A estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e uma das organizadoras do ato contra o abaixo-assinado, Maria Eduarda Rodrigues defende políticas públicas mais solidárias, sem segregação e discriminação, que objetive oferecer condições às pessoas em situação de rua. “É uma grande política de higienização da cidade, principalmente do centro da cidade. A gente veio fazer esse contraponto, dizer que isso não é um problema de segurança pública, isso é um problema de saúde pública. As pessoas precisam das necessidades básicas, como comida, casa, trabalho, saúde e viemos para cá fazer uma ação contrária a essa ação convocada por estes órgãos públicos”.
O presidente do Conselho Comunitário de Segurança da Região Central de Campo Grande (CCS), Eliezer Carvalho afirma que o Conselho é um projeto a favor dos moradores de rua. Para ele, a internação compulsória deve ser oferecida apenas para alguns usuários de drogas. “Alguns que não têm recuperação, ficando na rua cada dia pior, que é uma arma contra eles mesmos, vítimas da sociedade e contra a sociedade”.
Carvalho ressalta que o CCS auxilia os moradores de rua e continuarão a ajudar com doação de agasalhos. “Com relação a alimentos nós não somos contra. Nós somos contra é pegar um prato e chamar todo mundo que está vivendo aqui e alimentar mais gente”.
A jornalista Ana Cláudia Salomão foi ao centro da cidade para acompanhar o ato e é contra a internação compulsória. “É a reedição do que a gente viu em São Paulo, do que o prefeito João Dória fez lá, que é uma política desumana, não resolve os problemas, ignora a dignidade da vida humana. Essas pessoas são atores sociais e, se elas estão nas ruas, é por problemas econômicos e sociais".
A coordenadora municipal de Políticas Públicas para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT), Cris Stefanny ressalva que faltam políticas públicas eficazes para atender essa população no município. Segundo ela é importante que haja conscientização sobre o tema, defende que o debate seja feito de forma clara e objetiva.
O membro do CCS, Márcio da Silva garante que a manifestação provoca mais debates e as autoridades terão que fazer algo. “Se vai tirar da rua e colocar numa clínica, numa casa ou algum lugar, o poder público tem que se manifestar, e a discussão está no ar, do jeito que está não dá pra ficar, alguma coisa tem que ser feita. Eu apoio muito essa discussão”.
A professora do curso de Psicologia da UFMS, Sandra Amorim explica que a internação compulsória é uma exceção, realizada somente em última circunstância. “Quando o sujeito chega em uma situação necessária de internação compulsória, significa que houve fracasso prévio dos cuidados com ele e isso também precisa ser avaliado”.
Segundo a psicóloga, para que a internação compulsória tenha bons resultados, é necessário que esteja de acordo com a legislação e que seja realizada somente para atendimento a problemas de saúde. Ela afirma que, no breve período de internação, o paciente tem de ser convencido a se internar voluntariamente. “O que caracteriza um indivíduo que está nas últimas circunstâncias de internação compulsória é colocar a própria vida ou a vida de alguém em risco. É um problema de saúde que tem que ser avaliado por profissionais de saúde”.