TECNOLOGIA

Mulheres criam grupo para combater a desigualdade de gênero na tecnologia

Quantidade de mulheres no curso de Ciência da Computação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul reduziu 18,75% entre 1987 e 2018

Julisandy Ferreira, Thalia Zortéa e Thalya Godoy21/08/2018 - 11h05
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Grupo de mulheres da Faculdade de Computação (Facom) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) cria roda de conversa para debater as relações femininas na área de tecnologia e inovação. De acordo com a professora e representante institucional da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) na universidade, Luciana Montera entre 2009 e 2018, cerca de 13,5% dos ingressantes dos cursos da instituição são meninas. Os encontros são realizados mensalmente desde maio de 2018 e objetiva estabelecer um canal de comunicação entre acadêmicas e docentes. 

Segundo a professora do curso de Ciência da Computação da UFMS, Liana Duenha as mulheres sentem-se inadaptadas em uma área que predomina a presença masculina. “A ideia de um projeto como esse, que integra meninas, é ajudá-las a enfrentar barreiras que são comuns pela profissão ser mais difundida entre os homens ou mais procurada pelos meninos”. A iniciativa do grupo surgiu durante encontros casuais das docentes, que perceberam a necessidade de disponibilizar meios, como reuniões mensais e o grupo no aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp para que as alunas se mantivessem nos cursos e tornar o ambiente mais agradável. 

A representante institucional da SBC na Facom, Luciana Montera afirma que a desigualdade de gênero na área é uma questão cultural e histórica. “Talvez em casa, o estímulo dos cursos de humanas e saúde aconteçam mais para as meninas. É o pior cenário que a gente tem, é uma coisa de casa”. A professora de Engenharia da Computação da UFMS, Daniela Catelan também afirma que o preconceito das famílias e as propagandas de videogames voltadas para o público masculino são fatores que influenciam a redução do número de mulheres na área de tecnologia. 

 


Elaborado por: Thalia Zortéa

 

Em 1987, a primeira turma de Ciência da Computação da UFMS contou com 12 mulheres entre 40 ingressantes, o que corresponde a 30% do total, de acordo com informações fornecidas pela professora Luciana Montera. Em 2018, dos 80 matriculados no curso, nove são do sexo feminino. No corpo docente da Facom, dos 60 professores cadastrados no sistema, 17 são mulheres.

De acordo com a assessora de imprensa da empresa de desenvolvimento de softwares em Campo Grande - MS, Digix, Karolina Dallegrave a organização possui 797 colaboradores, 463 mulheres e 364 homens.  Elas atuam principalmente nas áreas administrativas, recursos humanos, finanças, marketing e setor jurídico, enquanto a proporção é de 4,44 homens para cada mulher desenvolvedora.

 

 

As dificuldades para as mulheres na área da tecnologia começam na graduação. A acadêmica do curso de Engenharia da Computação da UFMS e participante do grupo Meninas da TI, Amanda Helena Pereira Delgado afirma que ser mulher em uma sala com a maior parte composta por homens é difícil. “A minha turma começou em 2016 e tinha cinco meninas entre 60 alunos. Ou seja, 55 meninos. Hoje, no sexto semestre, não vejo mais nenhuma garota que começou comigo. Muito raro e, além de não ter, quando tem, com o decorrer dos anos elas desistem”.

 

 

A aluna do curso de Ciência da Computação da UFMS, Bianca Namie Sakiyama acredita que o estereótipo criado em torno da mulher na tecnologia funciona como uma barreira para o ingresso delas no ramo e a solução perpassa o campo da representatividade. “Qualquer mulher que esteja na área de TI é uma inspiração para meninas mais jovens entrarem também, porque se você não se vê representada, você não vai atrás dela. Qualquer mulher que esteja visível é uma grande inspiração para as garotas seguirem carreira”.

 
 

Daniela Catelan afirma que para mudar o cenário masculinizado é necessário mais divulgação sobre o alcance de espaço e voz pelas mulheres nos cursos de computação. “Hoje em dia, existem grandes empresas lideradas por mulheres e é necessário mostrar que, em sala de aula, elas conseguem espaço. O que não pode é desistir no primeiro obstáculo”. Outra alternativa apontada pela professora é a realização de campanhas nas escolas. “Ir no ensino médio onde elas vão decidir é essencial. A criação de feiras de profissão mostram para as meninas que elas também podem entrar na área”.

O grupo de robótica Marias do Curso Técnico Integrado em Informática do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) é um exemplo de representatividade. O projeto participante da fase regional da Olímpiada Brasileira de Robótica em 2016 foi o único formado exclusivamente por mulheres e gerou o trabalho de conclusão de curso “Developer Girls”. As estudantes Laís Hara e Geovanna da Silva desenvolveram uma página na Internet para divulgar a história e os grandes feitos femininos, com o objetivo de proporcionar inspirações para mais mulheres conquistarem espaço no campo da tecnologia.

 
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