SAÚDE PÚBLICA

Campo Grande registra média de 50 novos casos de HIV por mês

Capital apresenta cerca de dois casos diários de HIV de acordo com mutirão de testes rápidos realizados no Hospital-Dia e Cedip

Camila Silveira, Gabriel Sato e Gerson Wassouf18/08/2019 - 18h24
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O Hospital-Dia Professora Esterina Corsini e o Centro de Doenças Infecto-Parasitárias (Cedip) registraram 50 novos casos de Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) por mês em 2019. Foram notificados 20 novos casos no Hospital e 30 no Cedip por meio de testes rápidos realizados em julho. Campanhas sobre HIV mostram que o indivíduo contaminado mantém rotina estável a partir do tratamento com Medicamentos Antirretrovirais (ARV).

Segundo dados do Boletim Epidemiológico, de 2014 a 2018 mais de 2.400 casos de HIV foram notificados em Mato Grosso do Sul pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Para a enfermeira do Hospital-Dia, Adriana Negri estes números representam a banalização do tratamento, principalmente pelos jovens. “Na década de 1980, a taxa de mortalidade era mais elevada, o risco era muito mais evidente, principalmente pela morte de grandes personalidades, como Cazuza, Renato Russo e Fred Mercury, e pela fisionomia debilitada do portador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), então a prevenção por parte da população era maior".

O indivíduo infectado pelo HIV é portador da Aids?

Adriana Negri relata a falta de perspectiva de melhora no número de casos.  (Foto: Gabriel Sato)

A maioria dos indivíduos com o Vírus da Imunodeficiência Humana  não desenvolveram a doença. No Brasil, o tratamento com antirretrovirais é universal e acessível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Para o médico infectologista e chefe do setor de Infectologia do Hospital Dia, Minoru German muitas pessoas ainda desconhecem a diferença entre Aids e HIV por falta de informação. “A falta de conhecimento da população sobre o assunto se deve ao fato de a Aids ainda ser considerada um tabu, embora exista uma ampla divulgação sobre formas de transmissão, diagnóstico e tratamento”. 

Prevenção e Tratamento HIV/Aids

De acordo com as estatísticas do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), em 2018 havia 37,9 milhões de portadores do vírus no mundo, 36,2 milhões eram adultos e cerca de 8,1 milhões sem o conhecimento de que estavam infectadas. O uso de preservativos, modo de prevenção mais popular, é uma das alternativas oferecidas de forma gratuita pelo SUS por sua eficácia. Segundo a enfermeira Adriana Negri do Hospital - Dia, o método possui a taxa de 90 - 95% de efetividade na prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e gravidez. Outros métodos começam a ser explorados, a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (Pep) são novos meios de tratamento.  

Segundo o médico infectologista Minoru German, a PrEP é um método de prevenção ao HIV e consiste no uso diário de uma pílula que impede o vírus causador da Aids infectar o organismo antes do contato. O procedimento é indicado para pessoas sem manifestação do HIV e para o individuo com maior chance de entrar em contato com a endemia. A Pep é a prevenção à infecção e consiste no uso da medicação nas duas primeiras horas ou até três dias após qualquer situação de exposição ao HIV. Este método utiliza medicamentos antirretrovirais que dificultam a sobrevivência e multiplicação do vírus no organismo. O tratamento dura 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada pela equipe de saúde por 90 dias. Segundo dados da Unaids, 23,3 milhões de pessoas que viviam com HIV tinham acesso à medicação antirretroviral em 2018. De acordo com Adriana Negri, o aumento do número de indivíduos em terapia representa o acréscimo de pessoas infectadas.

Hospital-Dia expõe folhetos explicativos sobre doenças (Foto: Gabriel Sato)

A enfermeira explica que o desenvolvimento e a evolução dos medicamentos para tratar o HIV transformaram o que antes era uma infecção fatal em uma condição crônica controlável. O uso regular dos antirretrovirais garante o controle da doença e prevenção da Aids. A adesão à Terapia Antirretroviral (Tarv) traz benefícios individuais, como aumento da disposição, da energia, do apetite, ampliação da expectativa de vida e prevenção do desenvolvimento de doenças oportunistas

O Brasil distribui pelo Sus todas as medicações antirretrovirais de forma gratuita desde 1996 e a unidade garante tratamento para todas as pessoas que vivem com HIV, independente da carga viral, desde 2013.

Há várias medicações disponíveis e o procedimento é combinado de três remédios. Atualmente um único comprimido consiste na combinação de lamivudina, tenofovir e efavirenz. Esses medicamentos visam prioritariamente reduzir a carga viral do HIV no indivíduo soropositivo e por consequência aumentar o Grupamento de diferenciação 4 (CD4), que são células de defesa do organismo contra essa ameaça complementa Adriana Neri.

Dados do HIV/Aids

Conforme pesquisas da Unaids, são 74,9 milhões de pessoas infectadas pelo HIV desde o início de sua epidemia, identificada em 1981, e cerca de 32 milhões foram a óbito por doenças relacionadas a Aids. De acordo com o médico infectologista Minoru German, as doenças oportunistas são as principais causas de morte dos portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. "A Aids em si não causa mortes. O HIV ataca o sistema imunológico e deixa o paciente frágil, o que mata são as doenças oportunistas que o HIV positivo contrai".

Segundo dados da Unaids, a tuberculose é a principal causa de óbito entre as pessoas que contém o HIV. A doença é responsável por cerca de uma em cada três mortes relacionadas à Aids. Em 2017, 10 milhões de pessoas desenvolveram tuberculose e aproximadamente 9% são portadores de HIV.

O último Boletim  Epidemiológico do Ministério da Saúde mostra que de 2007 até junho de 2018, 247.795 casos de infecção pelo HIV no Brasil foram notificados pelo Sinan. Na região Sudeste 117.415 (47,4%) foram registrados, 50.890 (20,5%) na região Sul, 42.215 (17,0%) na região Nordeste, 19.781 (8,0%) na região Norte e 17.494 (7,1%) na região Centro-Oeste. As notificações são feitas após a catalogação dos diagnósticos dos pacientes por meio de testes rápidos.

O teste rápido possibilita o diagnóstico em 30 minutos e detecta anticorpos anti-HIV no sangue do paciente no momento da consulta. Isso permite que o médico aconselhe o indivíduo antes e depois do teste ser feito, fato que melhora a forma como a pessoa recebe a notícia e proporciona o acesso imediato a informações sobre o tratamento.

No Brasil, pode-se fazer exames laboratoriais ou testes rápidos de forma gratuita disponibilizados pelo SUS na rede pública e em Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). O diagnóstico é realizado por meio da coleta de sangue e pode ser feito de forma anônima. Desde fevereiro de 2014, o Ministério da Saúde autorizou a venda em farmácias de teste rápido produzido pela Fundação Oswaldo Cruz  (Fiocruz) para detectar o vírus. 

Pequeno furo no dedo é possível coletar o sangue necessário para a realização do teste (Foto: Gerson Wassouf)

Por meio da coleta sanguínea Roberta Almeida*, 22, descobriu ser portadora do vírus. O diagnóstico foi feito de forma tardia e depois de um ano os ARV tornaram-se parte de sua rotina. “Foi difícil no início, e após descobrir eu ainda demorei alguns dias para contar para minha família, eu não tive coragem. Contei primeiro para amigos mais próximos e chorei muito no início, porque além de ter que viver com a doença eu sabia que teria que viver com o preconceito ao meu redor”.  O medo do preconceito e discriminação de acordo com informações da Unaids, desencoraja pessoas que vivem com o HIV/Aids a revelar sua sorologia aos familiares e parceiros sexuais, e se torna um empecilho para sua capacidade e vontade de acessar e realizar o tratamento.

Ao descobrir a doença, Roberta Almeida iniciou os tratamentos com o uso regular dos ARV e sua carga viral atualmente está indetectável. Ela está com o vírus intransmissível e possui uma qualidade de vida próxima a de uma pessoa sem a endemia. “Eu acho que as pessoas perderam o medo da doença, eu pelo menos nunca tomei nenhum cuidado para não contrair o HIV. A minha preocupação era apenas com a gravidez, e como existem vários métodos para não se engravidar, como as pílulas anticoncepcionais, penso que as pessoas optam por não usar o preservativo, o que é um grande erro”.

Serviços e Atendimento

Campo Grande possui dois serviços de atenção especializada em HIV/Aids, o Hospital Dia Professora Esterina Corsini e o Centro de Doenças Infecto-Parasitárias (Cedip).

Hospital Dia:

Centro de Doenças Infecto-Parasitárias (Cedip):

*Nome fictício.

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