Grosso do Sul. Para a professora do Instituto de Biociências da UFMS, Aline Pedroso Lorenz os resultados da pesquisa surpreenderam a equipe porque as variantes P1 e P2 foram encontradas na maioria das amostras analisadas. “Algumas das mutações a gente já conhece o impacto funcional na estrutura do vírus, as outras a gente não conhece ainda. O que a gente observou foi uma mudança temporal na presença das variantes aqui no estado, com a P1 se tornando predominante a partir de fevereiro, como aconteceu em outros lugares.”

Segundo a professora de Imunologia Clínica da Faculdade de Ciências, Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição (FACFAN) da UFMS e pesquisadora de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Mato Grosso do Sul, Ana Rita Coimbra Motta de Castro o mais importante é a contribuição da academia e da pesquisa científica em saber sobre as novas doenças e as variantes da Covid-19. “A gente está conseguindo monitorar o que está entrando no nosso estado quase em tempo real, em uma semana, no máximo 15 dias a gente consegue dar a devolutiva desse sequenciamento. Tudo isso, está acontecendo de uma forma rápida, o que impacta diretamente na saúde pública.” 

De acordo com Ana Castro, o que deve ser feito a partir de agora é manter os cuidados, como uso de máscaras, distanciamento e isolamento social. “Os cuidados devem continuar, mesmo as pessoas que já tomaram a vacina ou, até mesmo, já se infectaram, pois existem casos, raros, de reinfecção após vacina, ou após uma infecção natural.”
 

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